Chovem teatros, barragens e auto-estradas sobre António Costa

Dirigentes locais aproveitam travessia de líder pelo interior para pedir mais obra e mais betão.

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Só que, antes das eleições, os candidatos têm de atravessar o país em campanha, para apresentar as suas propostas e ouvir as suas reivindicações. E ao fim de dois dias de interior, o que o secretário-geral foi escutando do PS profundo, ecoava também das memórias profundas. Os dirigentes locais pediram investimento público.

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Só que, antes das eleições, os candidatos têm de atravessar o país em campanha, para apresentar as suas propostas e ouvir as suas reivindicações. E ao fim de dois dias de interior, o que o secretário-geral foi escutando do PS profundo, ecoava também das memórias profundas. Os dirigentes locais pediram investimento público.

Tanto em Portalegre como em Castelo Branco, o que Costa ouviu foi o apelo a todo tipo de  obra pública, por quem os locais suspiravam há quatro anos.

O bombardeamento começou no comício de sábado, ironicamente organizado num parque de estacionamento. Habituado aos velhos tempos, o ex-dirigente Ceia da Silva conseguir disparar a Costa, numa única curta frase, um caderno de encargos de alguns milhões de euros. “Temos de recuperar, temos de dizer isto ao futuro primeiro-ministro, precisamos ainda de investimento público, precisamos ainda de obras de solidariedade para com o distrito, a barragem do Pisão, a continuação do IC13, o cluster aéreo em Ponte de Sor, a plataforma logística em Elvas.” Luís Testa, o cabeça de lista, ao menos fez o esforço de explicar porque o distrito necessitava da barragem. “Nós deputados do PS nunca nos vamos esquecer que é necessário construir aquela barragem porque nos traz riqueza e ela paga-se ela mesma, porque é assim que as coisas são, porque é um investimento que se paga a si próprio.”

Curiosamente, o fantasma da barragem não construída voltou perseguir Costa mesmo quando mudou de distrito. No almoço da Covilhã, o presidente da câmara, socialista, tentou mesmo amarrar Costa à obra. “Estamos certos que com António Costa vamos concluir a barragem das Cortes”, disse no almoço com militantes. E foi por ali fora, também, como acontecer com Ceia no dia anterior. Com Costa no Governo, a cidade ia “assistir à beneficiação da linha férrea Guarda-Covilhã” e até “recuperar o nosso teatro municipal”.

A cabeça de lista por Castelo Branco, Hortense Martins, não foi tão longe. Não houve referências a teatros, é verdade. Mas também aproveitou para meter a cunha à sua barragem. Neste caso, a do Alvito. Mas tanta retenção de água para quê? “O interior não precisa de caridade, o que quer é aquilo que tem direito, para dar mais PIB ao país”

António Costa evitou como pôde esses apelos do PS profundo. O máximo que se lhe ouviu dizer foram as referências à instalação de unidades de saúde local e a defesa de apoios à fixação de pessoas no interior. Como no caso dos médicos. À porta do Hospital da Covilhã defendeu um programa de incentivos à fixação de profissionais da saúde no interior. Ou então, abrir a porta ao fim de algumas portagens, quando admitiu a “reavaliação das obrigações contratuais” do Estado em relação às concessionárias. Por forma “a permitir, quer nas regiões do interior quer em todas as regiões fronteiriças e ainda em zonas de particular afluxo turístico, como é o caso da Via do Infante, eliminar e criar condições para que se possam criar melhores condições de acessibilidade".

Afinal, Costa estava amarrado ao seu programa eleitoral. Onde os socialistas colocaram preto no branco que os investimentos públicos dos próximos quatro anos eram os que já tinham sido aprovados com as verbas europeias. E onde, também, assinaram o compromisso de avançar com grandes obras apenas com maiorias qualificadas no Parlamento.

E por isso ficou calado, seguindo a máxima que um cidadão lhe atirou em Alpedrinha – durante a Feira dos Chocalhos - quando o viu ficar mudo perante um pedido de um amigo. “O calado vence tudo, já eu ouvia do meu pai.”