Ela transforma objectos comuns em música e vai mostrá-los na Goma

Cláudia Oliveira transforma objectos do quotidiano em instrumentos musicais, através de sensores e programação. Nos dias 9 e 10 de Outubro, no Porto, a artista participa na Goma, plataforma que une artes com tecnologia

Um trio de baloiços, cata-ventos que fazem mais do que dançar com o vento, gira-discos que já não... giram discos. Com Cláudia Oliveira, tudo isto é música. A jovem de 27 anos transforma objectos do dia-a-dia em instrumentos musicais através de sensores de som, luz ou movimento. São os seus, como lhes chama, "objectos sonoros". 

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Um trio de baloiços, cata-ventos que fazem mais do que dançar com o vento, gira-discos que já não... giram discos. Com Cláudia Oliveira, tudo isto é música. A jovem de 27 anos transforma objectos do dia-a-dia em instrumentos musicais através de sensores de som, luz ou movimento. São os seus, como lhes chama, "objectos sonoros". 

Designer gráfica de formação, concilia o trabalho nesta área com os seus projectos artísticos. "Gosto de misturar o mais possível todos os meus interesses, principalmente a programação com o vídeo, a música e a narrativa na web", contou ao P3. E isso nota-se em todos os seus artefactos. Interesse que começou depois da licenciatura em Design da Comunicação na Faculdade de Belas-Artes no Porto e do mestrado em Artes Digitais em Barcelona, onde Cláudia se apaixonou ainda mais pela programação. 

Entre estes objectos em que a tecnologia se alia à música distingue-se o "Baloica", que esteve recentemente em exposição em França e em Guimarães, durante o Noc Noc. Neste projecto, concebido com a designer de produto Isabel Bourbon, Cláudia criou uma estrutura interactiva com três baloiços (ver vídeo acima). À medida que as pessoas baloiçam, produzem uma nota e até podem criar várias melodias. Este processo deve-se a um “kinect”, um sensor de movimentos, que capta o baloiçar e transmite esses sinais através de um arduíno, usando a linguagem de programação Max/MSP.

Foto
O Lumiphone de Claudia Oliveira Ana Marques Maia

De forma semelhante funcionam o “Cata Sopros” e o “Lumiphone”. O “Cata Sopros” é uma instalação com vários cata-ventos, cada um incorporado com sensores e pequenos microfones. Assim que uma pessoa sopra no cata-vento é emitido um som. Isabel Bourbon também ajudou Cláudia neste projecto interactivo, que também foi exibido no Guimarães Noc Noc.

O “Lumiphone”, criado com a colaboração da artista visual Beatriz Lorenzo, é um velho gira-discos que foi aproveitado e transformado num instrumento musical. Tem quatro sensores que detectam quando umas peças pretas redondas são coladas em cima do gira-discos produzindo, desta forma, um som. Apesar de todos estes projectos serem distintos, Cláudia afirma que a forma como eles funcionam é muito parecida: “Basta compreender um deles, para perceber os outros e, a partir daí, várias ideias começam a surgir”.

Para além dos "objectos sonoros", Cláudia também se dedica a outros projectos artísticos que têm por base pequenas curiosidades, a arte experimental e a humanização da tecnologia, explorando, por exemplo, as falhas do mundo digital. É o caso de “You are watching me”, realizado em parceria com a artista digital e "web developer" Eva Domènech. Ao dar conta que muita gente não protege as "webcams" com "passwords", as criativas decidiram falar sobre isso. Recolheram imagens partilhadas abertamente em sites e conceberam um filme. "É um alerta para a falta de privacidade, que reforça a ideia do 'eu estou a ver-te e tu estás a ver-me'. Fizemos um filme bonito e ao mesmo tempo assustador”, explica a artista ao P3.

Goma: para unir as artes visuais às físicas

Quem estiver interessado nos trabalhos de Cláudia, principalmente nos seus “objectos sonoros”, pode conhecê-los melhor na primeira edição da Goma, plataforma que quer aproximar as áreas digitais e as artes plásticos e que tem o seu primeiro evento público esta semana no Porto. Porque, ressalva a organização, as "obras artísticas que têm por base o universo tecnológico/digital não têm ainda o seu espaço próprio" na cidade. E muitas delas não saem "dos computadores, casas e estúdios" dos artistas portugueses por "não terem onde expor".

Nos dias 9 e 10 de Outubro decorre então a primeira edição deste encontro de artistas, entidades e públicos que conjuga as artes visuais às físicas. O primeiro dia é dedicado a quatro "workshops", todos gratuitos — "worksoups", como graceja a organização. Um deles é o de Cláudia que vai dar ao público presente algum conhecimento básico de programação, com destaque para o programa Max/MSP. A artista pretende desenvolver ideias e fazer com que os participantes possam compreender e experimentar os objectos sonoros.

Os restantes "worksoups" vão estar nas mãos de Rodrigo Carvalho, que falará de gráficos interactivos, João Miro e Tiago Pires, que promovem uma sessão sobre fotogrametria, manipulação e impressão em 3D e Lucas Gutierrez, que dará umas luzes de mapeamento e VJ ("video jockey") - performances visuais em tempo real.  

As inscrições para os "workshops" já fecharam, pois atingiram o número máximo de participantes, mas não há que temer: a organização garante que estes encontros de aprendizagem vão ser "frequentes". Quem quiser pode ver os trabalhos dos artistas participantes no evento final da Goma, que se realiza no sábado, 10 de Outubro, no auditório do Passos Manuel, no Porto, e que conta também com as performances audiovisuais de Boris Chimp 504, Lucas Gutierrez e Lasers. A entrada tem o preço de 7 euros.

O objectivo da Goma é consolidar uma plataforma de públicos interessados em artes plásticas, digitais e multimédia que pretendem explorar, desenvolver e divulgar projectos que cruzem essas diversas correntes artísticas, tendo sempre uma base tecnológica. “Queremos que esta edição chegue a todos os que tiverem fome e sede em ver, brincar e conhecer o quão abrangentes podem ser as artes digitais quando cruzadas com outras áreas criativas”, finaliza a organização.