O discurso da inclusão
Repare-se: todos os refugiados são vigaristas e bombistas; todos os refugiados são porcos e miseráveis; todos os refugiados sabem usar armas, todos...
Sim, claro, as próximas linhas são sobre os refugiados. São poucas e, se tudo correr bem, não são coisa para ofender ninguém. São uma proposta de discurso inclusivo. Este é um tempo próprio para dar relevo a um discurso abrangente, massificado, o chamado discurso de autocarro, de fila de trânsito, ou mesmo de pátio de faculdade, que aborda o problema da crise dos refugiados com uma característica inclusiva que não pode ser descuidada. É o discurso do “todos”. E antes mesmo de julgarmos o que se diz nesse discurso, penso que poderíamos fazer o exercício de o alargar, de alastrar essa inclusão, de forma a que nos sintamos verdadeiramente incluídos. Todos incluídos.
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Sim, claro, as próximas linhas são sobre os refugiados. São poucas e, se tudo correr bem, não são coisa para ofender ninguém. São uma proposta de discurso inclusivo. Este é um tempo próprio para dar relevo a um discurso abrangente, massificado, o chamado discurso de autocarro, de fila de trânsito, ou mesmo de pátio de faculdade, que aborda o problema da crise dos refugiados com uma característica inclusiva que não pode ser descuidada. É o discurso do “todos”. E antes mesmo de julgarmos o que se diz nesse discurso, penso que poderíamos fazer o exercício de o alargar, de alastrar essa inclusão, de forma a que nos sintamos verdadeiramente incluídos. Todos incluídos.
Repare-se: todos os refugiados são vigaristas e bombistas; todos os refugiados são porcos e miseráveis; todos os refugiados sabem usar armas como quem usa a pasta dos dentes (ou melhor até!); todos os sírios são muçulmanos e pertencem ao estado islâmico (inclusive os cristãos); todo os padres são pedófilos; e tarados sexuais; todos os jovens com menos de 25 anos são absolutamente incultos e mal-educados; todos os brancos são ricos; todos os bebés são lindos; todos os engravatados são decentes; todos os sem-abrigo em Portugal são abandonados, esquecidos e passam fome; todos os políticos são corruptos; todos os professores são preguiçosos e dão erros de português; todos os jornalistas são tendenciosos e/ou ignorantes; todos os colunistas da imprensa são pagos a peso de oiro; todos os do rendimento mínimo são preguiçosos (e ganham mais do eu!); todos os que estão com baixa não querem é trabalhar; todos os artistas são arrogantes; todos os comunistas comem crianças ao pequeno-almoço (Bloco de Esquerda e Livre Tempo de Avançar é ao "brunch"); todos os militantes e simpatizantes do PSD são fascizóides colonialistas; todos os militantes e simpatizantes do PS gostam de chamuças; todos os patrões são exploradores e os empregados explorados (válido também ao contrário); todos os brasileiros sabem dançar samba; todos os portugueses cantam o fado (e nenhum dos dois é racista!); todos os africanos dançam e tocam batuque; todas as notícias do Facebook são falsas; todas as notícias do Facebook são verdadeiras; todos os estrangeiros são inteligentes; todos os alemães são nazis; todos os italianos (homens e mulheres) são bons como o milho; todos os russos são corruptos e pertencem à máfia; todos os funcionários públicos são incompetentes; todos os taxistas são vigaristas; todos os advogados fogem ao fisco (e todos os médicos!); todas as companhias de seguros são para nos roubar; todas as peixeiras vendem peixe podre; todos os imigrantes são de desconfiar; todos os emigrantes são de louvar (coitados!...); todos somos humanos.
P.S. Há algumas pessoas que insistem em contrariar o que é óbvio para todos. Como é o caso do economista Amartya Sen que, no prefácio do seu livro “Identidade e Violência – A ilusão do destino” (editado em Portugal em 2007) afirma: "É bem provável que as perspectivas de paz no mundo contemporâneo dependam do reconhecimento da pluralidade das nossas afiliações e do uso da reflexão, assumindo-nos enquanto vulgares habitantes de um vasto mundo e não como reclusos encarcerados em pequenos compartimentos." A ser assim destruía-se a história única que tanto nos conforta e isso seria desgastante, obrigaria a que as respostas não fossem imediatas, e que, mais grave que tudo isso, tivéssemos que fazer uma introspeção social para percebermos que somos falíveis, misturados e singularmente responsáveis por uma parcela do que é comum. E na verdade estamos todos ocupados, não temos tempo nem vontade para esse exercício.