Setúbal celebra 250 anos de Bocage trazendo a sua obra para o século XXI

Contra o esquecimento, a homenagem pretende “trazer Elmano Sadino para o século XXI” e internacionalizar a sua obra.

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Miguel Madeira

As comemorações arrancam oficialmente na próxima terça-feira, 15 de Setembro, dia de nascimento do poeta e feriado municipal de Setúbal, com a cerimónia do hastear da bandeira no edifício da Câmara Municipal e o lançamento do selo postal nacional referente aos ‘250 Anos do nascimento de Bocage’ e do “Meu Selo”, produtos dos CTT e do Instituto Nacional Casa da Moeda (INCM) evocativos da efeméride.

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As comemorações arrancam oficialmente na próxima terça-feira, 15 de Setembro, dia de nascimento do poeta e feriado municipal de Setúbal, com a cerimónia do hastear da bandeira no edifício da Câmara Municipal e o lançamento do selo postal nacional referente aos ‘250 Anos do nascimento de Bocage’ e do “Meu Selo”, produtos dos CTT e do Instituto Nacional Casa da Moeda (INCM) evocativos da efeméride.

O principal objectivo do ano de comemorações é reavivar a memória sobre Bocage que, segundo a organização, não tem o reconhecimento nacional que merece. “Queremos trazer Bocage para o Século XXI”, sintetiza Maria das Dores Meira, presidente da Câmara de Setúbal.

A iniciativa pretende que “a cidade, os setubalenses e todos os que fazem de Setúbal a sua terra, se apropriem do poeta, que o sintam como seu”, diz a autarca.

“É uma oportunidade quase única de colocar Bocage no seu devido lugar na literatura e na cultura portuguesas” disse ao PÚBLICO Daniel Pires, presidente do Centro de Estudos Bocageanos (CEB) e membro da comissão científica das comemorações.

“Por razões várias, Bocage está de alguma forma esquecido, não ocupa o lugar que deveria, quando é de facto um dos maiores poetas portugueses de sempre”, afirma o investigador.

Em declarações ao PÚBLICO, a presidente da Câmara Municipal defende que “Bocage é um dos maires poetas portugueses, equiparado a Luís Vaz de Camões ou Fernando Pessoa” e afirma o “grande orgulho” de Setúbal por ser o berço do poeta.

“É um privilégio para Setúbal ter o feriado municipal no dia de um poeta, diferentemente da maioria dos municípios portugueses que dedicam o seu dia municipal a um santo” destaca Dores Meira.

Quanto às causas do relativo esquecimento em que caiu o nome e a obra do poeta sadino, o investigador Daniel Pires, aponta duas razões principais; o decurso do tempo e a especificidade da escrita bocageana.

“A poesia de Bocage é extremamente difícil, não é uma poesia fácil. Por um lado é um poeta popular mas, por outro, a sua poesia não é assim tão apetecível como isso. Ler e gostar de Bocage não é fácil.” O especialista refere ainda que “250 anos é muito tempo e a sociedade em que viveu é completamente diferente da nossa.”

O ano de celebração de Elmano Sadino, como também é conhecido o poeta natural da cidade do Sado, é uma organização do Município de Setúbal em colaboração com o CEB e mais 25 instituições de todo o país.

O vasto programa de comemorações envolve as escolas e associações culturais e recreativas do concelho de Setúbal e, segundo o vereador com o pelouro da Cultura na autarquia sadina, a receptividade já demonstrada pela comunidade educativa deixa antever grande participação.

“Neste grupo, para o qual estão pensadas dezenas de actividades, está apenas uma ínfima parte de todo o programa comemorativo”, disse Pedro Pina, apontando para um total de 250 iniciativas no total dos 12 meses de celebrações.

Internacionalizar obra
A internacionalização da obra de Bocage é o segundo grande objectivo traçado pela organização das comemorações. A presidente da autarquia setubalense aponta a necessidade de “internacionalizar mais Elmano Sadino” e Daniel Pires explica que a “internacionalização é possível” através da tradução da poesia bocageana.

“Estamos a trabalhar nesse sentido, precisamos que a sua poesia esteja disponível em francês, em inglês e em castelhano, e neste momento procuramos tradutores e editores da sua obra nestes países”, disse o investigador.

Segundo o presidente do CEB, “as coisas estão bem encaminhadas” e a organização conta fazer publicação de edições em português-francês, português-inglês e português–castelhano até ao final do ano das comemorações.

Em Setembro de 2016 deverá ter lugar também um congresso de encerramento, com investigadores de vários países, que, de acordo com Daniel Pires, “é outra forma de internacionalização”.

Apesar do referido esquecimento, a obra de Bocage revela actualmente alguma dinâmica editorial.

A Biblioteca Nacional publicou há um mês uma antologia, preparada por Daniel Pires, com fábulas de Bocage em braille, o alfabeto para invisuais. Para esta terça-feira está previsto também o lançamento de uma biografia ilustrada de Elmano Sadino, com o título ‘Bocage: a Imagem e o Verbo’, preparada pelo mesmo especialista e editada pela Imprensa Nacional Casa da Moeda

Daniel Pires, fundador do Centro de Estudos Bocageanos, que estuda e divulga Bocage há 20 anos, é doutorado pela Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Nova de Lisboa com tese sobre Bocage, intitulada ‘A transgressão em Bocage’.