O pivot de orelhas quentes
Sempre prontas a explodir de indignação, as redes sociais encontraram o seu alvo semanal na pessoa de José Rodrigues dos Santos
Após as recentes eleições britânicas, onde os "tories" de David Cameron venceram com ampla vantagem o labour de Ed Milliband, deu-se um clima de espanto e confusão nas redes sociais em muito semelhante ao ocorrido em Portugal após as legislativas. Em ambos os casos, após uma campanha onde se parecia respirar um apoio generalizado à oposição, a recondução do governo acabou por apanhar as redes de surpresa.
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Após as recentes eleições britânicas, onde os "tories" de David Cameron venceram com ampla vantagem o labour de Ed Milliband, deu-se um clima de espanto e confusão nas redes sociais em muito semelhante ao ocorrido em Portugal após as legislativas. Em ambos os casos, após uma campanha onde se parecia respirar um apoio generalizado à oposição, a recondução do governo acabou por apanhar as redes de surpresa.
E isto tem mais a ver com a reacção generalizada à "gaffe" de José Rodrigues dos Santos do que aparenta. Porque da reflexão que a vitória dos "tories" provocou entre os mais progressistas surge um novo termo: "virtue signalling". "Virtue signalling", ou “assinalação de virtude”, pretende identificar uma tendência já amplamente observada fora das redes sociais, mas amplificada por estas: a de um activismo ferrenho em políticas de identificação como questões de género, raça ou sexualidade. Esta tendência acaba por redundar numa espécie de câmara de eco em que opiniões dissonantes não sobrevivem — ou não tentam sobreviver — no tom abrasivo da retórica. Assim, opiniões divergentes sobrevivem em bolhas isoladas, sem diálogo e sem entendimento.
Os particulares da "gaffe" de José Rodrigues dos Santos foram amplamente discutidos, e a opinião das massas dividiu-se pelo binómio “piada homofóbica” ou “falta de preparação”, sem que houvesse concessão da parte de quem tinha escolhido o seu clube. Uns clamam pelo sangue figurativo (e por vezes literal) do pivot, outros condenam a histeria. As reacções oficiais saíram, e pareciam papaguear a opinião comunitária dos adeptos em cada campo: José Rodrigues dos Santos afirma ter-se tratado apenas de um erro de improviso por lhe faltar informação e o professor Alexandre Quintanilha exige uma reacção de todos os partidos ao insulto.
A verdade é que será impossível saber se o erro foi propositado ou não. A ERC já abriu um processo para averiguar os factos, mas estes nunca poderão clarificar completamente a motivação por trás do texto.
Pelo caminho ficou uma coisa: uma moderação que se exigia de ambas as partes. Perante a reacção sobre um tema sensível que afecta muitas pessoas directamente, José Rodrigues dos Santos deveria ter feito mais do que justificar-se: deveria ter pedido desculpa por uma situação em que várias pessoas efectivamente se sentiram insultadas, e não apenas Alexandre Quintanilha. Por outro lado, ao pedir esclarecimentos, Alexandre Quintanilha deveria pelo menos ter assumido a hipótese de a "gaffe" não ter sido intencional.
Não havendo hipótese de alguma vez descortinar porque razão a indefinição de género foi proferida, este caso dificilmente passará de um "fait divers". E enquanto a tinta corre nos monitores um pouco por todo o país, os partidos discutem uma solução governativa. Será que esta também vai apanhar as redes de surpresa?