Jerónimo diz ser provável uma aliança entre PS e CDS

Líder da CDU recusa que seja mais confortável manter-se na oposição.

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Nuno Ferreira Santos (arquivo)

A posição da CDU num cenário pós-eleições pode ser fundamental para o PS, mas Jerónimo de Sousa prevê que os socialistas se virem para o CDS caso precisem de apoio parlamentar.

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A posição da CDU num cenário pós-eleições pode ser fundamental para o PS, mas Jerónimo de Sousa prevê que os socialistas se virem para o CDS caso precisem de apoio parlamentar.

Questionado pelos jornalistas durante uma arruada em Alcochete sobre se considera mais natural uma aliança pós-eleitoral do PS com o CDS-PP do que com o PCP, Jerónimo de Sousa contornou a pergunta. Encolhendo os ombros, disse: “Eu não queria fazer insinuações, mas olhando para a história, isso já aconteceu.”

Lembrou que em 39 anos o PS “sempre livremente se entendeu com a direita, mesmo quando teve maioria absoluta. Teria que acontecer algo de novo para que isso não acontecesse.” Jerónimo deixava no ar que o PS só se verá obrigado a virar-se para a sua esquerda se o CDS-PP tiver um resultado tão baixo que não seja suficiente para, sozinho, ajudar o PS.

E é mesmo uma “pesada derrota” o que o secretário-geral comunista prevê para os dois partidos do Governo que, recorda, tiveram, em conjunto, mais de 50% dos votos nas legislativas antecipadas de 2011. Daí que Jerónimo classifique de “chantagem clara” as declarações de Pedro Passos Coelho que disse que se não houver uma maioria ampla o país ficará ao sabor da instabilidade política correndo o risco de voltar ao cenário económico-financeiro de 2011.

“Isso é chantagem clara. Em democracia há sempre soluções para respeitar a Constituição e esse susto que tenta pregar aos portugueses não os vai convencer. O maior susto é este Governo continuar.”

Pouco depois, já no largo junto da câmara de Alcochete e falando para os militantes, Jerónimo havia de ironizar sobre o assunto. "É mais fácil apanhar gambozinos do que a direita apanhar uma maioria absoluta."

O secretário-geral comunista reiterou que a CDU está sempre pronta para um “diálogo sincero” desde que seja para uma “política de esquerda, em termos gerais e concretos, em termos de causa, de valores, de realidades económicas ou sociais”. E recusou que seja por receio de ser preterido em função do CDS-PP que não se mostra agora disponível para entendimentos.

“Esta disponibilidade tem a ver com a questão política, com o que o PS pretende fazer. As pessoas não entendem que este PCP e esta CDU não estão embriagados com a vontade de poder. Estamos em condições de assumir responsabilidade em condições de assumir responsabilidade de todos os níveis, incluindo governativa”, assegurou Jerónimo de Sousa. Apesar disso, não se cansa de dizer que “não peçam à CDU a quebra da sua coerência, da sua força. Não abdicamos de princípios, de concepções de fundo e do nosso programa para servir apenas o PS.”

Em especial porque em termos programáticos “o PS responde zero” a questões que a CDU considera fundamentais e nas quais não está disposta a ceder, como a renegociação da dívida, o Tratado Orçamental, o mercado de trabalho e Segurança Social.

O também deputado do PCP realçou que o partido este "muitas vezes sozinho" na luta contra o Governo. "Alguns dizem-nos que estamos sempre a atacar o PS. É caso para perguntar: onde esteve o PS nestes quatro anos? Fomos nós que fizemos um combate sem tréguas ao Governo de direita."

Campanha "em brasa"
A arruada pela zona antiga de Alcochete foi, com excepção do Porto e da descida da Morais Soares (Lisboa), a mais longa desta campanha da CDU. À espera de Jerónimo estavam Francisco Lopes (primeiro candidato por Setúbal), e os deputados Bruno Dias e Paula Santos. Também acabou por chegar Heloísa Apolónia. As honras da passeata foram feitas pelo presidente da câmara local, Luís Franco, que não largou o líder do PCP e o conduziu, muitas vezes com a mão nas costas. Indicava-lhe com quem falar, apresentava-lhes os munícipes que assomavam à porta da loja ou estavam nas muitas esplanadas.

O percurso foi feito, a espaços, com a declamação do poema Elogio da dialética, de Bertold Brecht, por três activistas da CDU de megafone na mão, sendo uma delas a actriz Luísa Ortigoso, a dona Olga da série Bem-vindos a Beirais. A caravana (a pé) andou pelas ruas estreitas calcetadas, espreitou cafés e diversas lojas, cumprimentou quem o esperava e quem apenas se deixava estar sentado na esplanada do café. Jerónimo só caça votos, mas também visitou a Associação de Caçadores. Como a hora de almoço se aproximava, pelas ruas já cheirava a carvão a arder, preparando os assadores para grelhar o peixe. O que dava azo a trocadilhos: "Esta campanha está uma brasa", ouve-se no meio da rua.

Em Setúbal, onde a CDU conseguiu em 2011 quatro dos 17 mandatos do distrito, a disputa eleitoral está ainda mais interessante com o aumento de um mandato, transferido de Santarém. Há quatro anos a coligação PCP/PEV manteve os eleitos que conseguira em 2009, mas perdeu o lugar de segunda força no distrito para o PSD (de uma quota de 20,07% para 19,65%) e recuou 1400 votos (para 82.816).