“Israel preferiu a ocupação à paz”, diz Barghouti da prisão

A figura unificadora dos palestinianos escreveu da prisão para acusar a comunidade internacional de nada fazer para proteger os territórios da Palestina e de responsabilizar os israelitas pelos últimos dias de violência.

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Marwan Barghouti num tribunal em Jerusalém. O líder palestiniano está condenado a cinco penas de prisão perpétua. Ammar Awad/Reuters

O palestiniano, há 12 anos na prisão, escreveu neste domingo ao diário britânico Guardian. No seu texto recusa a ideia de que os presidentes palestinianos Yasser Arafat e Mahmoud Abbas não quiseram, no caso do primeiro, ou não conseguiram, no caso do último, assinar um acordo de paz com Israel. “O verdadeiro problema é que Israel preferiu a ocupação à paz”, afirma.

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O palestiniano, há 12 anos na prisão, escreveu neste domingo ao diário britânico Guardian. No seu texto recusa a ideia de que os presidentes palestinianos Yasser Arafat e Mahmoud Abbas não quiseram, no caso do primeiro, ou não conseguiram, no caso do último, assinar um acordo de paz com Israel. “O verdadeiro problema é que Israel preferiu a ocupação à paz”, afirma.

Refuta também a ideia de que a mais recente onda de violência começou com o assassínio de dois colonos israelitas na Cisjordânia, no primeiro dia de Outubro, ou o esfaqueamento de dois judeus ultra-ortodoxos no Leste de Jerusalém, poucos dias depois.

“Não começou com a morte de dois colonos israelitas, começou há muito tempo e há anos que continua. Todos os dias há palestinianos que são mortos, feridos, detidos. Todos os dias avança o colonialismo, prossegue o cerco dos habitantes de Gaza, persiste a opressão”, escreve Barghouti.  
Morreram 23 palestinianos e quatro israelitas desde o início do mês. Centenas de outros ficaram feridos, quase todos palestinianos e por acção da polícia. Há 11 dias que prosseguem motins e protestos nos territórios ocupados por Israel, todos os dias com vítimas mortais. Recomeçaram a ser disparados rockets da Faixa de Gaza, algo incomum depois do Verão de 2014. Na resposta a um destes explosivos, caças israelitas mataram uma mulher palestiniana grávida e a sua filha de dois anos em Gaza.

Para Barghouti, há uma razão clara para os motins e protestos, liderados predominantemente por jovens palestinianos. “Esta nova geração palestiniana não esperou por negociações de reconciliação para representar uma unidade nacional que os partidos políticos não conseguiram atingir”, escreve, numa crítica velada ao seu partido, a Fatah, que está em dissonância com o Hamas.

A comunidade internacional é também responsável por este momento de violência, diz Barghouti. “Foi-nos dito para sermos pacientes, e fomos, dando oportunidade atrás de oportunidade para que se atingisse um acordo de paz. Talvez seja útil relembrar o mundo de que a nossa despossessão, exílio forçado, deslocação e opressão já duram há 70 anos. Somos o único item [ainda] na agenda das Nações Unidas desde a sua criação.”

Daí que o líder palestiniano se questione: “Na ausência de acção internacional para o fim da ocupação israelita e impunidade ou até para a protecção [da Palestina], o que é que nos estão a pedir? Que fiquemos a olhar e esperemos que a próxima família palestiniana seja queimada, que a próxima criança palestiniana seja assassinada ou presa, pela construção do próximo colonato?”

Marwan Barghouti é encarado pela maioria dos palestinianos como o grande sucessor de Yasser Arafat e o desejável líder da Autoridade Palestiniana – e não Mahmoud Abbas, o actual presidente. A sua importância na causa palestiniana faz com que Barghouti seja consensualmente visto como a figura mais indicada para conduzir as negociações de paz entre Israel e Palestina.

Foi detido por agentes israelitas em Abril de 2002, no pico da segunda Intifada, e condenado a cinco penas de prisão perpétua pelo envolvimento em cinco homicídios. Barghouti não reconheceu então a legitimidade dos tribunais israelitas e insiste em dizer que está inocente. É a primeira vez que o líder palestiniano escreve para uma publicação internacional desde o ano da sua detenção.

“As acções e crimes de Israel não só destroem a solução de dois Estados nas fronteiras de 1967 [quando foram invadidos os territórios palestinianos] e violam a lei internacional, ameaçam transformar um conflito político solucionável numa guerra religiosa interminável”, afirma no seu texto.

Hoje, a mais sonante contestação dos palestinianos, para além da violência que atribuem à polícia israelita, é a de que o Governo de Israel está a tentar afastá-los dos seus espaços sagrados em Jerusalém Oriental. “Todo o mundo sabe que Jerusalém é a chama que pode inspirar a paz e acender uma guerra”, afirma Barghouti.