Cavaco apela a que todos votem "independentemente de futebóis"
Chefe de Estado afirma que pré-campanha está a ser menos crispada e tensa do que em 2011.
"Fiquei surpreendido que se tenha quebrado esta tradição de não ocorrerem jogos de futebol no dia das eleições. E, tendo eu anunciado o dia da eleição no dia 22 de Julho, nessa altura pensei que os organismos do futebol e os clubes conseguiriam encontrar calendários adequados para que a tradição se mantivesse", afirmou Cavaco Silva, em Setúbal.
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"Fiquei surpreendido que se tenha quebrado esta tradição de não ocorrerem jogos de futebol no dia das eleições. E, tendo eu anunciado o dia da eleição no dia 22 de Julho, nessa altura pensei que os organismos do futebol e os clubes conseguiriam encontrar calendários adequados para que a tradição se mantivesse", afirmou Cavaco Silva, em Setúbal.
E deixou um apelo a todos os portugueses para que não deixem de votar: "Podem ir [ao futebol], mas antes ou depois não deixem de exercer o seu direito de voto, porque o que está em causa no nosso país é muito, muito importante.”
Recordando igualmente que na mensagem que dirigiu ao país a 22 de Julho sublinhou que "era altamente desejável" que, depois das eleições, Portugal tivesse "um governo com apoio maioritário na Assembleia da República", insistiu que o julgamento cabe aos eleitores a 4 de Outubro.
"Por isso, independentemente de 'futebóis' ou de qualquer outro desporto ou outro evento, não deixem de ir votar", repetiu, considerando que "os portugueses vão fazer um esforço para conciliar o seu entusiasmo futebolístico com a responsabilidade que lhe cabe ".
Na semana passada foi anunciado que Benfica, FC Porto e Sporting vão jogar na sétima jornada da I Liga portuguesa de futebol, a 4 de Outubro.
Na altura, contactado pela Lusa, o porta-voz da Comissão Nacional de Eleições (CNE) afirmou "que a lei não proíbe as actividades normais e correntes" no dia das eleições. Contudo, "tem havido a opinião consensual de que não é adequado" a realização de jogos de futebol no mesmo dia e, em 40 anos de democracia, esta será a primeira vez que tal acontece em dia de eleições para a Assembleia da República. "Diria que é pouco sensato misturar as duas coisas. Não é proibido, mas não é recomendável", frisou João Almeida.
Esta terça-feira, no fim de uma sessão plenária da CNE, João Almeida reiterou a posição. "A Liga deu as razões por que manteve os três jogos [do Benfica, do FC Porto e do Sporting]. Continuamos a entender que não deveria haver eventos com grande aglomerado de pessoas e que obriguem a deslocações para longe das áreas de residência.”
A CNE desaconselhou a realização de eventos do género em dias de eleições, pois, além de poderem contribuir para a abstenção, podem causar "problemas sérios devido à proximidade dos jogos às assembleias de voto".
Casos judiciais
Em Setúbal, Cavaco Silva considerou ainda que o período de pré-campanha está ser menos crispado e tenso do que nas eleições anteriores e espera que os casos judiciais fiquem fora da campanha.
"Comparando com campanhas anteriores, parece muito claro que o nível de crispação e de tensão é muito menor. Esta é a fase em que cabe aos partidos políticos explicar e esclarecer os portugueses sobre os seus programas e espero que se continue a fazer isso com serenidade", afirmou.
Questionado sobre se não teme que as questões de Justiça possam perturbar o debate eleitoral, corroborou o que "de forma sensata todos os agentes que participam nesta campanha têm dito” – que "os casos judiciais pertencem à Justiça".
"Não comento qualquer caso judicial e espero bem que aquilo que tem sido o comportamento bastante generalizado dos agentes políticos se mantenha até ao fim da campanha", frisou. Cavaco escusou-se ainda a comentar o facto de o antigo primeiro-ministro José Sócrates ter sido várias vezes referido no debate entre o presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, e o secretário-geral do PS, António Costa, com o argumento que não fará "qualquer declaração que possa ser vista como tendo incidência na campanha eleitoral". Cavaco Silva, que remeteu para os comentadores políticos o "julgamento" do frente-a-frente, revelou que viu apenas "uma parte do debate".
Ainda sobre o tom em que está a decorrer a pré-campanha, e quando questionado sobre se uma eventual moderação pode indiciar um caminho para o consenso, o chefe de Estado disse acreditar que todos vão "aprendendo alguma coisa nesta matéria".
"Eu próprio no dia 22 de Julho, quando fiz uma comunicação ao país, fiz um forte apelo a que as forças políticas se empenhassem acima de tudo no esclarecimento dos portugueses e que deixassem de lado as crispações, os insultos, as tensões e penso que até este momento isso está a verificar-se de alguma forma. Agora devemos aguardar com serenidade a chegada do dia 4 de Outubro", defendeu.
Para o Presidente, só no período pós-eleitoral é que se conhecerá a posição de cada um dos partidos, recorrendo ao exemplo de outros países europeus: "Há uma campanha de esclarecimento durante o tempo fixado na lei, mas depois o que é normal e tem acontecido em todos os países da Europa é que cada um coloca sobre a mesa os seus programas eleitorais e tentam fazer os respectivos ajustes no caso de ninguém conseguir a maioria absoluta."