Suspeita de vírus do Nilo obriga a combater larvas de mosquitos em Faro

Vão ser necessários quinze dias para se saber se o caso, classificado como provável, de infecção por vírus do Nilo se confirma ou não.

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Francisco George garante que os engenheiros informáticos estão a trabalhar numa solução RUI GAUDêNCIO

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Vão ser necessários “mais quinze dias” para se saber se o septuagenário, que vive em Faro, foi tratado no hospital local mas já teve alta e está curado, estaria ou não infectado com este vírus que se transmite pela picada de mosquito, especificou. A demora justifica-se porque é preciso que o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa)  proceda à confirmação laboratorial do caso, o que implica fazer “um teste de neutralização”, explicou Francisco George. O caso foi declarado provável porque o homem tinha, além de critérios clínicos para infecção com vírus do Nilo Ocidental, critérios laboratoriais  (“anticorpos específicos”), precisou ainda o director-geral.

Numa fase em que não se sabe ainda se este caso vai ser confirmado, como se explica que a DGS tenha avançado com este tipo de medidas no terreno? Basta que um caso seja declarado com provável, de acordo com a legislação nacional, para que os responsáveis pela saúde pública tenham que tomar de imediato medidas, justica.

Quando se está perante uma doença infecciosa,, o primeiro passo é perceber qual é o ponto em que a cadeia de transmissão é mais fácil interromper. Neste caso, é na fase em que as larvas ainda não se transformaram em mosquitos que faz sentido atacar. Por enquanto, as análises já efectuadas a mosquitos não revelaram a presença do vírus, mas mandam as boas práticas que a monitorização continue, tentando identificar a presença de mosquitos infectados em águas com matérias orgânicas, sobretudo estações de águas residuais.

A DGS definiu assim um perímetro de 20 quilómetros  em redor do local de residência do homem para investigar potenciais criadores e usou também um produto que mata as larvas, um substituto biológico, neste caso o Vectobac, "que actua através do Bacillus thuyingiensis", explicou Cesaltina Ramos, especialista em biocidas da DGS.  O objectivo é interromper uma eventual cadeia de transmissão, reduzindo a população de mosquitos.

A vigilância dos mosquitos já é efectuada periodicamente desde 2004, através do programa Revive (Rede de Vigilância de Vectores) pelo Insa e a DGS. Nesse ano, dois casos confirmados de infecção pelo vírus do Nilo foram detectados em dois irlandeses na Ria Formosa, no Algarve, e deram origem a um alerta a várias medidas de prevenção. Em 2010, houve um novo alerta após a detecção de um caso suspeito, em Setúbal, que não se viria a confirmar.

O cuidado é fulcral numa altura em que os especialistas temem o aparecimento ou reaparecimento de algumas doenças tropicais devido às alterações climáticas.

O caso de Faro levou segunda-feira a DGS a recomendar às autoridades e à população a adopção de medidas preventivas, como a utilização de  de repelentes e de redes mosquiteiras. O vírus não se transmite de pessoa para pessoa, mas "unicamente por picada de mosquito do género Culex", explicou então a DGS. Na forma menos grave, a doença provoca febre, dor de cabeça, dores musculares, entre outros sintomas. Em casos graves pode provocar meningite ou encefalite. Não existe um tratamento específico, nem vacinas.

O vírus do Nilo Ocidental é um vírus da família do flavivirus, semelhante a muitos outros vírus transportado por insectos. Foi identificado pela primeira vez em 1937 na região do Nilo Ocidental, no Uganda.