Histerias sociais: nudez

A nudez deixou de ser a coisa mais natural do mundo para se tornar uma das maiores obsessões sociais e algo permanentemente conotado com a actividade sexual

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Guy MOLL/ Reuters

Num livro clássico dos anos sessenta, Desmond Morris cunha os seres humanos de macacos nus. E é bem verdade: somos primatas, mas com muito pouco pêlo. E nascemos completamente nus, sem nada a proteger a pele. Aliás, não é por acaso que existe a expressão “está como veio ao mundo” como sinónimo de nudez.

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Num livro clássico dos anos sessenta, Desmond Morris cunha os seres humanos de macacos nus. E é bem verdade: somos primatas, mas com muito pouco pêlo. E nascemos completamente nus, sem nada a proteger a pele. Aliás, não é por acaso que existe a expressão “está como veio ao mundo” como sinónimo de nudez.

A nudez devia ser, então, a coisa mais natural do mundo para um ser humano. Porém, as transformações da sociedade que originaram a invenção do vestuário (por questões de protecção e enfeite) acabaram por, mais tarde, dar azo a que se desenvolvesse um tabu sobre a nudez. Com tudo isso, a nudez deixou de ser a coisa mais natural do mundo para se tornar uma das maiores obsessões sociais e algo permanentemente conotado com a actividade sexual (quando não tem que ser esse o caso).

As religiões também se encarregaram de castigar a nudez (ex. a era vitoriana, no passado, ou as "burkas" da actualidade), criando-se o caldo perfeito para a histeria social.

Hoje, vivemos num mundo altamente mediatizado e conectado. Qualquer pessoa pode ver corpos nus facilmente num computador ou num "smartphone". Ainda assim, o tabu da nudez mantém-se e a histeria social não desvanece. E o paradoxo instala-se: a nudez (parcial) é sistematicamente usada como arma publicitária (em revistas, jornais, na TV e na internet) enquanto a nudez total é alvo de todo o tipo de proibições. Fotos de nudez parcial altamente sexualizadas podem ser capa de revista, mas imagens de nudez frontal (ou até meros vislumbres de mamilos femininos) são completamente banidas do Facebook ou dos horários nobres da TV.

Todos os dias somos invadidos por notícias de episódios em que a nudez é o ponto focal: dos defensores dos direitos dos animais que se despem para chamar a atenção para a protecção dos bichinhos, das feministas que exibem as mamas para defender os direitos das mulheres, até desportistas, artistas ou políticos que se despem para ganhar mais uns minutos da nossa atenção, ou de uns incautos turistas montanheiros que se despiram por diversão e são presos por irritar os deuses das montanhas e provocar terramotos em terras distantes…

Nesta matéria, penso que os povos protestantes e laicos do norte da Europa (nórdicos, holandeses ou alemães) são os que estão mais desenvolvidos, pois são aqueles para quem a nudez é tão natural como nunca devia ter deixado de ser.

Enfim, considero toda esta obsessão com a nudez um pouco imatura, fazendo lembrar os adolescentes que “nunca viram”. Mas ainda preservo a esperança que a nudez volte a ser tão normal e banal como foi nos primórdios da humanidade.