O Cinema perdeu brilho
A sétima arte deixou de ser uma “mera” forma de contar estórias, e passou a ser a porta para novos e desconhecidos mundos
É assombroso constatar a evolução técnica do Cinema, a forma como facilmente são construídas novas realidades, quase como se sempre as tivéssemos conhecido. A sétima arte deixou de ser uma “mera” forma de contar estórias, e passou a ser a porta para novos e desconhecidos mundos.
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É assombroso constatar a evolução técnica do Cinema, a forma como facilmente são construídas novas realidades, quase como se sempre as tivéssemos conhecido. A sétima arte deixou de ser uma “mera” forma de contar estórias, e passou a ser a porta para novos e desconhecidos mundos.
Embora esta nova faceta do Cinema me agrade visualmente, este espanto esgota-se rapidamente, porque é um simples arrepio dos sentidos, oco de significado. Para este feito, posso reportar o filme “Gravidade”, um exemplo perfeito da capacidade das novas tecnologias na criação de efeitos especiais deslumbrantes – por momentos, senti-me mesmo a flutuar no espaço. Mas este espanto foi rapidamente consumido – quase como se o Cinema fosse agora fast food, feito para enganar os olhos, mas que pouco nos sacia a fome… Esta não é uma fome fisiológica, é mais intrínseca, é uma fome intelectual – fome de roteiro.
Não quero ser uma amargurada saudosista, que resmunga do presente, num eterno paralelismo com o passado. No entanto, existem filmes, os ditos clássicos, que nos anestesiam, de tal forma que ficamos apáticos perante as películas do presente – basta recordar o filme “Serenata à Chuva”, tão simples, mas tão envolvente. Prova da sua grandiosidade, em 2012, o filme que mais Óscares arrecadou foi “O Artista”, que evidencia uma forte inspiração no filme protagonizado por Gene Kelly. Sabe bem voltar às origens do Cinema, com personagens genuinamente boas e onde o bem prevalece - distanciar da realidade.
Na história do Cinema, percorremos um longo caminho numa busca pelo filme mais realista e/ou futurista. São nos apresentadas imagens soberbas, que nos enganam os sentidos e procuram camuflar roteiros empobrecidos. Com tanto apelo visual, quase nos esquecemos do verdadeiro propósito da indústria cinematográfica (esquecendo a componente monetária): fazer sonhar. Não são os sonhos estudados e teorizados por Freud, mas aqueles que fomentam a esperança.
Atrevendo-me a ser demasiado filosófica, a beleza do cinema não está na película, mas sim na nossa memória. É fácil comprovar a beleza de algo quando o estamos a deslumbrar, mas é muito mais marcante quando essa beleza fica retida na nossa mente, e passa a ser um pouco nossa. De todos os filmes que vimos em anos recentes, quantos nos marcaram? Quantos ficaram na nossa memória?
O Cinema segue influências externas, movendo-se em função do interesse do público-alvo, a ponto de termos sucessos de bilheteiras como “Velocidade Furiosa 7” ou “As Cinquenta Sombras de Grey” – não querendo menosprezar quem aprecia estes filmes. Mas quem se lembrará destes filmes pelo que realmente simbolizam, não por fatores externos, daqui a 50 anos? Pelo contrário, qual o amante de cinema que não conhece filmes como “Casablanca”, “Psico” do Hitchcock, ou “O Mundo a Seus Pés”? Podem não ter os finais mais felizes, mas contam uma estória, e apresentam a extraordinária habilidade de nos surpreender – algo que raramente acontece atualmente. O famoso twist, onde por segundos esquecemos completamente quem somos, onde estamos e para onde vamos… Naqueles segundos somos a estória que nos é contada, e sem necessitarmos de óculos 3D, somos transportados para outro mundo. Rosebud.