A intervenção cívica, os mentecaptos e os seus seguidores
Em Portugal, a forma de fazer política está gasta. Não há já um único argumento capaz de entusiasmar os portugueses
Aproximam-se as eleições legislativas. Os portugueses decidem o futuro do país no dia 4 de Outubro. A primeira questão que podemos e devemos colocar é: por que é que os portugueses não votam? “Não acredito” e “não vale a pena” são os motivos mais indicados.
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Aproximam-se as eleições legislativas. Os portugueses decidem o futuro do país no dia 4 de Outubro. A primeira questão que podemos e devemos colocar é: por que é que os portugueses não votam? “Não acredito” e “não vale a pena” são os motivos mais indicados.
Em Portugal, a forma de fazer política está gasta. Não há já um único argumento capaz de entusiasmar os portugueses. Não há credibilidade na performance dos agentes políticos. De quem é a culpa? Não vamos discutir o sexo dos anjos. A verdadeira questão é: o que podemos fazer para inverter esta tendência?
É sempre bom recordar a história e as palavras que alguns autores nos deixaram. Quando Guerra Junqueiro escreveu, em 1896, sobre “partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar”, não podia imaginar que, 119 anos depois, se poderiam replicar na íntegra as suas palavras.
À esquerda não encontramos uma mudança de discurso desde que Salazar caiu da cadeira (quando ainda reuniam em segredo) e à direita temos extremistas mesclados de nacionalistas que conseguem mostrar menos bom senso que o omnipresente da Velha Senhora. Ao centro, meus caros, temos a repetição da história arcaica que Guerra Junqueiro testemunhou e eternizou nas palavras supracitadas.
Quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha? Eis a questão que serve de mote para outra reflexão: a intervenção cívica dos mais novos. Sim, porque tudo tem um princípio. E o reflexo da política à portuguesa faz-se notar na geração que dá os primeiros passos na intervenção cívica. Aqui encontramos o primeiro problema: o poder suga e vicia. É o ópio de um bando de jovens mentecaptos que, não se lhes reconhecendo quaisquer capacidades, se dedicam a ocupar um lugar por conveniência de terceiros. Não têm crédito porque não têm ideias e projectos. Não se dedicam. Ninguém lhes reconhece sequer uma vã tentativa de fazer algo mais que ostentar um pseudo-poder que de nada lhes serve. Porquê? O que não lhes permite viver, não lhes concede poder. Viver é experimentar, fazer algo novo e proveitoso e sentir orgulho na hora de o apresentar.
Esses jovens não vivem. Aliás, manietados e apatetados, habitam a vida e os projectos de terceiros. É aqui que tudo começa. É assim que se faz política. Felizmente, como em tudo na vida, há o reverso da moeda e alguns, poucos, mostram que estão capacitados para o desafio a que se propõem. Citando novamente Guerra Junqueiro, os outros, os apatetados, não podem continuar a fazer parte de uma sociedade “cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter (...)”. É tempo de mudar este maldito paradigma.
Comecemos pelos mais novos e terminemos nos mais velhos. Não digam que não vale a pena. Não chorem a desgraça, quando são coniventes com quem a perpetua. Estar em condições de fazer a diferença e ficar em casa é imperdoável. Poder votar e optar pela abstenção é um crime moral contra a sociedade. Não chorem depois. Não façam greves. Não reclamem da ineficácia de quem não sabe mais e é empurrado para o poder. Até porque não tem o direito a criticar quem não cumpre o dever de votar. E assim vai este país, a intervenção cívica, os mentecaptos e os seus seguidores.