Uma imagem que faz pressão sobre a Europa
Não é o discurso político, mas uma imagem que faz pressão sobre a Europa.
Em Abril uma proposta de resolução comum do Parlamento Europeu dava conta da urgência em acolher os refugiados em solo da União e evitar mais mortes no mar. Em sintonia com a Comissão Europeia, sentia-se a esperança de ajudar aqueles que estão a fugir da morte. No momento de execução das orientações, o Conselho Europeu recusou a proposta destas duas instituições e as mortes continuaram sob o olhar dos responsáveis políticos enquanto os media contabilizavam naufrágios e afogamentos.
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Em Abril uma proposta de resolução comum do Parlamento Europeu dava conta da urgência em acolher os refugiados em solo da União e evitar mais mortes no mar. Em sintonia com a Comissão Europeia, sentia-se a esperança de ajudar aqueles que estão a fugir da morte. No momento de execução das orientações, o Conselho Europeu recusou a proposta destas duas instituições e as mortes continuaram sob o olhar dos responsáveis políticos enquanto os media contabilizavam naufrágios e afogamentos.
Na última quarta-feira, em Estrasburgo, Jean-Claude Juncker fez um discurso humanista, diria até socialista, que nos comoveu a quase todos. Mas, na verdade, não foi o discurso político mas uma imagem que fez pressão sobre a Europa. A imagem de um menino morto com o rosto escondido na areia de uma praia da Turquia.
Não demorou a indignação de milhões de cidadãos que exigiam acção política. Mas também foram rápidas as manifestações contra o acolhimento de homens e mulheres que, com filhos nos braços, fogem do fogo de Assad e das facas do ISIS. Estão encurralados.
O que escolheríamos nós?
Eles escolheram jangadas a fingir de barcos a transbordar de perigos e medos. Fogem da perseguição à procura da sobrevivência e da esperança. Orientam-se por uma coragem que, provavelmente, nunca nenhum de nós sentirá.
Olham para a Europa como o lugar onde todos somos bem-vindos. No caso português, o ainda governo PSD/CDS tem estado muito aquém das suas obrigações. A Europa também.
Era suposto ser este o velho continente dos valores mais nobres e humanistas. Aquele que já tantos abrigou e que, num passado não tão longínquo, percebeu os custos da perseguição que mata a diferença.
Olhando para alguns discursos demasiado inflamados, fiquei com a clara ideia de que a nossa matriz valorativa transfigurou-se numa uma espécie de histeria surda. A questão não é sermos contra ou a favor. A questão é que se alguém cai é nossa obrigação ajudá-lo a se levantar.
António Guterres discursa esta terça-feira no Parlamento Europeu. Será sem dúvida, um discurso que trará um novo alento e esperança.
Mas enquanto não passarmos aos actos não podemos esquecer uma terra de miséria. Uma terra coberta de pedras e carcaças de prédios. Um mundo onde as crianças e os jovens têm um preço. Um mundo onde uma menina vale um maço de tabaco. Um mundo onde uma jovem de 23 anos foi vendida vinte e duas vezes, onde os irmãos são degolados, os pais queimados vivos e as mães apedrejadas.
Imaginemos um mercado que nos tapa a cara e o corpo numa alma que já não existe e que será vendida a quem der mais um cigarro.
Se ainda nos sobrarem forças imaginemos que somos uma dessas pessoas.
Não fugíamos de um mundo assim?
Eurodeputada do Partido Socialista, vice-presidente da Cultura na Delegação do EUROMED