Indústria reduz pessoal e não consegue compensar as perdas provocadas pela taxa ambiental
Redução de vendas chega aos 20% em algumas empresas. Outras perderam o seu maior negócio e rescindiram contratos de trabalho. No Pingo Doce, a venda de sacos caiu para metade.
Pelas contas da APIP, seriam produzidos por ano 20 mil toneladas de sacos de plástico de alças e uma espessura igual ou inferior a 0,05 milímetros. Com a entrada em vigor da taxa de dez cêntimos, paga pelo consumidor desde Fevereiro, ainda não há dados sobre o número de sacos deste género que são, agora, produzidos. Contudo, é certo que a “redução é substancial”. Quanto às novas alternativas, de maior qualidade e espessura e que estão a ser vendidas pelas cadeias de distribuição por cerca de dez cêntimos, “esperavam-se grandes encomendas mas não é isso que está a acontecer”, conta Isabel Ferreira da Costa.
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Pelas contas da APIP, seriam produzidos por ano 20 mil toneladas de sacos de plástico de alças e uma espessura igual ou inferior a 0,05 milímetros. Com a entrada em vigor da taxa de dez cêntimos, paga pelo consumidor desde Fevereiro, ainda não há dados sobre o número de sacos deste género que são, agora, produzidos. Contudo, é certo que a “redução é substancial”. Quanto às novas alternativas, de maior qualidade e espessura e que estão a ser vendidas pelas cadeias de distribuição por cerca de dez cêntimos, “esperavam-se grandes encomendas mas não é isso que está a acontecer”, conta Isabel Ferreira da Costa.
Os impactos desta medida da fiscalidade verde traduziram-se em redução de vendas (em alguns casos de 20 a 30% segundo a APIP), reestruturação do negócio e contratos de trabalho que não foram renovados. Na Sacos 88, os sacos de plástico leves valiam 40% do negócio e, como diz Amardo Reis, director-geral, foi preciso encontrar alternativas em tempo recorde, “andar para a frente e ter sangue frio”. “Mais do que a lei, o mais triste nesta história foi não darem tempo às empresas nem sequer para respirar. Se quisermos mandar vir uma máquina para produzir um produto novo demora seis a oito meses e a lei foi aprovada em final de Dezembro para entrar em vigor em Fevereiro”, lamenta.
Armando Reis admite que não renovou alguns contratos e teve de mudar trabalhadores noutras áreas “para não despedir”, adaptar as máquinas que tinha e “gastar muitos milhares de euros”. Mas acredita que, com o passar do tempo, o mercado vai perceber que gastar dez cêntimos num saco de melhor qualidade até compensa. “Todos precisamos de um saco para colocar o lixo. Quando as pessoas perceberem que este novo saco de asas com mais espessura pode ser usado em várias compras e pode, no final, ser utilizado como saco de lixo, já não vão achar que estão a deitar dinheiro à rua”, argumenta. Atingir o mesmo número de vendas que tinha é um cenário improvável, mas Armando Reis está “cansado de falar sobre o assunto”. Já só quer “olhar para a frente”.
Na Plasgal o cenário é o mesmo. Paulo Almeida, director-geral, revela que não foram renovados 20 contratos de trabalho e, se antes as encomendas da grande distribuição pesavam 65% do negócio, agora pesam menos de 15%. “Éramos um dos principais players nessa operação [dos sacos de plástico leves] mas tivemos de realocar equipamentos e recursos para outros produtos, mais técnicos, como sacos de transporte para valores”, exemplifica.
A Plasgal está longe de compensar as perdas provocadas pela taxa ambiental e só no início do próximo ano terá capacidade de produção para fabricar mais produtos alternativos. Paulo Almeida também confirma “plenamente” que não é à indústria nacional que estão a chegar as encomendas de sacos do lixo. Até porque o produto é completamente diferente. “Estou alinhado para fabricar para a área alimentar e ter a indústria contaminada com um plástico desse género é muito complicado”, sustenta. Cada máquina tem uma função e “não há varinhas mágicas para produzir vários produtos numa só”, continua, acrescentando que, neste momento, tem 60 a 70% dos equipamentos parados.
Há ainda outras consequências da nova lei. “As seguradoras de crédito, perante esta legislação, aumentam o risco e diminuem o valor a segurar ao cliente. Levamos com mais um aperto. Os prazos de pagamento são, de repente, esmagados.” Isto num contexto em que é preciso investir para mudar o negócio.
Nas grandes cadeias de hiper e supermercados, os sacos de plásticos leves deixaram de estar à disposição de um dia para o outro. Ana Isabel Trigo de Morais, directora-geral da Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED) diz que os portugueses se adaptaram rapidamente à mudança, passando a reutilizar e a usar outras opções em ráfia ou pano, por exemplo. Não há dados sobre o número de sacos actualmente vendidos, mas no caso do Pingo Doce, uma das maiores cadeias do sector, venderam-se “sensivelmente metade”, face ao ano anterior, diz fonte oficial da empresa, do grupo Jerónimo Martins.
“O que temos verificado nas nossas lojas, e os números confirmam, é que a maioria dos clientes tem optado mais pela reutilização, trazendo de casa os sacos de que necessita para o transporte das suas compras”, adianta. O Pingo Doce, que já cobrava dois cêntimos pelos sacos desde 2007, diz que há um segmento de clientes “mais conservadores que continua a procurar os de plástico (de gramagem superior e, por isso, mais resistentes)”. Mas a maioria dos consumidores prefere a versão em papel. “São os que registam maior adesão”, diz a mesma fonte. Ao mesmo tempo, as vendas de sacos de ráfia aumentaram a dois dígitos desde que a lei entrou em vigor.
Contactado, o Continente (do grupo Sonae, o mesmo do PÚBLICO) diz sem adiantar números que a nova taxa “contribuiu para sensibilizar os consumidores portugueses para reutilizarem os sacos de plástico, o que se reflecte nas vendas dos sacos”.