Enquanto milhares desembarcam na Grécia, outros milhares estão retidos na Hungria

Grupo de 100 sírios começa a ir a pé de Budapeste para a Áustria. Às ilhas gregas estão a chegar cerca de 2000 pessoas por dia

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A tensão entre os refugiados sírios e a polícia está em crescendo em Budapeste ATTILA KISBENEDEK/AFP

O Governo húngaro fechou pelo segundo dia consecutivo a principal estação de comboios de Budapeste com ligações internacionais, Keleti, a quem não tenha passaporte, impedindo que centenas de pessoas viajassem, mesmo quem tivesse comprado bilhetes de comboio no valor de centenas de euros.

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O Governo húngaro fechou pelo segundo dia consecutivo a principal estação de comboios de Budapeste com ligações internacionais, Keleti, a quem não tenha passaporte, impedindo que centenas de pessoas viajassem, mesmo quem tivesse comprado bilhetes de comboio no valor de centenas de euros.

Centenas de refugiados concentravam-se em protesto na frente da estação, pedindo “paz!” e “liberdade”. A polícia fez uma tentativa inicial de retirar os refugiados dali, sem sucesso. Ao final da tarde começavam a chegar elementos das forças especiais, dizia o correspondente da emissora alemã Deutsche Welle, no local.

A acção húngara teve reflexo imediato na Alemanha: na quarta-feira chegaram apenas 50 pessoas nos comboios da manhã para Munique, quando no dia anterior tinham chegado 2400. Berlim anunciou que iria acolher os sírios que chegassem à Alemanha independentemente do primeiro país em que fossem registados, abrindo uma excepção nas regras em vigor na União Europeia, segundo as quais o pedido de asilo tem de ser feito no país de entrada no território europeu.

Enquanto isso, na Grécia, que é cada vez mais o primeiro contacto com a Europa (já tem mais entradas do que a Itália), dois ferries levaram milhares de refugiados para Atenas – refugiados que tentarão provavelmente chegar à Alemanha através da Macedónia e da Sérvia, ultrapassando depois a barreira de arame farpado posta na fronteira pela Hungria.

Num dos ferries da ilha de Lesbos, onde na semana passada foram registados 17500 migrantes ou refugiados, para Atenas, um dos sírios pedia ajuda. “Somos humanos”, sublinhava. Este barco levava 1749 migrantes, e num segundo ferry viajavam 2500 pessoas. 

Agências humanitárias estimam que estejam a chegar às ilhas gregas cerca de 2000 pessoas por dia. A agência responsável pelas fronteiras externas da União Europeia (Frontex) indicou que chegaram à Grécia na semana passada mais de 23 mil migrantes ou refugiados, um aumento de 50% face à semana anterior. 

Com o número de pessoas a chegar à Grécia a aumentar, é previsível que o fluxo de refugiados a chegar à Hungria aumente também.

Regras mudam todos os dias
Mas não é claro o que vai acontecer uma vez que cheguem à Hungria. O país tem mudado de políticas conforme os dias: primeiro deixou os refugiados acampar na estação de Keleti, impedindo-os de embarcar nos comboios. Depois, permitiu que embarcassem, ao mesmo tempo que evacuava a estação. Agora, decidiu voltar a não os deixar seguir.

Para evitar que acampassem em qualquer local, as autoridades fizeram uma espécie de campo para os refugiados perto da estação de Keleti. Mas os primeiros a chegar ao campo foram activistas do partido de extrema-direita Jobbik, que puseram uma faixa dizendo “a Hungria não é um campo de refugiados” à entrada do local.

Jornalistas na estação de Keleti contam que, desesperados, um grupo de jovens refugiados decidiu começar às 19h (hora local) a caminhar para a Áustria. São mais de 200 quilómetros, que o Google maps estima poderem ser percorridos em mais de 40 horas.

Um dos refugiados que já não sabia o que fazer era Anoud, 30 anos, que fugiu dos jihadistas do Estado Islâmico na Síria. Com bilhetes no valor de mil euros de comboio para si e para a família, foi impedido de embarcar e não conseguiu que lhe devolvessem o dinheiro. “Só queremos sair daqui e ir para a Alemanha”, sublinhou.

Um porta-voz do Governo húngaro reagiu a estes relatos dizendo que “um bilhete de comboio não é superior às regras da União Europeia”, segundo as quais é preciso pedir asilo no primeiro país de entrada.

A organização Migration Aid criticou o executivo de Budapeste: “a retórica do governo húngaro demonizou um grupo de pessoas para gerar medo e assim justificar medidas de segurança, assim como a potencial intervenção do exército na fronteira entre a Hungria e a Sérvia”. O Governo está prestes a discutir estas medidas no Parlamento.

Não é só a Hungria a ser alvo das ONG: também a República Checa foi criticada porque a sua polícia decidiu escrever com marcadores nos braços dos refugiados números de identificação. Eram cerca de 200 os refugiados, que foram também detidos num comboio com destino à Alemanha. As autoridades dizem que vão tomar uma decisão sobre o que fazer depois de os interrogar.