O momento fofinho do Pedro e do Paulo
Quando vi pela primeira vez as imagens na televisão, especialmente a parte em que Passos participa puxando pela sua voz de barítono, até me vieram as lágrimas aos olhos. Ah, grande tuna. A política também é isto: amizade, amor, carinho entre as pessoas. A política não tem de ser sempre uma coisa de malta rezingona, sempre a mandar vir e a trocar acusações.
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Quando vi pela primeira vez as imagens na televisão, especialmente a parte em que Passos participa puxando pela sua voz de barítono, até me vieram as lágrimas aos olhos. Ah, grande tuna. A política também é isto: amizade, amor, carinho entre as pessoas. A política não tem de ser sempre uma coisa de malta rezingona, sempre a mandar vir e a trocar acusações.
A música começou assim que Pedro e Paulo chegaram ao instituto. Pedro ficou à frente, Paulo um pouco mais atrás, à direita do primeiro da coligação.
“Aqui descobri um grande amor/ foi a minha grande paixão/ e juntos percorremos caminhos tu e eu/ os quais não esqueceremos”, cantavam os estudantes.
Mas há alguém que seja capaz de dizer que esta música não assenta como uma luva à dupla da PaF?
Durante este primeiro verso, Pedro mostrava vontade de cantar. Ainda repetiu uma ou duas palavras, mas acabou por se conter, acompanhando a música apenas com ligeiros acenos de cabeça, enquanto lançava muito ligeiramente o corpo para cima e para baixo. Paulo ficou quieto, com os braços cruzados junto ao tronco e, de vez em quando, olhava ora para a esquerda, ora para a direita, como se procurasse alguém. Na sua cara esteve sempre presente um enorme sorriso. A determinada altura limpa com um dedo o olho direito. Era de certeza uma lágrima.
Já perto do final do verso, Pedro roda ligeiramente a cabeça para direita e diz algumas palavras a Paulo. Paulo sorri e diz que sim com a cabeça. “Vão-se abraçar”, gritei para mim mesmo. Não aconteceu. Foi pena.
“Mas a nossa vida continua/ porque parar é morrer/ a vida é uma aventura/ e viver esta loucura de amigos para sempre.” Se isto não foi escrito para aqueles dois homens, foi escrito para quem?
Mas o melhor ainda estava para vir.
“Amigos para sempre seremos até morrer/ eu chorarei quando tiver de partir…” Neste preciso momento, Pedro não se conteve e decidiu entrar em acção. Puxou pelo seu vozeirão e cantou as duas últimas palavras: “Amigos para sempre…” Arrasou. A sua voz sobrepôs-se à dos muitos estudantes, os que o rodeavam abriram os olhos de espanto. Até me arrepiei.
A determinada altura fez-se silêncio na sala. Um estudante subiu para cima de um banco. “Os parentes são a família com que nascemos, os amigos são a família que nós escolhemos. Sejam felizes, muito felizes, mas, acima de tudo, sejam amigos. Mas amigos para sempre”, disse-lhes o estudante.
“É agora que se vão lançar em lágrimas para os braços um do outro”, voltei a gritar para mim mesmo, enquanto dava um pulo do sofá para viver em detalhe o momento. Não aconteceu. Deviam estar tão emocionados que nem se lembraram.
Pedro, modesto, confessou depois que "provavelmente não devia” ter cantado, pois a sua voz não está "nas melhores condições".
Ó senhor primeiro-ministro, deixe-se lá de modéstias. Vossa excelência arrasou. Lembra-se de quando foi em campanha com o Paulo à lavoura e ele, em grande forma, o relegou para segundo plano? Pois nesta quinta-feira foi o seu dia de vingança. O senhor deu ao Paulo o que em política se chama “um tareão”.
Mais, o senhor ainda pode reinar com ele um dia destes. Imagine que vão em campanha e começa a música. É momento para lhe atirar logo à cara a piadola: “O Paulo não sabe cantar, iô.”
Claro que os jornalistas, que levam tudo para a maldade, não viram o carinho e a forte amizade que une estes dois homens e que lhes estava estampado nos rostos.
Os meus camaradas no terreno foram logo puxar a maldade e o irrevogável momento do divórcio entre o Paulo e o Pedro, que depois acabou por não acontecer.
Meus caros amigos, depois do que viram nesta quinta-feira não vos ocorreu que o Paulo tenha voltado atrás apenas por amizade. Pois a mim ocorreu-me, e muito. Para mim, está explicado o recuo do Paulo: foi amizade, daquela a sério, que dura para sempre.
Eu sei que houve muitos outros arrufos, não só entre o Pedro e o Paulo, mas também entre ministros e que até teve de se criar uma comissão para acompanhar a coligação. Mas há algum casal que nunca tenha discutido?
Este momento de campanha tem também um enorme significado político. Se António Costa, caso vença as eleições sem maioria absoluta, precisar do CDS para uma coligação, esqueça. Aquilo entre o Pedro e o Paulo é para sempre.
Como lhes disse o estudante, “sejam felizes, muito felizes”.