Há cada vez mais provas de que o Estado Islâmico produz e ataca com armas químicas
Acredita-se que os jihadistas não são os únicos com armas químicas na Síria. Nações Unidas vão enviar nova equipa de investigadores e o principal suspeito é, novamente, Bashar al-Assad.
A informação foi transmitida nesta quinta-feira à BBC por um responsável norte-americano que não foi identificado, mas que a emissora britânica assegura ter conhecimento das investigações iniciadas este ano por Washington e pelas Nações Unidas. “Estão a usar [gás] mostarda”, afirma. “Vimo-los a fazê-lo em pelo menos quatro ocasiões em ambos os lados da fronteira – tanto no Iraque como na Síria." É utilizado em pó e inserido em outros explosivos. Embora habitualmente não seja letal, o gás mostarda causa graves ferimentos na pele e olhos, e danos em órgãos internos. As sequelas podem durar 40 anos.
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A informação foi transmitida nesta quinta-feira à BBC por um responsável norte-americano que não foi identificado, mas que a emissora britânica assegura ter conhecimento das investigações iniciadas este ano por Washington e pelas Nações Unidas. “Estão a usar [gás] mostarda”, afirma. “Vimo-los a fazê-lo em pelo menos quatro ocasiões em ambos os lados da fronteira – tanto no Iraque como na Síria." É utilizado em pó e inserido em outros explosivos. Embora habitualmente não seja letal, o gás mostarda causa graves ferimentos na pele e olhos, e danos em órgãos internos. As sequelas podem durar 40 anos.
Há gravações que o dizem demonstram. As últimas foram divulgadas ainda esta semana e mostram crianças com dificuldades em respirar nos arredores de Aleppo, a maior cidade na Síria, há três anos disputada entre o exército de Bashar al-Assad, grupos rebeldes e jihadistas. Em Agosto, o Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão, que treinava combatentes curdos no Norte do Iraque, disse ter recolhido “indícios de um ataque com armas químicas” às milícias. No final do mesmo mês foi um general norte-americano a dizê-lo. Espera-se apenas pela conclusão oficial das investigações.
Não há certezas sobre como os jihadistas conseguiram o gás mostarda. Sabe-se, porém, que é uma substância relativamente fácil de preparar. E que, segundo o responsável ouvido pela BBC, os jihadistas “têm uma pequena célula activa de desenvolvimento de químicos” e que estão a tentar melhorar a produção de toxinas.
Há outras explicações possíveis. Como, por exemplo, a de que o grupo tenha capturado armazéns de químicos nas suas conquistas na Síria e Iraque, em 2014. O Governo iraquiano admitiu que os extremistas se apoderaram de uma antiga unidade produção com vestígios de agentes tóxicos. Mas o mais provável é que a maioria destes químicos tenha sido encontrada e destruída pelo exército norte-americano durante a sua ocupação do Iraque.
O autoproclamado Estado Islâmico não é o único que tem armas químicas na Síria. As Nações Unidas propuseram em Agosto que seja enviada uma equipa de especialistas que investigue quais são os grupos com agentes tóxicos e quem os está a usar. A proposta só foi aprovada nesta quinta-feira, dadas as objecções da Rússia. Para além das dúvidas sobre o financiamento da expedição, Moscovo quis garantir que “a soberania” da Síria seria respeitada. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, garantiu entretanto que a equipa de especialistas consultará com o Governo sírio e será “razoável” nos seus pedidos de inspecção. Há razões para preocupação: um dos principais suspeitos de utilização de armas químicas na Síria é, uma vez mais, Bashar al-Assad.
Regime químico
Ninguém na Síria usou armas químicas com a mesma devastação do que a que foi causada por Assad em Agosto de 2013, quando o seu regime bombardeou os arredores de Damasco com gás Sarin. Morreram cerca de 1400 pessoas nos bairros residenciais de Ghuta. Entre elas mais de 400 crianças. Nunca Assad esteve tão próximo de uma intervenção externa como nesse mês de Agosto. Salvou-o uma resolução das Nações Unidas para o seu desarmamento químico, negociada entre russos e norte-americanos.
O Presidente sírio abriu mãos de 1180 toneladas de agentes químicos ao longo de um ano. Era suposto que a Síria estivesse livre destas armas em Junho de 2014, mas não foi isso que aconteceu. Acredita-se hoje que há mais grupos com agentes tóxicos do que o Estado Islâmico. Como a Frente al-Nusra, por exemplo, o poderoso satélite da Al-Qaeda na Síria. E, acima de tudo, Assad. Há provas substanciais de que o Presidente sírio está novamente a usar agentes tóxicos para não perder terreno na guerra e que, ao fazê-lo, está outra vez a atingir civis.
O Congresso norte-americano recebeu um conjunto de documentos recolhidos por uma rede de médicos que opera na Síria, o Conselho Americano e Sírio de Médicos, que, segundo dizem, são prova de mais de três dezenas de ataques de cloro lançados por helicópteros do regime entre Março e Junho. Morreram pelo menos dez pessoas e outras 530 ficaram feridas. A Human Rights Watch documentou também vários ataques de cloro em Idlib ao longo do mês de Março e, em Junho, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, afirmou que “estava absolutamente” certo que o regime utilizara estas armas em zonas residenciais.
O Governo sírio nega-o. “É outra falsa narrativa dos governos ocidentais”, disse em Abril Bashar al-Assad. “Não o usámos. Não precisamos de o usar. Temos o nosso armamento convencional e conseguimos atingir os nossos objectivos sem isso.”