Zaha Hadid ganha a medalha RIBA por 30 anos de arquitectura revolucionária e imodesta
Prestigiado prémio do Royal Institute of British Architects existe há quase 170 anos mas só agora é entregue a uma mulher a título individual. Hadid está habituada a ser a primeira num mundo de homens.
“Zaha Hadid é uma força formidável e globalmente influente da arquitectura”, disse Jane Duncan, president do RIBA e do comité de selecção. “Rigoroso e exigente, o seu trabalho, dos edifícios ao mobiliário, aos sapatos e aos carros, é justamente admirado e desejado por marcas e pessoas em todo o mundo”, acrescentou, num depoimento que se pode ler no site do instituto, onde se salienta ainda a importância do seu trabalho teórico e académico e se faz referência aos seus “projectos dinâmicos e inovadores”, aos seus “30 anos de experimentação revolucionária nos campos da arquitectura, do design e do urbanismo”.
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“Zaha Hadid é uma força formidável e globalmente influente da arquitectura”, disse Jane Duncan, president do RIBA e do comité de selecção. “Rigoroso e exigente, o seu trabalho, dos edifícios ao mobiliário, aos sapatos e aos carros, é justamente admirado e desejado por marcas e pessoas em todo o mundo”, acrescentou, num depoimento que se pode ler no site do instituto, onde se salienta ainda a importância do seu trabalho teórico e académico e se faz referência aos seus “projectos dinâmicos e inovadores”, aos seus “30 anos de experimentação revolucionária nos campos da arquitectura, do design e do urbanismo”.
Entre a sua extensa lista de projectos contam-se, por exemplo, o Centro Aquático das olimpíadas de Londres de 2012, o Centro Cultural Heydar Aliyev, em Baku, no Azerbaijão, o museu MAXXI, em Roma , a Ópera Guangzhou e a Innovation Tower de Hong Kong, ambos na China, a sede da BMW em Leipzig, na Alemanha, e o Centro Rosenthal de Arte Contemporânea, no Ohio, Estados Unidos. Entre os projectos mais mediáticos e ainda não concluídos da arquitecta estão, por exemplo, o estádio que deverá ser o palco central do campeonato do mundo de futebol do Qatar, em 2022, a Ópera do Dubai e o Centro de Artes Performativas de Abu Dhabi.
Na reacção ao anúncio, Zaha Hadid, de 64 anos, disse estar “muito orgulhosa” por ter sido a escolhida da edição de 2016 e lembrou que, para as mulheres, e apesar dos progressos feitos nos últimos anos, trabalhar em arquitectura “não é fácil”.
Conhecida pelos seu edifícios curvilíneos, artificiosos, de grande impacto visual, Hadid lembrou que parte essencial do trabalho dos arquitectos passa por fazer com que as pessoas se sintam bem nos espaços em que vivem e trabalham e que, por isso, devem estar “empenhados em elevar o grau de exigência”: “As casas, as escolas e outros edifícios públicos vitais sempre se basearam no conceito da ‘existência mínima’ – e isso não devia acontecer hoje. Os arquitectos têm agora as capacidades e as ferramentas para lidarem com estes aspectos críticos”, acrescenta numa breve declaração em que partilha o prémio com o seu atelier, que hoje emprega mais de 300 pessoas, e com os seus clientes. “É sempre estimulante trabalhar com quem tem um grande orgulho cívico e visão.”
A "assustadora" Zaha Hadid
Num texto curioso e provocador, em que justifica a atribuição da medalha 2016, o arquitecto e académico inglês Peter Cook, membro do júri com Louisa Hutton e David Chipperfield, explica por que razão Hadid não foi bem recebida no Reino Unido, onde continua a ter poucas encomendas – nem pelos seus pares, nem pelos políticos encarregues de aprovar projectos - e porque é vista, por muitos, como “assustadora”, comparando-a a um tenista colérico, estrela na década de 1980, que todos conhecemos bem: “Na nossa cultura circunspecta e modesta o seu trabalho não é certamente modesto. Ela própria é o oposto de modesta. Na realidade, as suas críticas vociferantes contra os maus trabalhos e a estupidez lembram os comentários fora das linhas laterais do tenista John McEnroe.”
Esta dificuldade do Reino Unido em lidar com Hadid e com os seus projectos, que para muitos são demasiado impositivos, levou já a que políticos locais em Cardiff rejeitassem a sua proposta para um novo teatro de ópera, apesar de ter sido ela a vencedora do concurso internacional que a cidade lançara. No Japão, a divisão de opiniões em relação ao estádio que Hadid desenhou para as olimpíadas de Tóquio, em 2020, acabou por fazer com que a sua construção fosse cancelada.
“O seu trabalhado é certamente especial”, continua Cook, que foi seu professor na chegada à Londres, quando Hadid tinha apenas 22 anos, chamando a atenção para a sua capacidade invulgar para identificar jovens talentos e para influenciar todos aqueles com quem trabalha. “Nas últimas três décadas ela tem-se aventurado onde poucos ousariam: se Paul Klee levou a linha a passear, Zaha pegou nas superfícies conduzidas por essa linha numa dança virtual, [depois] dobrou-as habilmente e arrastou-as para uma viagem no espaço.”
“Coscuvilheira e divertida em privado”, Hadid tem sido prejudicada, garante Cook, pelo facto de muitos arquitectos se sentirem desconfortáveis com o seu talento e de só admitirem o seu elevado grau de autoconfiança a realizadores e treinadores de futebol.
Não é a primeira vez que Hadid é distinguida pelo RIBA. Além de vários prémios europeus do instituto, a arquitecta recebeu duas vezes o Stirling, com o MAXXI, o museu de arte contemporânea de Roma, em 2010, e a Evelyn Grace Academy, em Londres, no ano seguinte.
Em 2004, Zaha Hadid fora já a primeira mulher a ganhar o prémio Pritzker, considerado o Nobel da arquitectura, instituído em 1979 pela Fundação Hyatt. Dez anos depois, em 2014, a arquitecta foi também a primeira mulher a receber o Design of the Year Award na categoria de Museus, pelo Centro Cultural Heydar Aliyev.