Não é Soprano quem quer

Jogo Sujo tinha tudo para ser um belo filme de mafia, mas atola-se por querer meter o Rossio na Rua da Betesga.

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Depp, finalmente mais actor do que cartoon

No papel de Whitey Bulger, o mafioso irlandês que controlou Boston com mão de ferro e a cumplicidade do FBI durante vinte anos, Depp faz-nos lembrar porque é que foi aclamado como um dos actores mais excitantes da sua geração – mesmo que, é verdade, este seja um filme de ensemble e a sua performance não adiante ao que já o tínhamos visto fazer em Donnie Brasco e Inimigos Públicos.

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No papel de Whitey Bulger, o mafioso irlandês que controlou Boston com mão de ferro e a cumplicidade do FBI durante vinte anos, Depp faz-nos lembrar porque é que foi aclamado como um dos actores mais excitantes da sua geração – mesmo que, é verdade, este seja um filme de ensemble e a sua performance não adiante ao que já o tínhamos visto fazer em Donnie Brasco e Inimigos Públicos.

Mas nada disso impede que a terceira longa-metragem de Scott Cooper acabe por não cumprir as promessas dos seus primeiros minutos. Se é inevitável que esta história verídica de ascensão e queda de um império do crime remeta em primeira análise para os filmes de Mafia de Scorsese ou para o Padrinho de Coppola, é noutro lado que se deve procurar a referência-chave de Jogo Sujo: mais especificamente nos Sopranos e na densidade ambígua e na multiplicidade de fios narrativos que a série televisiva criada por David Chase transportou do cinema para a televisão.

O resultado é uma espécie de “resumo alargado” de uma história fascinante que precisava de outro ritmo e outro tempo de respiração para resultar em pleno, um filme que parece estar sempre a “contra-relógio” para tocar em todas as questões que quer abordar (lealdade/ambição, corrupção/honestidade) mas acaba por tocá-las apenas pela rama. Não basta ter evidente cabeça, bons actores (e Cooper, que deu a Jeff Bridges o Óscar de melhor actor em Crazy Heart, sabe geri-los, mesmo que não lhes dê muito para fazer), uma noção precisa de como encenar e dirigir. À imagem do seu Whitey Bulger, Jogo Sujo é um filme que sabe o que quer mas se perde no caminho para lá chegar, e nem Depp nem Joel Edgerton (cujo agente corrupto é o reverso da medalha de Bulger) são capazes de resgatar o filme aos pântanos derivativos onde se atola.