Viabilizo à esquerda ou à direita?
Todo este processo se assemelha cada vez mais a uma telenovela, onde falta descobrir com quem vai o PS casar? Com a esquerda ou com a direita?
Viabilizar é o verbo da moda. Desde 4 de Outubro que deve ser o verbo mais pronunciado por metro quadrado de conversa. Conjugado tanto no presente como no futuro, tem servido de mote aos líderes dos principais partidos políticos, quer vencedores quer vencidos das eleições, para explicar toda esta situação que o país vive. Mas não será que decidir seria um verbo melhor empregue?
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Viabilizar é o verbo da moda. Desde 4 de Outubro que deve ser o verbo mais pronunciado por metro quadrado de conversa. Conjugado tanto no presente como no futuro, tem servido de mote aos líderes dos principais partidos políticos, quer vencedores quer vencidos das eleições, para explicar toda esta situação que o país vive. Mas não será que decidir seria um verbo melhor empregue?
No centro da questão está o PS. O grande derrotado das eleições tem na sua posse uma espécie de chave mestra, responsável por solucionar o problema da maioria parlamentar, abrindo a porta à direita ou, pelo contrário, abrindo a porta à esquerda. A decisão não se afigura fácil, sendo que António Costa parece querer um pouco de tudo, mas ao mesmo tempo de nada. O líder socialista já reuniu com o PCP, seguindo-se reuniões com o Bloco de Esquerda e com a coligação PSD-CDS. No entanto, urge a necessidade de se apresentarem soluções e rápido, dado que se aproxima um congresso do Partido Socialista.
A reunião com o Partido Comunista foi produtiva, já que aparentemente Jerónimo de Sousa garante governo a Costa, não tendo necessariamente de participar neste. No entanto, o líder comunista nada disse sobre o que é fundamental, para que de facto o PS consiga governar, como por exemplo, os orçamentos do estado. Foi uma reunião que apontou sobretudo para as convergências, onde o líder comunista afirma que “nestas circunstâncias, continua a haver margem para haver soluções governativas que não permitam PSD e CDS contra a vontade popular continuem a sua ação”.
O Bloco de Esquerda adiou a reunião com os socialistas, a pedido da coordenadora Catarina Martins, justificando a necessidade de uma melhor preparação técnica para o momento. Esta irá então ocorrer, já depois da esperada e possivelmente decisiva reunião entre Costa e Passos Coelho. Contudo, a interrogação na mente de Costa, bem como de todos os socialistas deve ser a mesma: viabilizo à esquerda ou à direita?
A esquerda, entenda-se PCP e Bloco, parece estar determinada numa proposta de governo a três para combater o inimigo comum: a direita da austeridade. O ponto comum aos três partidos é o virar a página a estas políticas. Porém, apesar de algumas convergências, este potencial governo distingue-se mais pelas suas divergências. Afinal, a saída do Euro, da NATO, a nacionalização da banca, a reversão das privatizações, bem como da dívida são pontos que promovem o choque entre as forças de esquerda.
Depois, ainda há Cavaco. O Presidente da República dá mostras de quem pretende um entendimento entre os partidos, de modo a que se verifique uma maioria no Parlamento. No entanto, o seu objectivo PSD-CDS-PS é tão viável, aparentemente, como um acordo PS-BE-PCP, apesar desta última coligação, juntamente com Cavaco, se assemelhar a uma mistura carbono, hidrogénio, oxigénio e nitrogénio, ou seja, uma combinação química explosiva.
As próximas semanas afiguram-se complicadas, mas ao mesmo tempo, com muitas reuniões e empregos do verbo viabilizar. Todo este processo se assemelha cada vez mais a uma telenovela, onde falta descobrir com quem vai o PS casar? Com a esquerda ou com a direita? A vontade popular, como lhe chamou Jerónimo, ficou a meio caminho, deu vitória à direita, mas não lhe concedeu maioria, restando-nos apenas esperar pelas cenas dos próximos capítulos.