"Airbnb para refugiados": a ideia alemã que está a contagiar a Europa
Cerca de 800 alemães já se registaram na plataforma "Refugees Welcome", onde oferecem a sua casa para receber refugiados. A ideia está a inspirar pessoas de vários países. Portugal incluído
Às vezes, Bakari Conan andava de autocarro em autocarro, noite dentro, até que as carreiras deixassem de circular. Fazia tempo para evitar as ruas. Entrava em mesquitas, rezava 30 minutos e dormia por uma hora, na paz possível. Tinha deixado o Mali em busca de uma vida, desembarcado em Itália e acabado ali, a sobreviver nas ruas de Berlim. Foi assim durante um ano — até que Jonas Kakoschke e Mareike Geiling apareceram na vida dele. Estávamos em Dezembro de 2014 e o casal alemão abria as portas de casa ao refugiado de 39 anos enquanto inaugurava, com a estudante Golbe Ebding, o "Refugees Welcome", uma plataforma que une refugiados a pessoas dispostas a recebê-los nas suas casas. Agora, centenas de alemães juntam-se à ideia — e a Europa quer replicá-la.
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Às vezes, Bakari Conan andava de autocarro em autocarro, noite dentro, até que as carreiras deixassem de circular. Fazia tempo para evitar as ruas. Entrava em mesquitas, rezava 30 minutos e dormia por uma hora, na paz possível. Tinha deixado o Mali em busca de uma vida, desembarcado em Itália e acabado ali, a sobreviver nas ruas de Berlim. Foi assim durante um ano — até que Jonas Kakoschke e Mareike Geiling apareceram na vida dele. Estávamos em Dezembro de 2014 e o casal alemão abria as portas de casa ao refugiado de 39 anos enquanto inaugurava, com a estudante Golbe Ebding, o "Refugees Welcome", uma plataforma que une refugiados a pessoas dispostas a recebê-los nas suas casas. Agora, centenas de alemães juntam-se à ideia — e a Europa quer replicá-la.
No site do jovem casal — ela tem 28, ele 31 — e da estudante Golde, baseada em Berlim, há um aviso aos jornalistas que explica bem o burburinho que se gerou nos últimos dias à volta do "Refugees Welcome". "Pedimos desculpa, mas de momento não podemos responder a emails pessoais. Estamos completamente sobrecarregados com solicitações de imprensa." É por uma boa causa: a plataforma cresceu de tal forma que os contactos chegam agora de vários países: "Estamos impressionados com a disponibilidade das pessoas para ajudarem. Estamos a receber pedidos de informação de vários países europeus como Grécia, Portugal, Escócia, mas também da Austrália e dos EUA", disse ao The Guardian um porta-voz do projecto.
Os cidadãos europeus estão a organizar-se para abrir portas aos refugiados e há várias sugestões de como ajudar (esta lista do The Independent dá cinco ideias). Na "Refugees Welcome", noticia o The Guardian, 780 alemães ofereceram a sua casa para receber refugiados e 26 pessoas já foram instaladas. A solidariedade não tem apenas um perfil: há estudantes, consultores de relações públicas e carpinteiros, pessoas de 21 ou 65 anos, casais, mães solteiras e grupos já habituados a dividir casa.
Aderir ao projecto não significa necessariamente perder o dinheiro do arrendamento do(s) quarto(s). Num terço dos casos, os custos ficam a cargo do centro de emprego ou de apoios sociais e um quarto dos arrendamentos são pagos através das doações feitas ao site. Esse é, aliás, um dos apelos dos criadores da ideia: quem quiser ajudar e não tiver um espaço disponível pode sempre contribuir com fundos que financiem a permanência de refugiados noutras casas.
Esta espécie de "Airbnb para refugiados" já ajudou pessoas provenientes do Afeganistão, Burkina Faso, Mali, Nigéria, Somália, Síria e Iraque. Foi deste último país que chegou o convidado de Johann Schmidt, um professor que decidiu inscrever-se no "Refugees Welcome" em Novembro de 2014. "Azad fala-me do seu país e consegue explicar-me de forma simples a situação actual. Aprendi muito com ele e gosto muito de ouvir as suas histórias."
Os criadores da plataforma incentivam as pessoas a ajudarem os refugiados a aprenderem alemão, de forma a facilitarem a integração deles no país. E as estadias — que devem ser, no mínimo, de três meses — não estão restringidas a refugiados "legais", explicam no site: "Queremos encorajá-lo a receber também pessoas em situações irregulares."