BCE preparado para reagir a decisão da Fed

Se Fed adiar subida de taxas, Mario Draghi poderá reforçar compra de dívida para evitar subida do euro.

Foto
Estão em Frankfurt, no BCE, alguns dos espectadores mais atentos ao anúncio da Fed Ralph Orlowski/Reuters

A questão centra-se sobretudo na forma como pode reagir a taxa de câmbio entre o dólar e o euro. Quando iniciou, no passado mês de Março, o seu programa de compra de dívida pública nos mercados, a autoridade monetária da zona euro conseguiu que a sua divisa se depreciasse de forma muito significativa face ao dólar.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A questão centra-se sobretudo na forma como pode reagir a taxa de câmbio entre o dólar e o euro. Quando iniciou, no passado mês de Março, o seu programa de compra de dívida pública nos mercados, a autoridade monetária da zona euro conseguiu que a sua divisa se depreciasse de forma muito significativa face ao dólar.

Isso serviu claramente os propósitos de Mario Draghi, uma vez que, com uma divisa mais fraca, não só é possível oferecer um maior estímulo à economia por via da competitividade externa das empresas, como se consegue importar alguma inflação, uma vez que bens vindos de fora da zona euro acabam por ficar mais caros.

Por isso, se a Fed subir taxas de juro, isso pode ser visto como uma ajuda para o objectivo do BCE de manter a sua divisa a níveis baixos face ao dólar. Esta tem sido, em larga medida, a expectativa dos mercados, pelo que a actual taxa de câmbio entre as duas divisas leva já em conta a possibilidade de a política monetária nos Estados Unidos se tornar menos expansionista.

Pelo contrário, um cenário em que a Fed anuncie que, afinal, não irá começar a subir taxas de juro já este ano, defendendo que é melhor esperar por mais indicadores económicos que dêem conta da recuperação do PIB, do emprego e da inflação, pode criar problemas ao BCE.

Nesse caso, os mercados poderiam reagir com uma recuperação do valor do euro face ao dólar, o que voltaria a tornar os bens importados mais baratos e retiraria alguma da competitividade ganha pelas empresas europeias face aos seus rivais internacionais.

Nesse caso, Mario Draghi, que também tem visto o iuan a cair face ao euro nos últimos meses, poderia ver-se forçado a ir mais longe nas medidas de carácter extraordinário que tem vindo a tomar.

Esta semana, os responsáveis do BCE já deram sinais aos mercados de que estão prontos para reagir rapidamente a qualquer impacto negativo vindo dos Estados Unidos. Vítor Constâncio, o vice-presidente da instituição, deixou claro que “se necessário, há espaço de manobra” para aumentar o programa de compra de activos. “O montante total que comprámos representa 5,3% do PIB da zona euro, enquanto aquilo que a Fed fez representa quase 25% do PIB dos EUA, o que Banco do Japão fez representa 64% do PIB japonês e o que o Reino Unido fez representa 21% do PIB do Reino Unido”, disse, lembrando que na última conferência de imprensa, Mario Draghi afirmou que a dimensão, composição e duração do actual programa de compra de activos pode mudar.

Isto significa que, caso seja preciso, o BCE está disponível para comprar mais dívida pública no mercado do que aquela que foi anunciada: 60 mil milhões de euros ao mês até Setembro de 2016.