Os momentos mais importantes do banco que nasceu do colapso do BES
A cronologia do Novo Banco: o BES bom, os lesados, a recondução de Costa e o processo de venda, ainda por concluir.
2014
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2014
3 de Agosto
A um domingo, ao final da noite, é anunciada a intervenção pública no BES, que é dividido em dois. No “velho” BES ficam os activos problemáticos, que implicam perdas para os accionistas e os detentores de obrigações subordinadas. Nasce o Novo Banco, que fica com todos os outros activos e recebe uma injecção de 4900 milhões de euros. O capital do Novo Banco é detido pelo Fundo de Resolução e fica na esfera do Banco de Portugal (BdP) e do Ministério das Finanças. Na hora de anunciar a medida de resolução, é o governador do banco central, Carlos Costa, quem dá a cara pela intervenção pública, garantindo que a decisão “não terá qualquer custo para o erário público, nem para os contribuintes”.
7 de Agosto
Vítor Bento, que assumira a liderada do BES três semanas antes da intervenção do BdP, dá uma entrevista à SIC onde defende que é preciso tempo para arrumar a casa. “Tenho o desafio de tornar [o Novo Banco] rentável, que é um desafio que vai levar o seu tempo”, afirma.
20 de Agosto
Vítor Bento, que por poucas semanas se manterá à frente do banco, anuncia o arranque da campanha de mudança de imagem dos balcões do banco. Objectivo: em dois meses acabar com o logótipo associado ao BES nas fachadas e na decoração das sucursais do banco. Aos poucos, a imagem do BES é substituída pela combinação de verde-claro e cinzento da nova imagem.
26 de Agosto
Carlos Costa recebe Vítor Bento. O governador pede que o CEO prepare um plano de sustentabilidade do banco e capaz de atrair investidores. A administração de Vítor Bento diz que há ““indícios de recuperação da confiança” no banco.
13 de Setembro
Vítor Bento demite-se de presidente do Novo Banco. Com ele saem José Honório (ex-presidente da Portucel) e João Moreira Rato (ex-presidente do IGCP, a agência responsável pela gestão de tesouraria e dívida pública). As divergências com Carlos Costa e com o Governo sobre estratégia do banco precipitaram a saída do economista. Bento apostava numa estratégia de médio prazo (a lei da resolução bancária prevê dois anos para a venda, prorrogáveis por mais um).
14 de Setembro
Eduardo Stock da Cunha, director de auditoria do grupo Lloyds em Londres, é chamado a substituir Vítor Bento como CEO. O Banco de Portugal deixa claro que defende a conclusão do dossier do Novo Banco num “prazo tão curto quanto razoavelmente exequível”.
17 de Novembro
Arrancam as audições da comissão de inquérito ao caso BES/GES no Parlamento. O governador do Banco de Portugal, ouvido durante cerca de sete horas, garante que no final do processo eventuais perdas com a venda serão “suportadas pelo sistema bancário”.
4 de Dezembro
O Fundo de Resolução abre o prazo, até ao último dia do ano, para potenciais compradores manifestarem interesse na compra do Novo Banco.
31 de Dezembro
O Banco de Portugal recebe 17 manifestações de interesse. Na altura, o supervisor não divulgou quem estava na corrida. Mas o BPI, o Santander, o Banco Popular, a Fosun e a Apollo já apareciam publicamente a admitir estudar o dossier.
2015
16 de Fevereiro
Duas das 17 demonstrações de interesses saem da corrida, por não cumprirem os requisitos de pré-qualificação. Os candidatos têm de apresentar propostas, ainda não-vinculativas, até 20 de Março.
20 de Março
Nove entidades confirmaram o interesse no Novo Banco. Sete apresentaram propostas não vinculativas.
24 de Março
Carlos Costa volta a ser ouvido na comissão de inquérito, onde considera que o “processo de venda está a decorrer favoravelmente”. A nova estrutura accionista, adianta, “será conhecida no Verão de 2015”.
26 de Março de 2015
O INE revela a previsão do valor do défice de 2014, de 4,5% do PIB. O número é provisório, porque “não existe informação suficiente” para o registo definitivo da capitalização do Novo Banco, que fica dependente do resultado da venda (para as contas das administrações públicas, o Novo Banco é considerado uma empresa pública).
17 de Abril
Das sete propostas não vinculativas, o Banco de Portugal seleccionou cinco. A esta fase chegaram os chineses da Anbang, da Fosun (dona da Fidelidade), os espanhóis do banco Santander e os norte-americanos da Apollo Global Management e da Cerberus. A partir daqui arranca a terceira fase do processo de venda, em que os candidatos têm de apresentar propostas vinculativas.
28 de Maio
O Governo anuncia a recondução de Carlos Costa como governador do BdP. A oposição contesta em bloco, com António Costa a dizer que o PS “não foi consultado” e a considerar um mau sinal o facto de ter bastado a “decisão de uma maioria em fim de mandato”.
5 de Junho
Manifestação de lesados do BES em frente à residência oficial do primeiro-ministro resulta em confrontos com a polícia. O protesto começou na sede do Novo Banco, em Lisboa (na Avenida da Liberdade), e seguiu até São Bento.
27 de Junho
Os protestos em torno do caso BES/GEs chegam a Paris. O Movimento de Emigrantes Lesados (MEL) organiza uma manifestação na capital francesa. Cerca de duas centenas de pessoas (segundo dados da polícia citados pela Lusa) concentraram-se em frente uma agência do banco em Paris e seguiram até à Embaixada de Portugal.
30 de Junho
Termina o prazo para a entrega das ofertas vinculativas. O Banco de Portugal recebeu três propostas. Saem de cena o Santander e o fundo norte-americano Cerberus. Anbang, Fosun e Apollo seguem em frente, ao apresentarem propostas vinculativas.
30 de Julho
O Banco de Portugal alarga até 7 de Agosto o prazo para as três empresas apresentarem as propostas finais.
7 de Agosto
Só um dos três candidatos melhorou a oferta. O BdP informa, no entanto, que as três “continuam integralmente válidas”.
10 de Agosto
Manifestantes da Associação dos Indignados e Enganados do Papel Comercia (AIEPC) e dos emigrantes lesados (que compraram acções preferenciais) percorrem a Avenida da Liberdade. Em frente à sede do Novo Banco, a política travou a entrada de alguns manifestantes que tentaram forçar a entrada.
19 de Agosto
O processo de venda (a quarta fase) entra na recta final. O Banco de Portugal passa à “negociação com o potencial comprador seleccionado”, neste caso, os chineses da Anbang. O supervisor esclarece em comunicado que as outras duas propostas vinculativas continuam “integralmente válidas”.
31 de Agosto
Segunda-feira. É o último dia das negociações do Banco de Portugal com o comprador seleccionado pelo regulador. O dia termina sem ser conhecido o desfecho das discussões com a Anbang. À noite, o Novo Banco anuncia os resultados do primeiro semestre: prejuízos de 271,6 milhões de euros. Sem imparidades e provisões, os resultados da instituição tinham sido positivos em 17,7 milhões de euros.
1 de Setembro
BdP comunica que as negociações com a Anbang chegaram ao fim sem sucesso. Segue-se novo ciclo de negociações. Na corrida estão ainda o fundo norte-americano Apollo (donos da Tranquilidade) e os chineses da Fosun (donos da Fidelidade e do grupo Luz Saúde).
15 de Setembro
O Banco de Portugal anuncia que decidiu interromper o actual processo de venda do Novo Banco, "concluindo o procedimento em curso sem aceitar qualquer das três propostas vinculativas".