Nogueira Leite revela que “Carlos Costa é um grande conselheiro de Passos Coelho”
Economista diz que Passos Coelho encontrou em Carlos Costa “alguém disponível para receber os louros ou as críticas de um processo em que o Governo decidiu não se envolver.”
Num debate na Rádio Renascença, conduzido pelo jornalista José Pedro Frazão, o economista, que em Junho de 2011 esteve ao lado de Pedro Passos Coelho nas eleições legislativas, não escondeu críticas ao processo de resolução e de venda do Novo Banco.
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Num debate na Rádio Renascença, conduzido pelo jornalista José Pedro Frazão, o economista, que em Junho de 2011 esteve ao lado de Pedro Passos Coelho nas eleições legislativas, não escondeu críticas ao processo de resolução e de venda do Novo Banco.
O ex-secretário de Estado do Tesouro e das Finanças entre 1999 e 2000 (e ex-presidente da Bolsa de Valores de Lisboa) declarou-se “à vontade” para dizer que o actual primeiro-ministro conta com dois “grandes conselheiros”: “Manuel Rodrigues”, o seu secretário de Estado do Orçamento, e “Carlos Costa”, o governador do Banco de Portugal (BdP). E defende que Passos Coelho encontrou em Carlos Costa “alguém disponível para receber os louros ou as críticas de um processo em que o Governo decidiu não se envolver.”
Nogueira Leite confessa-se surpreendido com o facto de Carlos Costa ter estado “sempre tão confortável a regular” o BES, um banco “especioso”. “É difícil de perceber.” “Excesso de confiança de Carlos Costa? Não sei. Às vezes custa-me a entender como é que pessoas com tanta experiência possam expressar graus de ingenuidade tão grandes”. No BdP “estavam absolutamente convencidos de que havia um ‘ringfencing’ [protecção do BES da contaminação do GES] do ‘banco bom’ em relação ao resto”, mas “a realidade” mostrou que não era assim. “Processos destes, mesmo que o ‘ringfencing’ fosse bem feito, têm sempre um potencial brutal de litigância.”
Sobre a venda “falhada” do Novo Banco [que não gerou ofertas compatíveis com as expectativas do vendedor], o economista conta que a sua “experiência profissional de 30 anos tem colidido bastante com o que se tem passado”. E defende que, em alternativa à intervenção via Fundo de Resolução [que injectou 4900 milhões no Novo Banco] teria sido “mais fácil uma solução parecida com a que a que foi proposta pela equipa” de Vítor Bento.
O primeiro presidente do Novo Banco [Bento deixou o banco em Setembro de 2014 depois das autoridades terem antecipado a venda para 2015, quando estava prevista ocorrer até ao Verão de 2016] propunha “injectar o dinheiro público que fosse necessário, limpar adequadamente o banco durante o tempo que fosse preciso.” A solução é equiparada por Nogueira Leite à seguida por António Horta Osório no Lloyds, em Inglaterra. O Estado assumiu o Lloyds “e foi vendido à medida que foi sendo limpo”, o que possibilitou recuperar “a confiança dos consumidores”.
Sobre a possível intenção da coligação Portugal à Frente retomar a tese de privatizar a CGD, Nogueira Leite começou por referir que “esta ideia de Passos Coelho” constituiu “uma das suas primeiras proclamações políticas nesta sua emergência pós-jota” e que se tratou “da minha primeira derrota, porque acho que num sistema onde não há capital como o sistema capitalista português, é importante que haja bancos portugueses, geridos com rigor e supervisionados” por um “supervisor mais exigente”.
“Neste momento o único banco 100% português é a Caixa, enquanto não for privatizada.” Instado a comentar declarações recentes de Passos Coelho a criticar a actual administração da CGD presidida por José Matos (que Nogueira Leite integrou de Junho de 2011 a Janeiro de 2013), Nogueira Leite explicou: Passos Coelho “devia saber pelos relatórios e contas da Caixa e pelos jornais que esta administração que eventualmente o desconforta já registou nas suas contas mais de cinco mil milhões de imparidades ou perdas de crédito de operações feitas” antes de tomar posse. “E nunca vimos José de Matos [presidente executivo] ou a sua equipa a atirar culpas para o passado.”
A proposta de Passos Coelho de constituir um banco de fomento para apoiar as empresas, projecto bandeira do Governo ainda pouco activo, mereceu igualmente contestação por parte de Nogueira Leite: “Em vez de a Caixa fazer o que fazia no passado, que era ‘torrar dinheiro’ em operações políticas usando os seus veículos de capital de risco”, devia antes “pegar em montantes semelhantes” e pô-los “nas mãos de profissionais que os distribuía por quem os merecia, com critérios rigorosos e sem pressão política”. Concluiu: “Não sei para que é preciso um Banco de Fomento, nunca percebi. Mas também ninguém me explicou em detalhe”, rematou.