O baile de máscaras
Portugal já não está habituado a demoradas negociações políticas e está sempre desejoso de encontrar um vencedor em cada ronda de encontros, como num jogo de futebol. Nestes quatro anos em que a política submergiu nas profundezas da austeridade económica e o jogo democrático mergulhou em apneia num escafandro de maioria absoluta e troika, impôs-se a ideia de que não era mais possível governar o país sem uma fórmula inequívoca de estabilidade previamente garantida.
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Portugal já não está habituado a demoradas negociações políticas e está sempre desejoso de encontrar um vencedor em cada ronda de encontros, como num jogo de futebol. Nestes quatro anos em que a política submergiu nas profundezas da austeridade económica e o jogo democrático mergulhou em apneia num escafandro de maioria absoluta e troika, impôs-se a ideia de que não era mais possível governar o país sem uma fórmula inequívoca de estabilidade previamente garantida.
Mas foi isso que fez Cavaco Silva em 1986 e 87. Ou António Guterres durante seis anos, três dos quais com Marcelo Rebelo de Sousa e os outros três com o CDS de Manuel Monteiro, de Paulo Portas e do deputado Daniel Campelo que viabilizou o chamado orçamento limiano. Ou ainda José Sócrates com Passos Coelho, quando “dançaram o tango” por três vezes para começar a impor a cartilha da austeridade.
António Costa e Jerónimo de Sousa andaram sempre por ali. Pelos corredores das conversas que permitiram que Portugal fosse sendo governado por negociações à peça, enquanto os partidos se recompunham e se lançavam à procura de uma maioria absoluta para respirar. Não tanto o país, mas eles próprios.
É por isso que se estranha ver agora entrar todos estes protagonistas no palácio para este baile. Todos de máscara no rosto a fazer do que não são, a dançar aos pares à vez numa roda com o Presidente da República (este e o próximo) ao centro, a perscrutar sinais nos olhos dos mascarados.
Como se estivessem todos verdadeiramente prontos a encontrar uma solução chave-na-mão, na qual ninguém realmente acredita — nem os próprios —, que dure para além de cada negociação concreta.