Guterres "desapontado" e "sob choque" com a falta de acordo sobre os refugiados
Alto Comissário para os Refuguiados considera que "se a fronteira húngara se mantiver fechada", deve ser dada "uma resposta de emergência centrada na Sérvia"
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Guterres revelou que, ao acordar esta manhã, às 05h00, "ainda sob o choque das notícias" de horas de antes - referindo-se à falta de acordo entre os 28 -, pensou que o importante é ter então um "plano B", que passará necessariamente por "avançar com o que pode ser feito imediatamente", na ausência de um acordo definitivo.
Nesse contexto, considerou que "se a fronteira húngara se mantiver fechada", deve ser dada "uma resposta de emergência centrada na Sérvia", onde vem ser criada capacidades de acolhimento e assistência, e começar daí, imediatamente, o programa de recolocação de refugiados, até porque se aproxima o inverno.
Sem mencionar os Estados-membros que têm estado a impedir um compromisso, António Guterres recorreu ao exemplo do sucedido na década de 1950 com a Hungria, hoje um dos Estados-membros que mais se opõe a um sistema europeu de acolhimento de refugiados, para estabelecer uma comparação, na qual a Europa fica hoje a perder, realçou.
"Há 59 anos tivemos a primeira grande crise de refugiados europeia depois da II Guerra Mundial, foi a crise húngara de 1956. Nessa altura, 200 mil húngaros foram para a Áustria (180 mil) e Jugoslávia. Na altura não havia (o acordo de livre circulação de) Schengen. Mas as fronteiras foram abertas, e da Áustria foi possível lançar um programa de relocalização, tendo 140 mil húngaros sido levados para outros países europeus e o realojamento teve lugar em menos de três meses", disse.
Guterres comentou então que "na altura a integração europeia estava a começar, não havia União Europeia, mas pelo menos essa parte da União que podia estar unida esteve unida, para proteger os húngaros vítimas da opressão e ditadura", enquanto "hoje, infelizmente, há uma União Europeia, mas a Europa já não está unida, está dividida".
O responsável das Nações Unidas advertiu ainda que, no plano da batalha ideológica que hoje se trava, a Europa também está a comprometer a defesa dos seus valores, pois rejeitar receber sírios, sobretudo se o motivo for por serem muçulmanos, "é algo que ajuda à propaganda do Estado Islâmico".