51 corpos encontrados no porão de um barco no Mediterrâneo
Navio da guarda costeira sueca resgatou 439 pessoas na mesma operação. Vítimas terão morrido asfixiadas.
"Tivemos de arrombar o convés do barco de madeira para chegarmos aos corpos de uma forma segura", disse à Associated Press o porta-voz da guarda costeira sueca, Mattias Lindholm.
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"Tivemos de arrombar o convés do barco de madeira para chegarmos aos corpos de uma forma segura", disse à Associated Press o porta-voz da guarda costeira sueca, Mattias Lindholm.
O navio-patrulha Poseidon já esteve envolvido este ano em várias operações de resgate de pessoas que tentam chegar à Europa a partir das costas da Líbia, em fuga de guerras, perseguições ou extrema pobreza.
Na noite de quarta-feira, o Poseidon tinha acabado de resgatar 130 migrantes de um barco quando recebeu uma chamada para ir ao encontro de uma outra embarcação, a cerca de 50 quilómetros a Norte das costas líbias, de onde foram resgatadas mais 439 pessoas. Quando os membros da equipa de resgate subiram a bordo, encontraram 51 corpos no porão.
Ao longo do dia, a guarda costeira de Itália lançou dez operações de resgate, incluindo as duas realizadas pelo navio sueco. No total foram resgatadas perto de 3000 pessoas, só na quarta-feira, e foram encontrados 55 corpos – para além dos 51 que seguiam na embarcação abordada pelo navio sueco, foram também encontrados os corpos de três mulheres e um homem em outras operações. Numa delas foram salvas 20 pessoas, mas as autoridades italianas disseram que outras 15 estão desaparecidas, provalmente mortas.
Segundo a organização não-governamental Migrant Report, os navios de resgate não foram suficientes para acudir a todas as pessoas de forma imediata – em alguns casos, assim que uma embarcação era avistada, o navio-patrulha europeu tinha de chamar outra equipa porque já não tinha capacidade para transportar mais pessoas.
A mesma organização avança que a maioria das pessoas resgatadas quarta-feira é do Paquistão, do Bangladesh e de países da África subsariana.
Um deles, identificado como Faisal, de 30 anos, é um paquistanês que foi para a Líbia há dois anos em busca de trabalho. Quando o autoproclamado Estado Islâmico chegou a Sirte, Faisal tentou fugir para a Europa: "Não podia ficar lá, apesar de ser muçulmano. É muito perigoso."
Faisal disse que pagou cerca de 150 euros para chegar a Trípoli, e depois mais 500 euros para entrar numa embarcação, ficando retido numa casa, em Zuwara, com outras 121 pessoas.
“Na terça-feira, vieram buscar-nos e levaram-nos numa carrinha com vidros negros", contou Faisal, referindo-se aos traficantes – dois tunisinos, um líbio e outros dois norte-africanos, segundo o seu testemunho.
A organização Migrant Report diz que as pessoas que viajaram no porão pagaram menos do que Faisal, entre 250 euros e 400 euros, e passaram 15 horas num espaço exíguo, sem ventilação.
"Um grupo de 50 pessoas foi metido num espaço apertado, com cerca de três metros por cinco metros, e cerca de 1,80 metros de altura. Outras 30 pessoas foram colocadas ao lado do motor, correndo sérios riscos por causa dos gases", relata a organização.
Há duas semanas, um navio da Marinha italiana socorreu, também no Mediterrâneo, um barco com 319 migrantes a bordo e pelo menos 40 pessoas mortas no porão, que também terão morrido asfixiadas. O comandante do navio Cigala Fulgosi disse ter encontrado uma "cena terrível, que afectou muito" a sua tripulação: "Dezenas de cadáveres no porão, mulheres que choravam os seus homens."
O número de pessoas que arriscam a travessia do Mediterrâneo tem aumentado nas últimas semanas porque os traficantes aproveitam as águas mais calmas nesta altura do ano para aumentarem o seu lucro.
Os traficantes que organizam as viagens entre a Líbia e Itália têm por hábito colocar no porão os migrantes africanos que pagam menos pela travessia do Mediterrâneo, e impedem-nos de sair recorrendo à violência. Ali, os migrantes correm o risco de morrer asfixiados pelos gases do combustível usado nos barcos. São também os que correm mais riscos se a embarcação naufragar.
Segundo os números da Agência das Nações Unidas para os Refugiados, desde Janeiro morreram mais de 2400 pessoas na travessia do Mediterrâneo – em 2014 foram encontrados 1779 corpos.