Obama visita o Alasca, “o ground zero das alterações climáticas”

Presidente dos Estados Unidos será o primeiro a visitar o Árctico. Republicanos contestam as medidas ambientalistas da Administração, e exprimem "profunda desilusão" com a mudança do nome do monte McKinley para a sua designação nativa original.

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Como assinalou a Casa Branca, antecipando a visita de Obama, o Alasca é um dos exemplos mais “dramáticos” do impacto do aquecimento global DR

A mudança da designação oficial da formação geolófica de 6168 metros era reclamada há décadas pela população do Alasca, na sua maioria descendente de tribos indígenas atabascanas – esquimós como os aleútes, inuítes ou iúpiques – que nunca gostaram que o seu monte “mais alto” (ou “denali”, na língua Koyukon) tivesse sido baptizada com o nome do 25º Presidente dos Estados Unidos, William McKinley, que nunca sequer esteve no Alasca.

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A mudança da designação oficial da formação geolófica de 6168 metros era reclamada há décadas pela população do Alasca, na sua maioria descendente de tribos indígenas atabascanas – esquimós como os aleútes, inuítes ou iúpiques – que nunca gostaram que o seu monte “mais alto” (ou “denali”, na língua Koyukon) tivesse sido baptizada com o nome do 25º Presidente dos Estados Unidos, William McKinley, que nunca sequer esteve no Alasca.

O nome foi adoptado em 1896, no auge da “febre do ouro” naquela longínqua e inóspita região peninsular, comprada pelos Estados Unidos à Rússia em 1876 e só oficialmente integrada como o 49º estado da União em Janeiro de 1959. McKinley, assassinado em 1901, pouco depois de tomar posse para um segundo mandato, foi um dos maiores entusiastas da indexação do valor do dólar ao ouro (e os prospectores que acorreram para o Alasca os maiores entusiastas da sua defesa desse padrão monetário).

Até agora, os legisladores do estado do Ohio, de onde McKinley era natural, conseguiram travar todas as iniciativas do Alasca para mudar o nome da montanha – uma das grandes atracções turísticas do estado, apesar dos “caprichos” da natureza, que só deixa o pico visível a olho nu alguns dias do ano. Esta segunda-feira, previsivelmente, voltaram a reclamar, mas desta feita não conseguiram organizar-se para bloquear a iniciativa do Presidente.

O Speaker do Congresso John Boehner, eleito pelo Ohio, encabeçou o coro dos descontentes. “Estou profundamente desiludido”, confessou o líder republicano, considerando que “há uma razão pela qual o nome do Presidente McKinley foi dado ao pico mais alto da América do Norte e essa razão é homenagear o seu grande legado”.

Mas mais do que a mudança de nome do monte McKinley, os conservadores criticam e censuram as iniciativas da Administração relativas à conservação da natureza, à preservação dos recursos hídricos e piscatórios e ao desenvolvimento de energias alternativas, tudo projectos que o Presidente Barack Obama vai apresentar ou conhecer in loco no Alasca.

Como assinalou a Casa Branca, antecipando a visita de Obama, o Alasca é um dos exemplos mais “dramáticos” do impacto do aquecimento global – na natureza e nas comunidades da região. Nos últimos 50 anos, a temperatura média subiu três graus Fahrenheit; todos os anos, os glaciares do Alasca (11% de todos os glaciares do planeta) perdem 75 mil milhões de toneladas de gelo; só este ano, os fogos florestais destruíram mais de 20 mil quilómetros quadrados.

Como resultado, várias localidades estão agora irremediavelmente ameaçadas, ou pela subida do nível das águas, ou pela erosão: segundo o instituto geológico norte-americano, a costa do Alasca está a perder em média quatro metros de território por ano. Mas nalguns pontos do Árctico, o efeito combinado do fenómeno da erosão e da subida das águas reclama diariamente o terreno equivalente a um campo de futebol, deixando espécies como as morsas e o urso polar sem o seu habitat natural.

“Tudo isto é real e está a acontecer neste momento”, sublinhou o Presidente, na sua mensagem radiofónica de sábado, em que descreveu a sua viagem ao Alasca – “o ground zero das alterações climáticas”, disse – como uma tentativa de chamar a atenção do público mais distraído para os desafios colocados pelo aquecimento global e as mudanças no clima. “Se um inimigo estrangeiro ameaçasse arrasar cidades inteiras, estaríamos a fazer tudo o que é possível para o impedir e nos proteger. Mas essa é, precisamente, a ameaça representada pelas alterações climáticas”, comparou.

No estado, que foi governado pela antiga candidata republicana à vice-presidência, Sarah Palin, as políticas da Administração Obama são encaradas com cepticismo, tanto pelos que contestam as limitações à exploração petrolífera e mineira defendidas pelo Presidente, como pelos que consideram que as medidas anunciadas são demasiado brandas e pouco ambiciosas.