Volkswagen corta mil milhões de euros por ano no investimento
Escândalo de emissões obriga a rever investimentos. Grupo de trabalho português apresenta conclusões até 2 de Novembro
Num comunicado publicado nesta terça-feira, o grupo responsável por marcas como Volkswagen, Skoda, Audi e Seat anunciou a tomada de “decisões estratégicas”, que incluem o corte de mil milhões de euros por ano no investimento previsto.
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Num comunicado publicado nesta terça-feira, o grupo responsável por marcas como Volkswagen, Skoda, Audi e Seat anunciou a tomada de “decisões estratégicas”, que incluem o corte de mil milhões de euros por ano no investimento previsto.
Já na semana passada, num encontro com os trabalhadores, o novo presidente do grupo, Matthias Müller, tinha referido que “tudo o que não for absolutamente necessário" seria "cancelado ou adiado”.
Em Novembro de 2014, o então presidente executivo da Volkswagen, Martin Winterkorn, que entretanto foi forçado a abandonar o cargo, anunciava um investimento de 86 mil milhões de euros até 2019 para tornar a companhia alemã no “maior grupo automóvel, tanto em termos ecológicos como em termos económicos”.
Em Março do mesmo ano, a fábrica Autoeuropa (que produz em Portugal os modelos Scirocco e Sharan da Volkswagen e o Seat Alhambra) dava conta da intenção de investir 677 milhões de euros ao longo de cinco anos, estando prevista a criação de 500 postos de trabalho no mesmo período. O valor então anunciado pesa menos de 0,8% no investimento total da Volkswagen. Na passada quinta-feira, o ministro da Economia, Pires de Lima, veio realçar que o Governo “não tem nenhum” motivo para duvidar, ou para “estar ansioso”, sobre o investimento da Volkswagen na Autoeuropa.
No comunicado, o presidente executivo da Volkswagen, Herbert Diess, refere também a aceleração do plano de eficiência da marca, bem como a “reorientação da estratégia diesel” e o desenvolvimento de uma “arquitectura eléctrica padronizada para carros de passageiros e veículos comerciais ligeiros”.
Ou seja, as ”decisões estratégicas” passam por uma maior aposta nos veículos eléctricos e por uma mudança nos motores a diesel, onde estava instalado o software de manipulação dos testes de emissões. Nestes motores, a Volkswagen decidiu instalar “assim que possível” tecnologias como SCR e AdBlue, que permitem eliminar parte das partículas poluentes.
Ainda não é conhecido o impacto financeiro do escândalo no grupo. As vendas de carros no mês de Setembro ainda não foram divulgadas e, só nos Estados Unidos, a multa pode chegar ais 18 mil milhões de dólares, mas o valor final ainda não foi calculado.
Desde que a existência de um software de manipulação das emissões instalado nos motores a diesel da Volkswagen veio a público, o grupo já veio anunciar que estava a reunir provisões para lidar com os eventuais custos do processo.
Relatório português publicado a 2 de Novembro
Em Portugal, o grupo de trabalho criado pelo Governo para monitorizar a situação da Volkswagen vai ter que apresentar um relatório até ao dia 2 de Novembro.
Segundo um despacho governamental publicado esta-terça-feira em Diário da República, o grupo liderado por Pires de Lima terá de “apresentar um relatório final que cumpra os objectivos subjacentes à sua constituição, no prazo de 30 dias contados a partir da sua constituição".
Este organismo - composto por vários secretários de Estado e entidades públicas como o Instituto Português da Qualidade ou a Agência Portuguesa de Ambiente - foi criado a 2 de Outubro para avaliar “os impactos da crise da Volkswagen, designadamente as implicações ao nível económico, ambiental, fiscal, e da protecção e salvaguarda dos direitos dos consumidores”.Depois da primeira reunião, o ministro da Economia avançou que pode haver incumprimentos ou fraude fiscal no escândalo dos carros do Grupo Volkswagen e, por isso, o Governo pretende ser ressarcido pelo impacto no ambiente de emissões que estejam fora das normas legais.
No final de Setembro a Volkswagen reconheceu a manipulação de testes de emissão de gases em 11 milhões de viaturas em todo o mundo. Estima-se que 117 mil veículos circulem ou estejam em Portugal.