Cenas caóticas na fronteira da Croácia, com refugiados a furar cordão policial

Apesar das garantias de passagem pela Croácia, os refugiados depararam-se com uma barreira da polícia antimotim. Ministro do Interior diz que o país atingiu a sua capacidade de acolhimento e prometeu tratar os indocumentados como imigrantes ilegais.

Foto
Em muitos países têm existido manifestações de apoio ou contra os refugiados Antonio Bronic/Reuters

O caos está instalado na fronteira da Sérvia para a Croácia, que perante a fortaleza erguida pelo Governo de Budapeste, se tornou a via alternativa de acesso ao espaço Schengen da União Europeia para milhares de refugiados.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O caos está instalado na fronteira da Sérvia para a Croácia, que perante a fortaleza erguida pelo Governo de Budapeste, se tornou a via alternativa de acesso ao espaço Schengen da União Europeia para milhares de refugiados.

Segundo o relato da AFP, centenas de pessoas a pé forçaram a barreira policial, cruzaram a fronteira e preparavam-se agora para caminhar até Zagreb pela linha do caminho-de-ferro, debaixo de um sol abrasador. Depois de horas de pé à espera, os refugiados desistiram de esperar pelos transportes organizados pelas autoridades sérvias para o país vizinho – e também pelos autocarros prometidos pelo Governo croata da fronteira para a capital.

Imagens do local mostram várias pessoas em dificuldades físicas, desidratadas e inanimadas no chão depois de furarem o cordão da polícia. O correspondente da BBC viu um homem sofrer um ataque cardíaco. Também houve problemas entre os refugiados acotovelados para entrar nos autocarros. E segundo a Sky News, cenas idênticas repetiam-se no posto de Batina, na Croácia.

Foto

Quarta-feira, o primeiro-ministro croata, Zoran Milanovic, prometeu que ao contrário do vizinho do lado, o país não fecharia as portas às populações desesperadas e que a passagem segura através da Croácia seria facilitada. “Poderão passar pela Croácia, estamos a trabalhar para isso. Estamos preparados para receber essas pessoas, independentemente da sua religião e da cor da pele, e reencaminhá-los para os seus destinos preferidos”, garantiu.

Mas esta quinta-feira, as autoridades fizeram saber que os refugiados que entrarem no país terão de preencher pedidos de asilo político, se não serão tratados como imigrantes clandestinos. Em declarações que vão num sentido totalmente oposto ao do chefe do Governo, o ministro do Interior, Ranko Ostojic, disse que a Croácia estava assoberbada e não tinha condições de aceitar mais refugiados, depois de mais de sete mil pessoas terem entrado no país em menos de 48 horas, informando que todas as pessoas que entrassem sem documentação válida seriam considerados imigrantes ilegais. Mas nem essa ameaça logrou suster o movimento na fronteira.

Apesar da confusão momentânea, que jornalistas estrangeiros atribuíam à angústia e frustração dos grupos parados na fronteira, não se registaram confrontos entre as autoridades e os refugiados, nem cenas de violência. A polícia croata tentou manter um cordão de segurança, mas verificada a ruptura, não recorreu à força para travar a entrada no país. Na véspera, o Governo da Hungria deu ordem para a polícia afastar os refugiados da fronteira com canhões de água e gás lacrimogéneo, uma decisão criticada pelo secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, como “chocante” e “inaceitável”.

Além dos riscos esperados, as regiões por onde os refugiados se propõem caminhar – assim como as áreas de fronteira convertidas em campos de acolhimento improvisados – escondem um perigo suplementar: as minas deixadas para trás depois do desmoronamento da Jugoslávia e dos conflitos nos Balcãs, e que ainda não foram desmanteladas. Em declarações a The Guardian, a directora da Campanha Internacional para a Proibição de Minas Terrestres, Megan Burke, manifestou extrema preocupação com a segurança dos refugiados que se encontram em Tovarnik, que fica apenas a 12 quilómetros de um campo minado durante a guerra.

Vários grupos de voluntários, tanto do lado sérvio como na Croácia, estão a distribuir mapas com a localização das áreas minadas e com conselhos práticos aos refugiados: evitar sair das estradas, não transpor a fronteira fora das estações alfandegárias e prestar atenção aos sinais que alertam para a existência de minas.

Na Alemanha, a polícia federal anunciou a detenção de 18 suspeitos de tráfico humano na fronteira com a Áustria e de outros quatro na ligação com a República Checa. Em 24 horas, foram detectadas 7266 entradas de cidadãos indocumentados vindos da Áustria, disseram as autoridades, acrescentando que 4600 pessoas continuavam a aguardar, do outro lado da fronteira, pela sua vez.

O Presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, convocou os chefes de Estado e de Governo dos 28 para uma cimeira extraordinária de líderes na próxima quarta-feira. O único ponto na agenda da reunião é a discussão da crise de refugiados em território europeu: o objectivo, explicou, é tentar alcançar um “consenso” para a “resposta” à emergência em curso.

Um plano apresentado pela Comissão, que prevê a redistribuição de 120 mil refugiados por 22 países, com base num sistema de quotas obrigatórias, não passou pelo crivo dos ministros europeus no início da semana. Esta quinta-feira, esse mecanismo de recolocação de pessoas com necessidade de protecção internacional foi votado e aprovado pelo Parlamento Europeu, que assim abriu a porta à adopção da mesma proposta na cimeira ministerial da próxima semana.