Carta à elite política por uma campanha decente

Podem mentir involuntariamente, mas não nos enganem. Precisamos de esperança e que nos façam sonhar com uma vida melhor

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Rafael Marchante/Reuters

Caros políticos de elite.

A verdade faz-nos mais fortes

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Caros políticos de elite.

Este é o vosso momento mais aguardado. Vão correr o país, em caravanas decoradas de bandeiras empunhando projectos ou decorados de projectos empunhando bandeiras, com os quais vão tentar convencer o eleitorado.

Com tanta azáfama as coisas confundem-se. Como ainda há esperança e algum tempo, gostava de deixar, como humilde contributo cívico, algumas sugestões de melhoria.

Hoje em dia as elites intelectuais estão cada vez mais afastadas da vida política e a população está cada vez mais informada. O mais provável é não fazerem parte dessa elite e estarem longe da população em geral. A democracia participativa é sempre uma via. Desenvolvam ideias e pensamento próprio, estudem e conheçam a realidade, tal como os modos de a suplantar.

Esqueçam as acusações. De que serve isso? Apresentem soluções, projectos alternativos e diferentes. Seguramente, se tiverem alguma qualidade nas vossas propostas e as souberem comunicar de forma simples, conseguirão despertar interesse nas pessoas, e, quem sabe, levar alguns dos imensos abstencionistas e indecisos, ainda não completamente desiludidos, a votar em vós. Mas não pensem que essa comunicação se faz com caras luzidias ou frases vazias em cartazes espalhados pelas rotundas do país, mesmo que seja um bonito enquadramento quando por elas passarem em caravana.

Podem oferecer uns brindes, umas canetas e tal, mas brindem-nos com ideias, projectos e trabalho. Os acessórios só alimentam gastos de campanha e resíduos. Dificilmente conseguiram provar que esses brindes convenceram alguém em votar em vós.

Podem mentir involuntariamente, mas não nos enganem. Precisamos de esperança e que nos façam sonhar com uma vida melhor. Construam algumas ilusões, isso é preciso, mas pelo menos tentem definir o modo as concretizar. O resto faz-se melhorando e trabalhando de um modo humilde e aberto.

Lembrem-se que os cargos políticos em democracia são coisas passageiras, não devem ser carreiras. Tais vencimentos foram criados simplesmente para que os assalariados os pudessem exercer também, em não dependerem assim de fortunas pessoais. É sempre civicamente saudável ter carreira e competências profissionais além política.

Por fim, amigos, não vos peço que sejam de facto nossos amigos, mas apenas nossos iguais. Não queiram pedir exemplos a terceiros sem os darem vocês mesmos, tal como nenhum cidadão vos deve pedir que sejam melhor que os próprios. Sejam apenas pessoas e não produtos de "marketing" eleitoral. Podem enganar-se, podem errar, tal como os cidadãos erram quando votam ou se abstém. Só não erra quem não faz.

Se puderem pensem nisto. Nada disto são verdades absolutas, são apenas contributos. Só queria que fossem melhores políticos, por nós e por vós.

Obrigado. Micael Sousa