Imigração para o Reino Unido cresceu o triplo do que Cameron prometeu
Entre Março de 2014 e Março de 2015, entraram nas ilhas britânicas mais 330.000 pessoas nascidas noutros países do que as que saíram. Governo tinha prometido um terço desse valor.
De acordo com as promessas feitas pelo Governo do Partido Trabalhista em 2010, a diferença entre os estrangeiros que entram e os que saem do Reino Unido deveria rondar por esta altura os 100.000, mas os números oficiais apontam para três vezes mais. Em 2014, 13% da população britânica era composta por pessoas nascidas noutros países – cerca de 8,3 milhões de habitantes.
As imagens de alguns milhares de migrantes africanos e asiáticos – 8000, segundo o Governo britânico, 3000 segundo a generalidade das organizações não-governamentais – que tentam entrar em Inglaterra através de Calais, no Norte de França, têm motivado declarações públicas acesas e contribuído para o crescimento do sentimento anti-imigração. Mas o saldo migratório apresentado esta quinta-feira pelo instituto de estatística mostra que a esmagadora maioria da população imigrante do Reino Unido nasceu em países da União Europeia (UE), na China e na Índia.
Entre Março de 2014 e Março de 2015, a diferença entre entradas e saídas de pessoas nascidas na UE foi de 183.000, mais 53.000 do que no ano anterior. Ainda assim, essa diferença foi maior entre cidadãos de fora da UE – 196.000, mais 39.000 do que no ano anterior.
A seguir aos países comunitários, a China foi o principal ponto de origem, com 89.593 chegadas durante o mesmo período. O país de origem extra-comunitário mais representado no Reino Unido é a Índia, com 793.000 residentes nascidos nesse país. Só a Polónia tem mais cidadãos em terras britânicas: 853.000 residentes. O número de cidadãos nascidos na Roménia e na Bulgária quase duplicou nos últimos dois anos, de 28.000 para 53.000.
Quanto ao número de pedidos de asilo, entre Junho de 2014 e Junho de 2015 subiu 10%, para 25.771, em relação ao ano anterior. Destes, 11.600 viram aceite o seu pedido. Este número está muito longe do que se verificou há mais de uma década – em 2002, houve 84.000 pedidos de asilo, em grande parte resultantes da guerra nos Balcãs.
Seja qual for a interpretação, a verdade é que o saldo migratório entre Março de 2014 e Março de 2015 foi o mais desequilibrado desde que há registo, ultrapassando os 320.000 do período entre Junho de 2004 e Junho de 2005, e isso deixou o Governo "profundamente desapontado", disse o secretário de Estado para a Segurança e Imigração, James Brokenshire.
Nigel Farage, líder do UKIP – um partido nacionalista e anti-imigração, que defende a saída do Reino Unido da UE – foi muito mais duro nas palavras: "Estes números reflectem a 'Grã-Bretanha sem fronteiras' e a total impotência do Governo britânico."
Questionado pela BBC, o secretário de Estado disse que "a ambição" do Governo continua a ser "reduzir a imigração para níveis sustentáveis, abaixo dos 100.000", dizendo que esse era o valor registado "antes da chegada do Partido Trabalhista ao poder", referindo-se ao período entre 1997 e 2010, sob as lideranças de Tony Blair e Gordon Brown.
O correspondente de política da BBC Ross Hawkins disse que a promessa de redução da imigração "está a tornar-se rapidamente um embaraço político" para David Cameron, num tema que suscita cada vez mais a crítica popular. "Há muitos números, mas nenhum motivo para festejar para um primeiro-ministro que prometeu reduzir a imigração para níveis que o país possa gerir", disse o jornalista, fazendo eco do sentimento prevalente no Reino Unido.
Da parte dos trabalhistas, a ministra-sombra dos Assuntos Internos e candidata à liderança do partido, Yvette Cooper, disse que Cameron "tem de parar com a desonestidade sobre a sua política falhada de imigração".
"Mas o mais perturbador de tudo isto, é que o objectivo para o saldo migratório trata a imigração e os pedidos de asilo da mesma forma. Isso é moralmente errado, e está a impedir o Reino Unido de cumprir o seu papel na resposta à terrível crise de refugiados que partiu da Síria e se espalhou pela Europa", afirmou Cooper.
