OCDE diz que mais de 100 mil portugueses deixaram o país em dois anos
Embora a sua quota esteja a crescer, as mulheres representam apenas um terço de todos os emigrantes, segundo o relatório da OCDE, que refere "os emigrantes qualificados são cada vez mais numerosos, especialmente aqueles que vão para o Reino Unido ou Noruega.
"A emigração de cidadãos portugueses aumentou com a recessão, nomeadamente depois de 2010. O número de emigrantes a longo prazo foi estimado em 52.000 em 2012 e 53.800 em 2013, contra 23.700 em 2010", referiu o estudo publicado em Paris.
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"A emigração de cidadãos portugueses aumentou com a recessão, nomeadamente depois de 2010. O número de emigrantes a longo prazo foi estimado em 52.000 em 2012 e 53.800 em 2013, contra 23.700 em 2010", referiu o estudo publicado em Paris.
O documento referiu ainda que "o número total de emigrantes (de curta e longa duração) situou-se em 128.100 em 2013, dos quais 96% portugueses e somente quatro por cento de estrangeiros -- proporções idênticas ao ano anterior".
Ou seja, 122.980 portugueses deixaram o país e 5.120 estrangeiros saíram de Portugal naquele ano.
Os países da Europa ocidental, indicou o relatório, continuam com o primeiro destino (mais de 60% de saídas em 2013) dos emigrantes portugueses, mas certos países não europeus, como o Brasil e sobretudo Angola, tornaram-se destinos importantes.
"Embora a sua quota esteja a crescer, as mulheres representam apenas um terço de todos os emigrantes", segundo o documento, indicando ainda que "os emigrantes qualificados são cada vez mais numerosos, especialmente aqueles que emigram para o Reino Unido ou para a Noruega".
No total, um saldo migratório negativo de 36.200 pessoas foi registado em Portugal, no ano de 2013, segundo a OCDE.
O Governo português confirmou que, desde 2010, a emigração tem aumentado "muito rapidamente", adiantando que em 2012 deverão ter saído de Portugal "mais de 95 mil" pessoas, segundo o Relatório da Emigração 2014, divulgado pelo Observatório da Emigração.
De acordo com este documento, a tendência de emigração está a ter maior impacto nas zonas urbanas, especialmente na Grande Lisboa e, além dos "destinos tradicionais", os portugueses estão agora a optar por novos lugares, situados "nos mais variados pontos do mundo".
O Governo refere "três conjuntos de países de emigração". Brasil, Canadá, Estados Unidos e Venezuela acolhem emigrantes em "grande volume", mas trata-se de populações "envelhecidas e em declínio", pois actualmente registam uma "redução substancial" na chegada de novos portugueses, segundo o relatório do Observatório da Emigração.
Países como Alemanha, França e Luxemburgo, "com grandes populações portuguesas emigradas envelhecidas, mas em crescimento", têm registado "uma retoma" desta emigração.
Por último, surge "um conjunto de novos países de emigração", que atrai populações jovens, como é o caso do Reino Unido, "hoje o principal destino" dos portugueses (50 por cento) e também "o mais importante polo de atracção" dos mais qualificados.
De acordo com o Relatório da Emigração 2014, haverá mais de 2,3 milhões de emigrantes portugueses, número que mais do que duplica se se acrescentar os seus descendentes.
Mais naturalizações
Se é verdade que a crise fez com que mais portugueses saíssem do pais, a recessão também teve efeito na permanência de estrangeiros. Os números revelam que, entre 2009 e 2013 devido à crise, Portugal deixou de ser um país tão atractivo para a procura de uma vida melhor do que nos seus países de origem. O número de estrangeiros a viver em Portugal passou dos 454.000 em 2009 para 401.320 em 2013, segundo os dados da OCDE.
De acordo com o relatório Perspectivas das Migrações Internacionais -- 2015", o número total de estrangeiros vivendo em Portugal sofreu assim uma queda de quase quatro por cento em relação ao ano anterior (2012)". "Este recuo é explicado pela recessão económica e pela subida no número de naturalizações", indicou ainda o relatório anual da OCDE.
