As leis da gravidade
Sem ser um grande filme, Evereste mostra o que o cinema para o grande público pode ser quando é feito com sobriedade e justeza.
Entendendo-se por “isto” um filme “classe média”, propulsionado por um elenco sólido mas de segunda linha, sem grandes estrelas que puxem carroça (Keira Knightley e Jake Gyllenhaal, na prática, são participações especiais), e marcando o “exame de admissão” do islandês Baltasar Kormákur (Contrabando, 2011; 2 Tiros, 2013) à “primeira divisão”. Ora está precisamente nesse desfasamento entre expectativas e concretizações a mais-valia do filme.
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Entendendo-se por “isto” um filme “classe média”, propulsionado por um elenco sólido mas de segunda linha, sem grandes estrelas que puxem carroça (Keira Knightley e Jake Gyllenhaal, na prática, são participações especiais), e marcando o “exame de admissão” do islandês Baltasar Kormákur (Contrabando, 2011; 2 Tiros, 2013) à “primeira divisão”. Ora está precisamente nesse desfasamento entre expectativas e concretizações a mais-valia do filme.
História verídica de uma expedição ao Evereste em 1996 que uma tempestade tornou num desastre, resultando em cinco mortos, o filme utiliza as modernas técnicas do cinema-espectáculo (3D, écrã IMAX de grande dimensão) para contar um drama intimista do homem face à Natureza e a si próprio — Todd van der Werff, no site Vox, falava de Evereste como “o Gravidade do alpinismo” e não é nada descabido. Evereste começa por chamar o espectador pela espectacularidade das imagens, mas são as histórias das pessoas, e as pessoas destas histórias, que mais interessam a Kormákur, mesmo que parte delas se limitem a entrar por sair (há, no entanto, que felicitar a justeza do elenco, que dá a primazia a actores de composição e lhes permite a todos nem que seja uma cena para mostrarem ao que vêm).
Este não é um filme de heróis e vilões, nem uma história linear de um triunfo pessoal; é uma coisa muito mais difusa, com mais nuances, mais dramatismo, mais ambiguidade, que tem lá dentro mais do que parece. É um filme sério, talvez sisudo em demasia, mas que faz sentir ao espectador o peso de cada passo e de cada decisão, que traduz de modo sensorial a dificuldade e o esforço de subir a uma montanha — e nessa “gravidade” nunca escamoteada sugere um outro percurso possível para o moderno cinema de grande público de Hollywood, colocando a técnica ao serviço da história e preferindo a sobriedade (talvez demasiado discreta, é verdade) ao espalhafato. Não o torna um grande filme, mas faz dele um objecto francamente interessante.