Consumo de bebidas alternativas ao leite disparou 19% num ano

Embora muito longe da dimensão do mercado de lacticínios, as bebidas de soja e outros vegetais estão a crescer a dois dígitos, ao mesmo tempo que o leite cai 7%. Da gigante Alpro, aos investimentos nacionais da Nutre, a indústria não espera menos do que bater recordes de vendas.

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A fábrica da Nutre, em Vagos, produz para a grande distribuição e já tem 70% do mercado nacional Adriano Miranda

A Alpro, gigante do sector e líder de mercado em Portugal, está a crescer 20% ao ano no nosso país não só com bebidas de soja mas, sobretudo, com outras opções vegetais, iogurtes, natas e sobremesas. Ann De Jaeger, porta-voz da empresa belga, diz que as bebidas de soja ainda crescem mas é nas versões de amêndoa e coco que o “boom” se está a registar. O valor de mercado da bebida de amêndoa cresce 3,5 vezes; o do coco seis vezes.

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A Alpro, gigante do sector e líder de mercado em Portugal, está a crescer 20% ao ano no nosso país não só com bebidas de soja mas, sobretudo, com outras opções vegetais, iogurtes, natas e sobremesas. Ann De Jaeger, porta-voz da empresa belga, diz que as bebidas de soja ainda crescem mas é nas versões de amêndoa e coco que o “boom” se está a registar. O valor de mercado da bebida de amêndoa cresce 3,5 vezes; o do coco seis vezes.

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“Ao início estes produtos eram vistos como um nicho, para consumidores que tinham uma necessidade, seja intolerância alimentar ou alergia, ou alguma questão de saúde específica. Hoje a Alpro tem uma grande variedade de produtos vegetais que estão disponíveis nas maiores cadeias de supermercados”, detalha. A multinacional antecipa subidas nas vendas, dizendo que os consumidores procuram opções “mais holísticas” do ponto de vista do bem-estar. A tendência de um pequeno-almoço saudável está a alavancar a mudança, continua Ann De Jaeger.

Longe vão os tempos em que era preciso ir a lojas da especialidade para encontrar as bebidas vegetais. E além dos gigantes da indústria, como a Alpro ou a espanhola Vive Soy (a segunda maior), há agora nas prateleiras produtos com a marca das cadeias de distribuição. A mudança de hábitos alimentares também fez nascer novas empresas, como a Nutre, que a partir de Vagos, no distrito de Aveiro, produz bebidas vegetais com os logotipos dos supermercados e está a exportar a sua marca, a Shoyce, para a Ásia.

“Esta era uma categoria 100% importada. A Aplro e a Vive Soy tinham o mercado e, agora, temos 70% de quota. Fomos ao encontro do que o consumidor mundial quer”, diz João Vítor, director de negócio da Nutre, detida em 80% pelo fundo Orchadia liderado pelo paquistanês Asif Naqvi, e em 20% pela da Martifer.

Dos seis mercados para onde exporta a Shoyce, a Nutre quer passar para dez. Em 2014, o primeiro ano de actividade, facturou 4,6 milhões de euros e espera chegar aos 8,5 (ou mesmo dez milhões) se os clientes estrangeiros responderem de forma positiva ao produto. “Estamos agora a finalizar a nossa entrada na 7Eleven que tem 3500 lojas só em Hong Kong”, diz João Vítor.

Em Portugal, a Shoyce está a crescer todos os meses “de forma expressiva”. O responsável diz que o consumidor quer continuar a beber leite e o que a empresa faz é oferecer “algo muito próximo”. “Mantemos a propriedade da soja, mas oferecemos leite no sentido em que mantemos o sabor, a textura, a cor e a oferta nutricional”, argumenta.

Por que cai o leite?
Fernando Cardoso, Fernando Cardoso, secretário-geral da Fenalac, a federação das uniões de cooperativas leiteiras, diz que chamar leite a uma bebida de soja é incorrecto e proibido. “O leite tem um papel muito importante na alimentação de todos. Está generalizado. De há uns anos para cá o que se passa é que, como é um mercado muito atractivo, há um conjunto de bebidas que querem entrar”, defende. A soja, argumenta, “é um produto altamente processado, industrializado e muito pouco natural, apesar de estar a ser vendido como algo ligado à natureza”.

A queda no consumo de leite é visível (7% no último ano) mas não é explicada por uma substituição directa deste produto por bebidas vegetais. A dimensão dos dois não se compara: de um lado são 489 milhões de litros, do outro são 18,8 milhões (dados Nielsen). Os portugueses também estão a comer menos iogurtes, mas compraram mais queijo (1%). Ao mesmo tempo, bebem mais refrigerantes (3%) e néctares (10%). O envelhecimento da população é um dos factores pode ajudar a explicar a mudança, tal como o aumento das alergias e intolerâncias alimentares, mas talvez o mais relevante seja a recente profusão de estudos sobre as desvantagens do leite na dieta diária. “Todos falam sobre isso, quem tem habilitações e quem não tem habilitações. Não é um lobby per si é uma tendência, um conjunto de ataques ao leite [em contraponto com] as bebidas de soja, à manteiga - com, imagine-se, o aparecimento de cremes vegetais que até dizem que têm sabor a manteiga - que se alavancam nas propriedades dos lacticínios”, conclui Paulo Costa Leite, director geral da Associação Nacional dos Industriais de Lacticínios. 

Há sete mil toneladas de leite em pó armazenado
Com o preço do leite ao consumidor a recuar para níveis de há 20 anos e o valor pago aos produtores a não ser suficiente para cobrir os custos, a armazenagem de produto tem sido utilizada para  conter os danos. Paulo Costa Leite, director-geral da Associação Nacional dos Industriais de Lacticínios (ANIL) recorda que, até agora, “não houve um litro de leite que fosse para o esgoto em Portugal”. “A indústria mantém-no todo dentro de portas em manteiga e leite em pó, com o impacto que isso tem nas margens e na imobilização financeira”, diz. De acordo com o responsável, há actualmente sete mil toneladas de leite em pó armazenado. “O recurso à secagem é a alternativa quando há excedentes”, disse, sublinhando que este cenário se verifica desde o início do ano.

Os ministros da Agricultura da União Europeia voltam, amanhã, a reunir-se para discutir as ajudas aos produtores de leite e o pacote de 500 milhões de euros que Bruxelas anunciou para travar a crise, não só nesta produção, mas também na carne de suíno. O embargo da Rússia aos produtos agrícolas da UE, a contracção do consumo na China e o fim das quotas na produção e leite conjugaram-se numa “tempestade perfeita” que afecta os produtores. Por saber, está a forma como as ajudas serão repartidas entre Estados-membros.