"À excepção dos cidadãos de países asiáticos e, mais recentemente, da América do Norte, o número de estrangeiros provenientes de todos os continentes diminuiu", indicou o estudo.
Segundo dados recolhidos junto do Ministério da Solidariedade, Emprego e Segurança Social, "o número de trabalhadores estrangeiros situou-se em 114.000 em 2013, 4,5% dos trabalhadores abrangidos por esta fonte, dos quais se excluem os trabalhadores independentes e a maioria dos funcionários públicos".
As categorias "actividades de serviços administrativos e apoio" e "actividades de alojamento e restauração" representam cada uma 19% do emprego estrangeiro, vindo a seguir "comércio grossista e retalho", "reparação de veículos (14%) e "actividades transformadoras" (10%).
Segundo os serviços públicos de emprego, 27.800 estrangeiros foram registados como desempregados em 2014, a taxa mais baixa desde 2008, tendo sofrido uma queda de 20% em relação a 2013.
"No total, um saldo migratório negativo de 36.200 pessoas foi registado em 2013", segundo o relatório da OCDE.
Após um ligeiro aumento em 2012, o número de vistos de longa duração recuou novamente em 2013, para os 14.400, essencialmente devido à queda do número de vistos de estudantes, que passaram de 8.700 em 2012 para 3.300 (23% do total) em 2013.
No entanto, o aumento do número de vistos de trabalho acelerou, situando-se em 5.000 (42% do total) em 2013, mais do que os 3.200 em 2012.
Mais de um quarto dos vistos de trabalho em 2013 foram para trabalhadores altamente qualificados e outros 2.700 vistos de longa duração (19% do total) foram passados por razões familiares.
Mais uma vez, o Brasil é o principal país de origem dos requerentes de vistos de longa duração, com 28% do total, embora a sua importância tenha diminuído, segundo o estudo.
Os países lusófonos representaram 4.400 vistos de longa duração em 2013, tendo cidadãos europeus obtido 1.200 vistos, incluindo os 480 requerentes da Europa de Leste.
A queda do número de novas autorizações de residência que começou em 2008 e continuou em 2013, caindo para 33.220 autorizações, um decréscimo de 54% ao longo deste período.
A composição dos detentores de autorizações de residência em 2013 modificou em relação ao ano precedente: os brasileiros são duas vezes menos (6.700), representando um quinto do total, enquanto o número de cidadãos da União Europeia fica relativamente estável (12.900 em 2013).
O número de autorizações emitidas aos nacionais de países que aderiram à UE aumentou ligeiramente. Os cidadãos de países asiáticos e da Oceânia obtiveram 5.400 autorizações de residência (16% do total) em 2013, mil a mais do que em 2012.
O número de requerentes de asilo aumentou desde 2008, chegando a 510 em 2013, mas caiu em 2014, ficando nos 440 pedidos, mas que ainda é um número superior em relação à década anterior.
Se os pedidos de asilo da Síria, Guiné-Conacri, Nigéria e Senegal têm diminuído, o número de requerentes de asilo da Ucrânia tem aumentado significativamente, passando de dois em 2013 para 160 (36% do total) em 2014.
O número de naturalizações situou-se em 24.500 em 2013, um aumento de 12% em relação a 2012. Os países africanos lusófonos representam 38% do total e o Brasil 21%, em proporções semelhantes aos anos precedentes.
"Um novo regime aplicável aos investidores imigrantes, previsto na lei sobre a migração de Outubro de 2012 e que entrou em vigor em Setembro de 2012, visa atrair imigrantes qualificados e aqueles que queiram investir no país", indicou o estudo, referindo-se aos chamados "vistos gold", explicando inclusive os investimentos necessários para o efeito: 500 mil euros para projectos imobiliários e um milhão de euros para a criação de uma empresa e pelo menos 10 postos de trabalho.
O relatório referiu ainda os mais de 2.000 vistos de residência emitidos nesta categoria até 2014. A maioria destes vistos é emitida para chineses, depois para russos e angolanos.