Câmara de Lisboa está a construir novo parque urbano junto ao da Bela Vista
Encosta próxima do Vale de Chelas está a transformar-se num grande aterro e vai dar lugar a um parque com árvores e bancos de jardim. Obra vai custar 300 mil euros à autarquia.
“Ao início achei que seria um parque verde, hoje já me parece uma estrada, mas nem sei bem”, observa Maria Teles, arquitecta paisagista que diariamente passa de comboio na linha instalada no vale, entre aquela encosta e a zona das Olaias. A dúvida foi-se adensando a par com a preocupação. “Seja qual for o projecto, parece-me que terá um impacto demasiado forte, no sítio que é”, afirma, argumentando que é "um absurdo", dada a dimensão dos movimentos de terras, dos aterros feitos em zonas de sistema húmido e das alterações introduzidas na paisagem.
As obras em curso prendem-se, afinal, com a construção de um parque urbano que permitirá a ligação entre a Avenida Gago Coutinho (que vai do Areeiro à Rotunda do Relógio) e o Parque da Bela Vista Sul, numa faixa que a Câmara de Lisboa designa como Vale da Montanha. Em resposta a perguntas do PÚBLICO, o gabinete do vereador com o pelouro dos Espaços Verdes, José Sá Fernandes, responsável pela obra, explica sem mais pormenores que "está prevista a delimitação de caminhos, plantação de árvores e arbustos, bancos de jardim".
As intervenções, prossegue, vão decorrer "de forma faseada", tendo começado no "início deste ano", com conclusão prevista para o "final de 2016". Para estes dois anos de trabalho, o orçamento previsto é de "cerca de 300 mil euros". No site do município não se encontram quaisquer informações sobre o projecto e no portal Base, onde são obrigatoriamente publicados todos os contratos celebrados por entidades públicas, nada consta sobre aquelas obras, a cargo da empresa Batalha dos Anjos.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
“Ao início achei que seria um parque verde, hoje já me parece uma estrada, mas nem sei bem”, observa Maria Teles, arquitecta paisagista que diariamente passa de comboio na linha instalada no vale, entre aquela encosta e a zona das Olaias. A dúvida foi-se adensando a par com a preocupação. “Seja qual for o projecto, parece-me que terá um impacto demasiado forte, no sítio que é”, afirma, argumentando que é "um absurdo", dada a dimensão dos movimentos de terras, dos aterros feitos em zonas de sistema húmido e das alterações introduzidas na paisagem.
As obras em curso prendem-se, afinal, com a construção de um parque urbano que permitirá a ligação entre a Avenida Gago Coutinho (que vai do Areeiro à Rotunda do Relógio) e o Parque da Bela Vista Sul, numa faixa que a Câmara de Lisboa designa como Vale da Montanha. Em resposta a perguntas do PÚBLICO, o gabinete do vereador com o pelouro dos Espaços Verdes, José Sá Fernandes, responsável pela obra, explica sem mais pormenores que "está prevista a delimitação de caminhos, plantação de árvores e arbustos, bancos de jardim".
As intervenções, prossegue, vão decorrer "de forma faseada", tendo começado no "início deste ano", com conclusão prevista para o "final de 2016". Para estes dois anos de trabalho, o orçamento previsto é de "cerca de 300 mil euros". No site do município não se encontram quaisquer informações sobre o projecto e no portal Base, onde são obrigatoriamente publicados todos os contratos celebrados por entidades públicas, nada consta sobre aquelas obras, a cargo da empresa Batalha dos Anjos.
Da ponte pedonal e ciclável – estrutura com quase 200 metros de comprimento, financiada pelas contrapartidas do Rock in Rio e inaugurada em 2012, mas já vandalizada – que passa sobre a linha ferroviária e une os dois lados do vale, assiste-se ao corrupio constante de camiões para trás e para diante. A entrada faz-se pelo lado da Avenida Gago Coutinho, junto ao cruzamento desta com a Avenida dos Estados Unidos da América, passando por uma zona de estacionamento informal.
Chegam carregados de terra (de diferentes tonalidades, sugerindo origens distintas) que despejam, em montes ordenados lado a lado, à beira dos caminhos já rasgados. Seguem viagem vazios mas hão-de voltar. "Todos os dias passam aqui aos milhares", assegura, porventura exagerando, um homem que costuma frequentar o local.
Os trabalhos de terraplenagem e a abertura de caminhos pouparam algumas "ilhas" de vegetação, com oliveiras e outras árvores. Desapareceram os canaviais, plantas infestantes e todo o coberto vegetal, bem como algumas hortas informais. "Os solos tinham uma camada de solo vivo, solo bom, que costuma ser posto de lado e usado no final para cobrir o terreno, mas não me parece que isso tenha acontecido neste caso", afirma a arquitecta paisagista.
Maria Teles salienta que o aterro, em certas zonas com cinco a seis metros de altura, vai "diminuir grandemente a capacidade ecológica do vale", afectando a capacidade deretenção e acumulação de água em alturas de grandes chuvadas.
Esta obra, que na prática alarga o Parque da Bela Vista, onde regularmente se realiza o festival Rock in Rio, junta-se à de um recreio infantil que há-de avançar dentro de algum tempo no parque hortícola do Vale de Chelas, a poucas centenas de metros dali. Situado junto à Avenida do Santo Condestável (antiga Av. Central de Chelas), na qual aos domingos se realiza a tradicional Feira do Relógio, este parque, com cerca de 15 hectares, tem centenas de talhões para cultivo. O concurso para a adjudicação da empreitada do recreio infantil foi lançado pela câmara em Maio.
Projecto faz lembrar proposta apresentada ao OP
O projecto em curso no local que a Câmara de Lisboa designa como Vale da Montanha é semelhante a um outro previsto numa das mais de 600 propostas concorrentes ao Orçamento Participativo (OP) municipal na edição de 2012/2013.
Os cidadãos sugeriram a criação de uma entrada directa para o Parque da Bela Vista Sul pela Avenida Gago Coutinho, com “caminhos definidos, arborizados e, também, com a existência de um parque infantil para usufruto da população” residente, e ainda de mobiliário urbano.
No entanto, a proposta não está na lista dos projectos vencedores daquele ano. Nas respostas dadas ao PÚBLICO pela autarquia, não é feita qualquer referência ao projecto submetido a votação no OP.