Linha do Oeste esteve para fechar mas hoje é um caso de sucesso

Bastou uma alteração nos horários para que a linha que o Governo quis fechar aumentasse o número de passageiros

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Em 2011, esteve previsto reduzir a oferta na linha do Oeste Sandra Ribeiro

A medida constava do PET (Plano Estratégico de Transportes) em 2011. Até ao fim desse ano deveria ser suprimido o serviço de passageiros entre Caldas da Rainha e Figueira da Foz, substituído por um serviço de autocarros a concessionar a uma empresa rodoviária.

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A medida constava do PET (Plano Estratégico de Transportes) em 2011. Até ao fim desse ano deveria ser suprimido o serviço de passageiros entre Caldas da Rainha e Figueira da Foz, substituído por um serviço de autocarros a concessionar a uma empresa rodoviária.

Os protestos da população e de autarcas, em que se distinguiram conhecidos presidentes de câmara do próprio PSD, levaram o Governo a recuar. Uma então criada Plataforma de Defesa da Linha do Oeste apresenta um estudo, da autoria do especialista Nelson Oliveira, que propõe uma alteração nos horários por forma a ligar este corredor ferroviário à linha do Norte em Coimbra.

Quatro anos depois é o próprio presidente da CP, Manuel Queiró que não se cansa de dizer que a linha do Oeste foi das que teve mais procura nos últimos anos.

Globalmente, de 2012 para 2015 a procura nesta linha aumentou 122% (considerando que só há dados disponíveis até Agosto deste ano, o PÚBLICO estimou um valor total para 2015 acrescentando mais quatro meses com a média dos anteriores). Mas no troço que esteve para encerrar esse aumento foi de 158%.

Em termos de receita para a CP este aumento foi mais do que proporcional porque antes os comboios iam para Figueira da Foz e agora vão para Coimbra, o que representa mais PK (passageiros x quilómetros) percorridos. E há ainda o efeito induzido pela maior procura na linha do Norte, nas ligações a Aveiro e Porto, pelos passageiros vindos do Oeste.

Tudo isto com menos gastos porque o estudo então apresentado propunha também uma nova gestão da rotação do material circulante. Entre 2011 e 2014 os custos da CP nesta linha reduziram-se de 7,3 para 5,7 milhões de euros.

Ainda assim, o sucesso na linha que o que governo queria fechar foi conseguido com a aplicação de apenas uma das quatro medidas sugeridas no referido estudo – comboios directos para Coimbra. O documento previa ainda uma campanha publicitária que nunca foi realizada e ligações rodoviárias (na altura prometidas por alguns autarcas) entre as estações e o centro das localidades.

Por exemplo, em Leiria não há ligações coordenadas entre os horários dos comboios e o centro da cidade e em Valado dos Frades nunca se cumpriu a promessa dos presidentes de câmara em colocar autocarros de ligação a Nazaré e Alcobaça.

Outra medida pretendia assegurar a continuidade do serviço nas Caldas da Rainha, acabando com os transbordos. No entanto, a CP continua a obrigar os passageiros a mudar de comboio naquela estação por razões meramente operacionais, desligadas do óptica comercial e do conforto dos clientes.

No centro da campanha eleitoral
Segundo a CP, “a linha do Oeste está condicionada pelas condições estruturais disponíveis e a falta de investimento na infraestrutura”. Isto é: falta a electrificação e instalação de modernos sistemas de telecomunicações e sinalização num corredor ferroviário que ainda funciona como nos fins do século XIX, totalmente dependente de meios humanos.

Não surpreende, assim, que a linha do Oeste seja uma bandeira na campanha eleitoral de todos os partidos.

Maio de 2011. A então deputada do CDS/PP, Assunção Cristas, viaja de comboio com uma comitiva do seu partido entre Leiria e Caldas da Rainha numa acção de campanha eleitoral. Objectivo: reivindicar a modernização da linha do Oeste e protestar pelo então governo PS nada ter feito por este corredor ferroviário. Em Junho há eleições, a deputada passa a ministra e será um secretário de Estado do seu partido, Sérgio Monteiro, que decide, em Outubro, fechar a linha a norte das Caldas da Rainha.

Quatro anos depois, nem o PSD nem o CDS fizeram ainda campanha eleitoral em comboio, mas a modernização da linha do Oeste continua (na verdade desde há 30 anos) como uma das promessas mais reiteradas de todos os partidos. Só nos últimos dez dias PDR, BE, Livre/Tempo de Avançar e CDU fizeram já acções de campanha em que os candidatos viajaram de comboio nesta linha.