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De acordo com as promessas feitas pelo Governo do Partido Trabalhista em 2010, a diferença entre os estrangeiros que entram e os que saem do Reino Unido deveria rondar por esta altura os 100.000, mas os números oficiais apontam para três vezes mais. Em 2014, 13% da população britânica era composta por pessoas nascidas noutros países – cerca de 8,3 milhões de habitantes.
As imagens de alguns milhares de migrantes africanos e asiáticos – 8000, segundo o Governo britânico, 3000 segundo a generalidade das organizações não-governamentais – que tentam entrar em Inglaterra através de Calais, no Norte de França, têm motivado declarações públicas acesas e contribuído para o crescimento do sentimento anti-imigração. Mas o saldo migratório apresentado esta quinta-feira pelo instituto de estatística mostra que a esmagadora maioria da população imigrante do Reino Unido nasceu em países da União Europeia (UE), na China e na Índia.
Entre Março de 2014 e Março de 2015, a diferença entre entradas e saídas de pessoas nascidas na UE foi de 183.000, mais 53.000 do que no ano anterior. Ainda assim, essa diferença foi maior entre cidadãos de fora da UE – 196.000, mais 39.000 do que no ano anterior.
A seguir aos países comunitários, a China foi o principal ponto de origem, com 89.593 chegadas durante o mesmo período. O país de origem extra-comunitário mais representado no Reino Unido é a Índia, com 793.000 residentes nascidos nesse país. Só a Polónia tem mais cidadãos em terras britânicas: 853.000 residentes. O número de cidadãos nascidos na Roménia e na Bulgária quase duplicou nos últimos dois anos, de 28.000 para 53.000.
Quanto ao número de pedidos de asilo, entre Junho de 2014 e Junho de 2015 subiu 10%, para 25.771, em relação ao ano anterior. Destes, 11.600 viram aceite o seu pedido. Este número está muito longe do que se verificou há mais de uma década – em 2002, houve 84.000 pedidos de asilo, em grande parte resultantes da guerra nos Balcãs.
Seja qual for a interpretação, a verdade é que o saldo migratório entre Março de 2014 e Março de 2015 foi o mais desequilibrado desde que há registo, ultrapassando os 320.000 do período entre Junho de 2004 e Junho de 2005, e isso deixou o Governo "profundamente desapontado", disse o secretário de Estado para a Segurança e Imigração, James Brokenshire.
Nigel Farage, líder do UKIP – um partido nacionalista e anti-imigração, que defende a saída do Reino Unido da UE – foi muito mais duro nas palavras: "Estes números reflectem a 'Grã-Bretanha sem fronteiras' e a total impotência do Governo britânico."
Questionado pela BBC, o secretário de Estado disse que "a ambição" do Governo continua a ser "reduzir a imigração para níveis sustentáveis, abaixo dos 100.000", dizendo que esse era o valor registado "antes da chegada do Partido Trabalhista ao poder", referindo-se ao período entre 1997 e 2010, sob as lideranças de Tony Blair e Gordon Brown.
O correspondente de política da BBC Ross Hawkins disse que a promessa de redução da imigração "está a tornar-se rapidamente um embaraço político" para David Cameron, num tema que suscita cada vez mais a crítica popular. "Há muitos números, mas nenhum motivo para festejar para um primeiro-ministro que prometeu reduzir a imigração para níveis que o país possa gerir", disse o jornalista, fazendo eco do sentimento prevalente no Reino Unido.
Da parte dos trabalhistas, a ministra-sombra dos Assuntos Internos e candidata à liderança do partido, Yvette Cooper, disse que Cameron "tem de parar com a desonestidade sobre a sua política falhada de imigração".
"Mas o mais perturbador de tudo isto, é que o objectivo para o saldo migratório trata a imigração e os pedidos de asilo da mesma forma. Isso é moralmente errado, e está a impedir o Reino Unido de cumprir o seu papel na resposta à terrível crise de refugiados que partiu da Síria e se espalhou pela Europa", afirmou Cooper.