Qual será a ameaça maior que uma invasão de marcianos?
Que raio está a acontecer no país para Costa admitir um Governo com a esquerda radical? Só pode ser algo mais grave que uma invasão de marcianos…
Durante a campanha eleitoral, António Costa afirmou que apenas contribuiria para uma solução governativa com o Partido Social Democrata (PSD), em caso de “ameaça de invasão de marcianos”.
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Durante a campanha eleitoral, António Costa afirmou que apenas contribuiria para uma solução governativa com o Partido Social Democrata (PSD), em caso de “ameaça de invasão de marcianos”.
Nos últimos dias, temos ouvido a teoria que 50% do eleitorado votou numa união do Partido Socialista (PS), Bloco de Esquerda (BE) e Partido Comunista Português (PCP). Recordo ouvir os dirigentes destes partidos dizerem que os números não são o mais importante e que as folhas de Excel não servem para nada, o importante são as pessoas. E respeitar as escolhas das pessoas, não é importante?
É curioso ver, agora, estes mesmos dirigentes defenderem a sua legitimidade governativa através de um somatório de percentagem de votos em três partidos que defenderam, em campanha eleitoral, políticas completamente antagónicas. É verdade que os programas dos partidos políticos são pouco lidos mas, convém não esquecer a visão do BE e PCP para esta legislatura.
Os comunistas proclamaram que “a evolução da situação do País confirma os alertas e previsões do PCP sobre as graves consequências (…) do processo de integração capitalista da União Europeia e adesão ao Euro na vida nacional”. Para o PCP é fundamental a “efectiva subordinação do poder económico ao poder político”, porque essa coisa da iniciativa privada é diabólica.
Já o BE sublinhou que “só é possível inverter a política de austeridade rompendo com a lógica dos programas de ajustamento e do pacto de estabilidade” e, mais à frente no seu programa, defende uma solução à moda do Syriza, apostando tudo na “desobediência e não pagamento da dívida externa”. Já sobre o sistema bancário, defende a sua nacionalização – “uma política de controlo público da propriedade bancária”.
Na verdade, nem seria preciso ler os respetivos manifestos eleitorais, já que ouvimos sempre Catarina e Jerónimo defenderem estes radicalismos. António Costa também sabia disso e, por isso, nunca admitiu uma aliança com estes dois partidos durante a campanha eleitoral. Portanto, neste momento, há algumas questões que se impõem: Será que os 32% dos portugueses que votaram no PS teriam votado no partido, sabendo que Costa ia fazer um governo com a esquerda radical?
E já agora, os 10% e os 8% que votaram no Bloco e no PCP, respectivamente, estão satisfeitos com a aliança com o PS? Afinal estes eleitores não votaram na esquerda radical, porque defendiam que a dívida externa não é para ser paga, que devemos abandonar a NATO e a União Europeia e voltar à moeda antiga? É que o PS, felizmente, não partilha destes devaneios.
Fica claro que aquilo que separa a essência do PS do Bloco de Esquerda e do PCP é maior do que aquilo que separa o PS do PSD. Assim sendo, que raio está a acontecer no país para Costa admitir um Governo com a esquerda radical? Só pode ser algo mais grave que uma invasão de marcianos…
Sabemos que António Costa foi capaz de fazer a cama a António José Seguro e de tirar o tapete a Sampaio da Nóvoa. Sabemos, também, que é capaz de fazer coligações pouco convencionais, como fez com José Manuel Coelho nas eleições para o Governo Regional da Madeira. Sinceramente, já não me surpreende ver, agora, Costa trair o legado do seu partido.
O que verdadeiramente me surpreende é o Partido Socialista não fazer nada e deixar que alguém, que apenas está a jogar a sua sobrevivência política, destrua o partido e ponha em causa a estabilidade e o futuro do país.