Isabel dos Santos lança hipermercados em Angola mas sem a Sonae
A ruptura na parceria entre a empresária angolana e o grupo português foi finalmente assumida. A empresa de Paulo Azevedo vendeu a sua parte no projecto.
Pondo fim à especulação sobre a parceria e reagindo ao anúncio do investimento de Isabel dos Santos fonte oficial do grupo português (dona do PÚBLICO e dos hipermercados Continente) adiantou que “as responsabilidades assumidas pela Sonae, no âmbito do projecto de investimento no retalho alimentar em Angola, foram adquiridas pelo grupo de Isabel dos Santos".
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Pondo fim à especulação sobre a parceria e reagindo ao anúncio do investimento de Isabel dos Santos fonte oficial do grupo português (dona do PÚBLICO e dos hipermercados Continente) adiantou que “as responsabilidades assumidas pela Sonae, no âmbito do projecto de investimento no retalho alimentar em Angola, foram adquiridas pelo grupo de Isabel dos Santos".
A Sonae não adiantou mais pormenores sobre o fim da joint-venture com a Condis, a empresa de Isabel dos Santos e do marido Sindika Dokolo, onde detinha 47% de participação, e com quem assinou um acordo em 2011. A ruptura aconteceu em Fevereiro depois da saída dos dois altos quadros Miguel Osório e João Seara que passaram a trabalhar directamente com Isabel dos Santos. Questionada pelo PÚBLICO sobre se o montante da venda anunciada nesta segunda-feira cobriu apenas os custos do processo ou se teve alguma componente de indemnização por ruptura da parceria, a Sonae apenas adiantou que “o investimento da Sonae esteve sempre limitado ao projecto em concreto, pelo que os valores envolvidos são imateriais.”
Apesar de não estar envolvida no lançamento da rede Candando, a verdade é que o seu contributo foi grande. Miguel Osório e João Seara, a quem a empresa da Maia acusou de tomarem “decisões de extrema gravidade e deslealdade”, detinham um profundo conhecimento da área da distribuição. A apresentação da nova cadeia de hipermercados foi feita, precisamente, por Miguel Osório, que era membro executivo da administração da Sonae SR (o braço do grupo para o retalho especializado), conforme ainda se lê no seu perfil do Linkedin, por actualizar. Assume agora o cargo de director executivo da nova Contidis, criada por Isabel dos Santos para avançar com a rede de lojas. Em conferência de imprensa, nesta segunda-feira em Luanda, Miguel Osório adiantou que o investimento a realizar pela empresa detida a 100% pela empresária angolana ascenderá a 400 milhões de dólares (356 milhões de euros) nos próximos cinco anos, indicou a agência Lusa.
A abertura da primeira loja Candando, de um total previsto de dez ao longo dos próximos cinco anos, deverá acontecer no primeiro semestre de 2016, em Luanda. A primeira terá dez mil metros quadrados e ficará instalada no Shopping Avennida, em Luanda. De acordo com o responsável, as lojas serão "ancoradas" na venda dos produtos frescos e assim voltadas para a produção nacional, "aliando a distribuição moderna aos mercados tradicionais de Angola”.
A parceria da Sonae com Isabel dos Santos foi anunciada em 2011 e os planos iniciais incluíam a abertura de, pelo menos, cinco hipermercados Continente. Nos anos seguintes não se conheceram grandes desenvolvimentos, até que, em Fevereiro de 2015, ficou a saber-se que os seus dois gestores envolvidos no projecto passaram a trabalhar directamente para a empresária angolana.
Para além da saída de Miguel Osório e de João Seara não são conhecidas outras razões para o arrastar do investimento. O PÚBLICO apurou junto de fonte conhecedora do processo que entre os motivos dos atrasos estava a exigência técnica imposta pela Sonae a nível logístico, área que era da responsabilidade da parceira local. Entre essas questões estavam as condições de armazenamento e transporte de produtos, designadamente, a refrigeração e conservação de bens perecíveis, que implicavam investimentos avultados.
Frustrada a expansão para Angola, a Sonae acabou por iniciar a internacionalização da marca Continente no Médio Oriente. Em parceria com um grupo dos Emirados Árabes Unidos e em regime de franchising, a Sonae prepara-se para abrir neste país o primeiro de quatro hipermercados piloto até 2017. Isabel dos Santos continua a ser parceira da Sonae na NOS e o grupo liderado por Paulo Azevedo tem afirmado que o relacionamento com a empresária não sofreu alterações.
A angolana é ainda accionista de várias empresas portuguesas, nomeadamente, da Galp – através da Amorim Energia, em associação com a Sonangol –, Banco BIC Português e BPI.
Num dia globalmente negativo nas bolsas europeias, que a praça de Lisboa acompanha com uma queda de 1,8%, as acções da Sonae encerraram a perder 1,39%, para 1,06 euros. com Ana Rute Silva