Casos de crianças baleadas ocorrem quase sempre em contexto de brincadeira
Segundo estimativas de um estudo recente, um em cada quatro portugueses tem uma arma de fogo.
O trabalho do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra Violência e armas ligeiras: um retrato português, o primeiro do género feito em Portugal, traçava já o panorama nacional em 2010, fazendo um balanço das vítimas mortais de armas de fogo (682), no período compreendido entre 2003 e 2008. Ao longo deste período, segundo o estudo que teve a colaboração do Observatório Género e Violência Armada, 62 crianças até aos 14 anos tinham sido baleadas por acidente.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O trabalho do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra Violência e armas ligeiras: um retrato português, o primeiro do género feito em Portugal, traçava já o panorama nacional em 2010, fazendo um balanço das vítimas mortais de armas de fogo (682), no período compreendido entre 2003 e 2008. Ao longo deste período, segundo o estudo que teve a colaboração do Observatório Género e Violência Armada, 62 crianças até aos 14 anos tinham sido baleadas por acidente.
De acordo com os investigadores, haveria então no país cerca de 2,6 milhões de armas. Os dados oficiais indicavam que, em 2013, estavam registadas em Portugal 1,4 milhões de armas legais, sendo mais de 80% armas de de caça, mas a este número haverá que abater as que são destruídas e exportadas.
A maior parte dos casos que envolvem crianças e adolescentes acontece em consequência de brincadeiras e, quando se investiga a origem do acidente, conclui-se quase sempre que foi alguém deixou uma arma carregada ao alcance de uma criança.
Os relatos repetem-se nos últimos anos. Além de vítimas mortais, há crianças e jovens que ficam com lesões irreversíveis. O tipo de arma mais utilizada é a pistola de calibre 6.35 milímetros, o calibre permitido ao cidadão comum e estas armas resultam muitas vezes da adaptação de pistolas de alarme. De acordo com a lei portuguesa, não é preciso ter licença para comprar uma pistola de alarme e os comerciantes não necessitam de pedir qualquer tipo de documento a quem quiser adquirir uma arma deste tipo.
Outros casos
Julho de 2013 Menina morre em Viseu
Uma menina de dez anos foi mortalmente atingida com tiro no peito quando estava a brincar com irmão de sete anos e primo de 13 anos. A arma pertenceria ao avô. O acidente ocorreu na casa dos avós da vítima, em Travanca de Bodiosa, Viseu. Segundo o comandante da GNR de Viseu, tratava-se de uma pistola de calibre 6.35 transformada. “A arma poderá ter sido comprada como de alarme, mas depois modificada para disparar projécteis. Ao que tudo indica estava ilegal”, admitiu ao PÚBLICO.
Fevereiro de 2013 Criança de 13 anos dispara tiro na própria cabeça
Uma criança de treze anos ficou ferida na cabeça quando brincava com uma arma. O acidente ocorreu na casa da vítima, na Gafanha do Carmo, em Ílhavo. A mãe encontrou o rapaz no quarto.
Janeiro de 2010 Jovem de 17 anos atinge colega no tórax
Um jovem de 17 anos baleou um colega da mesma idade no Externato Carvalho Araújo, em Braga. O rapaz levou uma pistola para o estabelecimento de ensino e, “por acidente”, atingiu o amigo. A pistola, uma 6.35 milímetros, trouxe-a de casa, retirando-a a familiares. O incidente aconteceu depois da aula de educação física frequentada pelos dois alunos. A vítima foi levada para o Hospital de S. Marcos com uma perfuração no peito. A bala ficou alojada na parede torácica sem ferir qualquer órgão vital.
Fevereiro de 2010 Rapaz baleado no maxilar
Um rapaz de 13 anos foi baleado acidentalmente por outro adolescente, no Bairro Amarelo, em Almada. Atingido no maxilar, o jovem foi assistido no Hospital de Garcia de Orta (Almada) e sobreviveu. O acidente aconteceu quando três menores brincavam na casa de um deles, naquele bairro da Margem Sul. A certa altura, um deles encontrou o revólver do pai e disparou sobre o amigo. Um acidente que poderia ter tido "consequências trágicas", lamentou um agente da PSP que confiscou a arma.
Julho de 2009 Rapaz atingido no pescoço pelo irmão
Um menino de oito anos foi baleado com um tiro de pistola no pescoço, pelo irmão, mais velho dois anos, em Vila Nova das Infantas, Guimarães. O acidente aconteceu quando os dois brincavam na rua. O irmão tinha encontrado uma pistola calibre 6.35 milímetros, no carro de um primo. Pegou na arma e, na brincadeira, disparou. A pistola, soube-se depois, era ilegal. O rapaz sobreviveu.