Joana Amaral Dias sobre a nudez: “Porque não?”

A cabeça de lista por Lisboa da coligação Agir reconhece que a sua decisão de posar sem roupa na capa de uma revista a um mês das eleições tem uma intenção política. Mas há riscos, dizem especialistas.

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Indignada com as interrogações dos jornalistas – ainda que reconheça que “não são uma surpresa” -, a cabeça de lista por Lisboa da coligação Ag!r/PTP/MAS assume ao PÚBLICO que se tratou de uma “decisão pessoal” na “plenitude da mulher e da candidata, que são uma só”, e atira-se à “hipocrisia” da comunicação social e de “muitas pessoas que se dizem libertárias e de esquerda”.  

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Indignada com as interrogações dos jornalistas – ainda que reconheça que “não são uma surpresa” -, a cabeça de lista por Lisboa da coligação Ag!r/PTP/MAS assume ao PÚBLICO que se tratou de uma “decisão pessoal” na “plenitude da mulher e da candidata, que são uma só”, e atira-se à “hipocrisia” da comunicação social e de “muitas pessoas que se dizem libertárias e de esquerda”.  

“As minhas intenções foram mostrar que a comunicação social é capaz de passar como cão por vinha vindimada pelos programas e propostas eleitorais [dos pequenos partidos], mas depois não larga o osso” quando um candidato assume uma atitude inédita como a sua. A candidata tornou-se a primeira política portuguesa ao posar nua com o companheiro na capa de uma revista que foi para as bancas a um mês das eleições legislativas.

As reacções negativas, afirma, “não me põem a nu a mim, põem a nu essa hipocrisia”. E isso não é uma mera constatação, mas um objectivo assumido, além da vontade de falar sobre a sua gravidez de risco, sobre a maternidade e as questões da natalidade.

Joana Amaral Dias assume que a sua decisão foi pessoal, embora “trabalhada com as pessoas do Agir”, mas não partilhada com os parceiros de coligação, nomeadamente Gil Garcia, dirigente do Movimento Alternativa Socialista (MAS) e cabeça de lista pelo Porto.

Gil Garcia não gostou
Certo é que Gil Garcia não gostou do “fait divers”. “Joana Amaral Dias é senhora do seu corpo e livre de usar a sua imagem, mas também é cabeça de lista por Lisboa de uma coligação e deve ter calculado que esta iniciativa ia ser analisada do ponto de vista político. Como tal devia ter sido articulada com a coligação”, diz ao PÚBLICO.

Embora afirme que “a coligação não está beliscada”, Gil Garcia não esconde que “preferia que Joana Amaral Dias se distinguisse pela defesa das grandes causas políticas da coligação”, como “a união da esquerda contra as políticas da austeridade” ou “a defesa de uma moratória do serviço da dívida que sufoca os orçamentos do Estado”.

“Isto colocou a coligação na boca do mundo, mas não pelos motivos que devia ser”, diz Gil Garcia, sem tirar nenhuma conclusão sobre se isto beneficia ou prejudica a coligação.

Que efeitos poderá ter essa imagem na campanha é algo que “logo veremos”, diz Joana Amaral Dias. O consultor de comunicação João Tocha também não arrisca dizer se tal vai beneficiar ou prejudicar a candidata e a coligação, pois considera que isso vai depender da forma como as pessoas interpretam a atitude. “Se entenderem que se trata de oportunismo político, vai funcionar contra ela. Mas se entenderem que a atitude cola ao ADN da candidata e da candidatura, que quer sair fora do carril e usa esta imagem como estratégia para chamar a atenção, pode ser uma maneira de ganhar notoriedade”, diz ao PÚBLICO.

Tocha reconhece que a proposta da coligação Agir/PTP/MAS não tem conseguido notoriedade e que “isto bem pode ter sido uma estratégia para a conseguir”. Mas considera que “ultrapassou um bocado o limite, pois esta ousadia não tem sido o estilo de Joana Amaral Dias”.

"Marketing a mais"
Já outro especialista que pediu o anonimato considera que “é marketing a mais”. Este marketeer que se diz “muito pouco convencional” defende que “há convenções mínimas que o consumidor tem como guias para perceber se o ‘produto’ é fiável e que, nos políticos, se reflecte num certo decoro e pose que são um garante de que as pessoas estão na posse das suas faculdades e podem ser eleitos para cargos públicos”.

Ora, a nudez de Joana Amaral Dias representa, em seu entender, “a perda de decoro, um exagero, embora seja uma atitude normal numa actriz ou estrela de música”. “Está a ver a Hillary Clinton a fazer isto?”, questiona.

Mas Joana Amaral Dias não é a primeira política a usar o corpo como arma política. Aqui ao lado, em Espanha, pelo menos três candidatos já se despiram este ano em cartazes de propaganda. Luis Alberto Nicolás Pérez, candidato do PSOE  nas regionais da Cantábria, fez por conta própria alguns cartazes onde surgia nu, com uma rosa a esconder os genitais e uma frase: “Sou melhor que tu e tu sabes disso”. O próprio partido não gostou e os cartazes foram removidos em algumas horas, mas não se falou noutra coisa durante algum tempo.

Yolanda Couceiro Morín, candidata à câmara de Portugalete pelo Partido pela Liberdade, divulgou em Março um cartaz de campanha no qual aparece nua, com um slogan sobre seu corpo que diz: “Os políticos nos deixaram sem nada”. E Albert Rivera, candidato ao Parlamento da Catalunha pelo partido Ciutadans, posa nu, em posição de defesa à espera do livre, ao lado da mensagem “nos importa tú”.