Fraude em teste de emissões leva Volkswagen a desastre na bolsa
Acções caíram 19% em Frankfurt.
As acções do grupo – que é também dono de marcas como a Audi, a Skoda, a Seat e a Porsche – fecharam nos 132 euros, o valor mais baixo em praticamente três anos. É uma descida abrupta que veio acentuar a queda que a cotação tem vindo a sofrer desde o pico de Março, altura em que ultrapassou os 250 euros, antes de a desaceleração da economia chinesa ter assustado os investidores.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
As acções do grupo – que é também dono de marcas como a Audi, a Skoda, a Seat e a Porsche – fecharam nos 132 euros, o valor mais baixo em praticamente três anos. É uma descida abrupta que veio acentuar a queda que a cotação tem vindo a sofrer desde o pico de Março, altura em que ultrapassou os 250 euros, antes de a desaceleração da economia chinesa ter assustado os investidores.
O escândalo que rebentou na sexta-feira, quando a Agência de Protecção Ambiental dos Estados Unidos anunciou que a fabricante estava a enganar as medições de emissões tóxicas em alguns modelos a diesel, acabou por dar origem a um pedido de desculpas no domingo e ao anúncio de que a venda de alguns automóveis seria suspensa. Inevitavelmente, as suspeitas estenderam-se à Europa: nesta segunda-feira, as autoridades da Alemanha exigiram que a empresa prove que não manipulou os testes semelhantes feitos neste país.
O episódio é um revés para os planos da empresa alemã, que tem uma presença relativamente pequena nos EUA, mas onde tinha ambições de crescimento. Em 2014, as vendas de automóveis ligeiros de passageiros fabricados pelo grupo tinham caído 2% naquele país, para cerca de 599 mil unidades – o que correspondente a pouco mais de 6% das vendas totais. Nos primeiros seis meses deste ano, tinha posto no mercado 295 mil automóveis, mais 2,4% do que em igual período do ano passado.
Os EUA são o segundo maior mercado automóvel do mundo (atrás da China) e são dominados pelos fabricantes americanos e japoneses. A Volkswagen e a Audi, as duas mais populares marcas do grupo alemão naquele país, têm uma quota de mercado de 2,7%. A maioria das vendas são de veículos da marca Volkswagen.
A fabricante instalou software em carros a gasóleo que fazia com que estes emitissem muito menos gases poluentes quando estavam a ser testados do que quando estavam na estrada. De acordo com a Agência de Protecção Ambiental, as emissões de um gás poluente associado a asma e outras doenças pulmonares serão dez a 40 vezes superiores aos limites legais. O software está instalado em 482 mil carros, comercializados desde 2008, dos modelos Jetta, Beetle, Golf, Passat e Audi A3. Estes automóveis serão agora chamados às oficinas, mas poderão continuar a circular e a ser vendidos legalmente.
O grupo Volkswagen disputa com a Toyota o lugar de maior fabricante automóvel do mundo, um título essencialmente simbólico, tendo conseguido a dianteira, por uma margem ligeira, no primeiro semestre deste ano. Em Portugal, é dono da fábrica portuguesa Autoeuropa, que produz em Palmela quatro modelos, nenhum dos quais faz parte da lista identificada pela agência americana.
A fraude fragiliza a liderança do presidente executivo, Martin Winterkorn, que está no cargo há oito anos e que recentemente sobreviveu a uma luta de poder interna. "Pessoalmente, lamento profundamente que tenhamos quebrado a confiança dos nossos consumidores e do público. Faremos tudo o que for necessário para reverter os danos causados", afirmou Winterkorn, num comunicado.
A empresa reconheceu a falha, diz estar a colaborar com as autoridades e anunciou que vai simultaneamente conduzir um processo de averiguações levado a cabo por uma entidade externa. Também suspendeu as vendas dos modelos de 2015 e 2016 de automóveis Volkswagen e Audi com motores a diesel de quatro cilindros, bem como as vendas de veículos usados dos modelos em que o software problemático está instalado.
O caso foi descoberto quando um grupo ambientalista europeu chamado Conselho Internacional para o Transporte Limpo decidiu usar os carros feitos pela Volkswagen para o mercado americano (bem como um modelo BMW) como exemplo de que era possível fabricar carros a diesel com níveis baixos de poluição. Depois de fazerem testes aos veículos (o da BMW passou), perceberam que havia discrepâncias entre os dados obtidos e os resultados dos testes oficiais.
As autoridades começaram a investigar o assunto em Maio do ano passado. De acordo com a agência Bloomberg, a empresa está também a ser investigada pelo Departamento de Justiça.