Campanha da coligação PSD/CDS perturbada pela caravana dos lesados do BES
Passos e Portas insistem em colar o PS ao "extremismo".
O negro das bandeiras dos manifestantes de antigos clientes do BES misturou-se com o laranja e azul que dominam a propaganda da coligação PaF. Na primeira acção do dia, Passos Coelho atrasou-se uma hora (ficou a dar uma entrevista a um canal televisivo) e só chegou no momento em que já devia estar no ponto seguinte da agenda.
Manuela, 46 anos, empregada doméstica, esperou para ver o cortejo passar. Era pequeno para uma terra que é forte em PSD. O desemprego e a emigração de muitos talvez ajudem a explicar a pouca mobilização. Nem Passos Coelho, nem António Costa parecem convencê-la a dar o seu voto nas urnas. Se havia uma oportunidade de seduzir esta eleitora, a coligação não a aproveitou.
No final da arruada, Paulo Portas foi, mais uma vez, o franco-atirador ao líder do PS. O mote foi uma notícia do Expresso de que António Costa se prepara para não viabilizar um governo de minoria da coligação. Ao lado de Passos Coelho, o líder do CDS começou por dizer que “tem uma gravidade séria” e “inédita” na democracia portuguesa a intenção de António Costa de “impedir a aprovação do programa de Governo”. À luz da Constituição, o programa de Governo não é obrigatoriamente votado e só pode ser chumbado por uma maioria de deputados. Mas a intenção da coligação PSD/CDS é dramatizar e encostar mais o PS mais à esquerda.
Essa colagem tornou-se ainda mais visível no almoço-comício. Passos acusou António Costa de estar a procurar formar um governo “extremista [com comunistas e bloquistas] da esquerda mais radical que existe em Portugal, possa, contra a vontade dos portugueses, procurar governar o país".
A sombra do BES
Antes e depois do almoço, a campanha foi ensombrada pelas manifestações dos lesados do BES. Em Marcos de Canaveses, Passos e Portas pouco se demoraram. O primeiro-ministro falou aos apoiantes que o esperavam, com o ruído do protesto ao fundo. Luís Ferreira, 76 anos, não se cansa de se manifestar, já foi a Lisboa mais de 30 vezes para mostrar o seu descontentamento. Perdeu 80% das suas economias que tinha no BES, numa conta que abriu há mais de 40 anos.
Mas a grande confusão seria em Paços de Ferreira onde os ânimos estiveram muito exaltados entre os manifestantes e os apoiantes da coligação no jardim público, junto ao coreto onde Passos Coelho e Paulo Portas deviam discursar. Atrasaram-se 40 minutos e foi visível a crescente presença de elementos da segurança à paisana e da GNR.
Durante o compasso de espera, um assessor de Paulo Portas falou demoradamente com um dos que estavam a liderar a manifestação. Em vão, o protesto mantinha-se e tornava impossível o acesso de Passos e Portas ao coreto. A solução foi mudar para o outro lado do jardim. Quando os manifestantes tentaram seguir a caravana e aproximar-se foram barrados por um cordão da GNR.
Depois de Portas ter feito um apelo à tolerância, Passos Coelho tentou demonstrar que a campanha em nada tinha sido perturbada. "Não queremos uma maioria para nós, é o país que quer uma maioria", disse. Durante a curta intervenção, feita de megafone, o líder da coligação ouviu "maioria, maioria" da assistência.
No final, depois de a caravana ter abandonado o local, um dos manifestantes despediu-se: “Saudações, a vossa terra é muito bonita”. Mas uma reformada, de bandeira da coligação na mão, estava há muito a protestar contra os lesados do BES, e gritou: “Vai ao Salgado pedir o dinheiro. O governo agora é que tem a culpa?”
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O negro das bandeiras dos manifestantes de antigos clientes do BES misturou-se com o laranja e azul que dominam a propaganda da coligação PaF. Na primeira acção do dia, Passos Coelho atrasou-se uma hora (ficou a dar uma entrevista a um canal televisivo) e só chegou no momento em que já devia estar no ponto seguinte da agenda.
Manuela, 46 anos, empregada doméstica, esperou para ver o cortejo passar. Era pequeno para uma terra que é forte em PSD. O desemprego e a emigração de muitos talvez ajudem a explicar a pouca mobilização. Nem Passos Coelho, nem António Costa parecem convencê-la a dar o seu voto nas urnas. Se havia uma oportunidade de seduzir esta eleitora, a coligação não a aproveitou.
No final da arruada, Paulo Portas foi, mais uma vez, o franco-atirador ao líder do PS. O mote foi uma notícia do Expresso de que António Costa se prepara para não viabilizar um governo de minoria da coligação. Ao lado de Passos Coelho, o líder do CDS começou por dizer que “tem uma gravidade séria” e “inédita” na democracia portuguesa a intenção de António Costa de “impedir a aprovação do programa de Governo”. À luz da Constituição, o programa de Governo não é obrigatoriamente votado e só pode ser chumbado por uma maioria de deputados. Mas a intenção da coligação PSD/CDS é dramatizar e encostar mais o PS mais à esquerda.
Essa colagem tornou-se ainda mais visível no almoço-comício. Passos acusou António Costa de estar a procurar formar um governo “extremista [com comunistas e bloquistas] da esquerda mais radical que existe em Portugal, possa, contra a vontade dos portugueses, procurar governar o país".
A sombra do BES
Antes e depois do almoço, a campanha foi ensombrada pelas manifestações dos lesados do BES. Em Marcos de Canaveses, Passos e Portas pouco se demoraram. O primeiro-ministro falou aos apoiantes que o esperavam, com o ruído do protesto ao fundo. Luís Ferreira, 76 anos, não se cansa de se manifestar, já foi a Lisboa mais de 30 vezes para mostrar o seu descontentamento. Perdeu 80% das suas economias que tinha no BES, numa conta que abriu há mais de 40 anos.
Mas a grande confusão seria em Paços de Ferreira onde os ânimos estiveram muito exaltados entre os manifestantes e os apoiantes da coligação no jardim público, junto ao coreto onde Passos Coelho e Paulo Portas deviam discursar. Atrasaram-se 40 minutos e foi visível a crescente presença de elementos da segurança à paisana e da GNR.
Durante o compasso de espera, um assessor de Paulo Portas falou demoradamente com um dos que estavam a liderar a manifestação. Em vão, o protesto mantinha-se e tornava impossível o acesso de Passos e Portas ao coreto. A solução foi mudar para o outro lado do jardim. Quando os manifestantes tentaram seguir a caravana e aproximar-se foram barrados por um cordão da GNR.
Depois de Portas ter feito um apelo à tolerância, Passos Coelho tentou demonstrar que a campanha em nada tinha sido perturbada. "Não queremos uma maioria para nós, é o país que quer uma maioria", disse. Durante a curta intervenção, feita de megafone, o líder da coligação ouviu "maioria, maioria" da assistência.
No final, depois de a caravana ter abandonado o local, um dos manifestantes despediu-se: “Saudações, a vossa terra é muito bonita”. Mas uma reformada, de bandeira da coligação na mão, estava há muito a protestar contra os lesados do BES, e gritou: “Vai ao Salgado pedir o dinheiro. O governo agora é que tem a culpa?”