França envia aviões contra EI, mas a guerra na Síria não tem fim à vista

Crise dos refugiados pressiona líderes europeus a agir contra radicais. ONU diz que beligerantes têm meios para manter guerra durante "vários mais anos".

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Os aviões franceses vão começar terça-feira os voos de reconhecimento na Síria Anne-Christine Poujoulat/AFP

Os aviões franceses – como os de uma dezena de outros aliados ocidentais – participam desde o Verão passado nos ataques liderados pelos EUA contra as posições extremistas no Iraque. Paris resistia, no entanto, a estender as operações à Síria, insistindo como muitos dos seus congéneres que os ataques (protagonizados até agora por árabes e americanos) iriam favorecer o regime do Presidente Bashar al-Assad. Mas depois de mais um ano sem qualquer gesto diplomático de relevo e perante a evidência que só o caos está a ganhar terreno na Síria, Hollande revê a sua posição.

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Os aviões franceses – como os de uma dezena de outros aliados ocidentais – participam desde o Verão passado nos ataques liderados pelos EUA contra as posições extremistas no Iraque. Paris resistia, no entanto, a estender as operações à Síria, insistindo como muitos dos seus congéneres que os ataques (protagonizados até agora por árabes e americanos) iriam favorecer o regime do Presidente Bashar al-Assad. Mas depois de mais um ano sem qualquer gesto diplomático de relevo e perante a evidência que só o caos está a ganhar terreno na Síria, Hollande revê a sua posição.

O Daash, como os árabes preferem tratar o autoproclamado Estado Islâmico, “está no Iraque e na Síria e são os massacres que comete que levam milhares de famílias a fugir”, explicou Hollande numa conferência de imprensa no Eliseu em que deu a entender que Paris poderá agir à margem da coligação, ao dizer que pretende manter “autonomia de acção e decisão” nas operações na Síria. Sem entrar em detalhes sobre a mudança de estratégia, Hollande disse apenas que o EI “aumentou consideravelmente as suas operações nos últimos anos” e que é na Síria “que estão a ser organizados os atentados contra vários países, incluindo a França”.

Pouco depois, o primeiro-ministro britânico revelou no Parlamento que, a 21 de Agosto, um drone da Força Aérea atacou e matou um combatente britânico do EI em Raqqa, na Síria. David Cameron alega que o país exerceu “o direito de autodefesa”, dizendo que Reyaad Khan estava a planear ataques em solo britânico. A imprensa adianta que Londres está a ponderar estender à Síria as operações contra o EI, mas Cameron assegurou que se a decisão vier a ser tomada irá pedir nova autorização ao Parlamento.  

Mas se a crise de refugiados impele o mundo a agir, todos os sinais indicam que os esforços em curso não estão a dar frutos e, pior, são contraproducentes.  

O New York Times noticia nesta segunda-feira que o Pentágono está a rever o seu programa de treino de rebeldes moderados sírios – um das âncoras da estratégia do Presidente Barack Obama para combater o EI – face aos resultados decepcionantes de um programa orçado em 500 milhões de dólares. Dos cinco mil homens que deveriam ter sido treinados num ano, apenas 54 concluíram a formação e, no seu regresso à Síria, uma dezena foi capturada pela Frente al-Nusra, o braço da Al-Qaeda no país, que atacou também o aquartelamento do grupo, no noroeste do país, e deteve o seu comandante. “Os americanos fizeram asneira”, disse ao jornal o líder de um dos grupos moderados que aderiu à iniciativa, sublinhando que nunca um grupo tão pequeno poderia ter regressado ao país sem apoio.

Hollande, como Obama ou Cameron, recusa o envio de tropas para a Síria, apesar de os últimos meses terem confirmado as limitações dos ataques aéreos. O EI “consolidou a sua influência sobre vastas partes das províncias do Norte e Leste da Síria” e “está a expandir-se para novas áreas do centro e Sul”, revela o último relatório da Comissão de Inquérito à Síria, já depois de o Pentágono ter admitido que a capacidade de recrutamento do EI supera os 15 mil jihadistas que terão sido mortos no último ano.

E se Assad tem vindo a perder posições estratégicas, estando cada vez mais dependente das milícias xiitas vindas do Irão e do Líbano, são os jihadistas quem mais tem ganho com estes recuos, com excepção da província de Deraa, no Sul, onde a oposição apoiada pela Jordânia e EUA tem obtido vitórias tácticas. “Nenhum dos beligerantes parece perto de colapsar ou em posição de garantir um triunfo militar”, lê-se no relatório entregue em Agosto ao Conselho de Segurança, acrescentando que todas as partes “obtiveram canais de apoio, ganhos territoriais e capacidades operacionais para manter a guerra durante vários mais anos”.

E quanto mais países se envolvem militarmente no conflito, mais complexa se torna a sua resolução. A diplomacia “está bloqueada pelas posições irredutíveis dos beligerantes, reforçado pelo impasse político dos seus apoiantes internacionais”, sublinha um relatório divulgado na semana passada pelo International Crisis Group, considerando “virtualmente nulas” as hipóteses actuais de uma solução política. Uma realidade que levou o secretário-geral da ONU a denunciar o impasse que se mantém no Conselho Segurança desde o início da guerra, em 2011. Os seus membros permanentes precisam de “pôr de parte os seus interesses nacionais”, afirmou Ban Ki-moon, sublinhando que sem isso a ONU continuará de mãos atadas.