Eles querem pôr cabras a limpar florestas para prevenir fogos
Projecto de Filipe Gandra e Fábio Jácome, do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, tem uma campanha de "crowdfunding" até 19 de Outubro
Quintal Holístico é o nome do projecto desenvolvido por dois alunos da Escola Superior Agrária (ESA) de Ponte de Lima que querem pôr cabras a limpar florestas para prevenir e reduzir o risco de incêndio. "A ideia surgiu há mais de um ano devido ao gosto que tenho por caprinos e pela confusão que me fazia a quantidade de fogos florestais que acontecem todos anos. Achei que podia dar o meu contributo para reduzir esse flagelo", explicou hoje à Lusa um dos autores do projecto, Filipe Gandra.
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Quintal Holístico é o nome do projecto desenvolvido por dois alunos da Escola Superior Agrária (ESA) de Ponte de Lima que querem pôr cabras a limpar florestas para prevenir e reduzir o risco de incêndio. "A ideia surgiu há mais de um ano devido ao gosto que tenho por caprinos e pela confusão que me fazia a quantidade de fogos florestais que acontecem todos anos. Achei que podia dar o meu contributo para reduzir esse flagelo", explicou hoje à Lusa um dos autores do projecto, Filipe Gandra.
O jovem de 26 anos, natural de Barcelos, adiantou que a "ideia" começou a ganhar forma quando o amigo e colega Fábio Jácome, 29 anos, de Viana do Castelo, decidiu "associar-se" ao projecto, na vertente da gestão da floresta e da paisagem. Filipe Gandra, a frequentar o mestrado em Agricultura Biológica da ESA do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC), e Fábio Jácome, engenheiro do ambiente pela mesma escola, recorreram ao "crowdfunding" para garantir os seis mil euros necessários ao arranque do projecto.
As primeiras cabras corta-mato deverão estar no terreno dentro de dois meses, em Vila Cova, uma aldeia de Barcelos. Para os autores do Quintal Holístico, "o facto de os animais terem sido progressivamente retirados dos seus ecossistemas, nomeadamente das florestas, contribuiu para o crescimento descontrolado dos materiais vegetais combustíveis — designados normalmente por matos —, que nos períodos mais secos aumentam a sua matéria seca, tornando-se materiais facilmente inflamáveis".
"Todos os anos, os fogos destroem milhares de hectares de floresta. Existe pouca gestão dos terrenos, nomeadamente dos matos que crescem sistematicamente. Como são materiais combustíveis necessitam de controlo, e com o pastoreio dos caprinos consegue-se uma redução dos materiais secos combustíveis", frisou. Explicou ainda que a escolha dos caprinos fica a dever-se "ao comportamento alimentar" desta espécie, "ajustado ao objectivo, uma vez que seleccionam e procuram partes específicas e mais nutritivas das plantas, não as destruindo completamente". Por outro lado, "a sua anatomia permite-lhes adaptarem-se às condições íngremes das florestas, conseguindo facilmente subir, equilibrarem-se e alimentarem-se em zonas de declive acentuado".
No entanto, adiantou que "o objectivo passa por utilizar outros animais como as ovelhas, cavalos, e vacas". "Cada espécie tem uma função dentro do sistema agroflorestal. O nosso papel é gerir a função desses animais para que eles nunca cheguem a destruir o coberto florestal", disse.
O projecto de Filipe e Fábio "já despertou a atenção" de associações ambientalistas como a Quercus, a Green Savers, a Agrobio e a Associação dos Agricultores do Porto. "Se resultar, o objectivo é replicá-lo noutras zonas do país até porque já fomos contactados por vários proprietários interessados na ideia", adiantou. O Quintal Holístico tem uma campanha na plataforma portuguesa de "crowdfunding" PPL para garantir o financiamento dos seis mil euros, online até 19 de Outubro. O valor destina-se à aquisição de cercas eléctricas, reconstrução de um edifício para alojamento dos animais e aquisição de cerca de 100 a 150 cabras.