Nações Unidas anunciam Governo de unidade nacional para a Líbia

O país é contestado por dois parlamentos e governos rivais e ambos têm de aprovar o novo Governo de unidade. Há cepticismo de parte-a-parte.

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Trípoli foi tomada por uma aliança de grupos armados em Agosto de 2014, que expulsaram o Governo para o Leste Hani Amara/Reuters

O próprio objectivo de se encontrar um governo abrangente de unidade é visto com desconfiança por alguns grupos que disputam o controlo do país. Mesmo assim, o espanhol Bernardino León disse em Marrocos que o novo executivo “pode funcionar”. “Depois de trabalhar com mais de 150 personalidades líbias de todas as regiões, chegou finalmente o momento em que podemos propor um governo de unidade.”

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O próprio objectivo de se encontrar um governo abrangente de unidade é visto com desconfiança por alguns grupos que disputam o controlo do país. Mesmo assim, o espanhol Bernardino León disse em Marrocos que o novo executivo “pode funcionar”. “Depois de trabalhar com mais de 150 personalidades líbias de todas as regiões, chegou finalmente o momento em que podemos propor um governo de unidade.”

É preciso que os dois parlamentos rivais aprovem a nova administração. A figura de primeiro-ministro foi apontada a Fayez Sarraj, do Parlamento em Trípoli. Há três vice-primeiro-ministros, que representam, segundo escreve a BBC, o Leste, Oeste e Sul do país.

A Líbia é um Estado retalhado e inseguro. As milícias que combateram o regime de Muammar Khadafi e o venceram com a ajuda do Ocidente, em 2011, não aceitaram depois a administração central que o substituiu. Em Agosto de 2014, Trípoli foi invadida por uma aliança de milícias com base em movimentos islamistas, que forçaram a retirada do Governo internacionalmente reconhecido para o Leste do país.

É ainda a formação apoiada pela comunidade internacional quem controla mais território na Líbia. Governa praticamente metade do território, a partir de Tobruk, embora sob críticas de que é incapaz de lidar com a falta de segurança no país, de garantir serviços estáveis de governo e de não dar ajuda à população deslocada.

A aliança que tomou Trípoli formou também um Governo, o Congresso Geral Nacional, que controla os edifícios dos ministérios e tem um Parlamento seu. Entre Leste e Oeste do país há várias bolsas de território controladas por grupos extremistas, alguns ligados ao autoproclamado Estado Islâmico, e o Sudoeste do país é essencialmente território de grupos jihadistas e milícias toubou e tuaregue.

Há receios de que o governo de unidade anunciado na quinta-feira seja uma acção precipitada das Nações Unidas, tomada pelo risco de as negociações caírem por terra antes de se chegar a uma proposta, dado o cepticismo em Trípoli e Tobruk. A proposta de Governo prevê vários ministérios para membros dos Parlamentos rivais. Em todo o caso, há críticas de parte-a-parte.

“Não fazemos parte deste Governo”, disse à BBC Abdulsalam Bilashahir, do Congresso Geral Nacional, em Trípoli. “Não significa nada para nós e não fomos consultados.” De Tobruk, o deputado Ibrahim Alzaghiat teve o mesmo tom de censura. “O Governo proposto vai provocar a divisão da Líbia e torná-la numa anedota.”

À volta de 2,4 milhões de pessoas precisam de ajuda humanitária na Líbia, de acordo com os cálculos das Nações Unidas. Na noite de quinta-feira, em resposta ao anúncio de Bernardino León, a chefe da diplomacia da União Europeia pediu que os grupos rivais “que assinaram o acordo respondam às aspirações do país e pela prosperidade do povo líbio”. Federica Mogherini lança um incentivo: Bruxelas oferece 100 milhões de euros ao novo Governo, caso este consiga o consenso dos dois parlamentos.