Morreu Manuel Dias da Fonseca, musicólogo e melómano autodidacta
Foi um vereador da Cultura pioneiro na política autárquica no país e fundou o Quarteto de Cordas de Matosinhos.
“O Quarteto de Cordas de Matosinhos foi certamente a última grande realização da vida de Manuel Dias da Fonseca, a concretização de um sonho antigo”, disse ao PÚBLICO Fernando Rocha, actual vereador da Cultura da CMM, um cargo que, de certo modo, foi moldado por este professor de Ciências Físico-Químicas, musicólogo e melómano autodidacta.
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“O Quarteto de Cordas de Matosinhos foi certamente a última grande realização da vida de Manuel Dias da Fonseca, a concretização de um sonho antigo”, disse ao PÚBLICO Fernando Rocha, actual vereador da Cultura da CMM, um cargo que, de certo modo, foi moldado por este professor de Ciências Físico-Químicas, musicólogo e melómano autodidacta.
De facto, foi no início da década de 1980 que Dias da Fonseca integrou a equipa autárquica de Narciso Miranda. Tornou-se um dos primeiros vereadores da Cultura a conquistar visibilidade numa função que, nesse tempo, praticamente não entrava nos organogramas das autarquias.
“Nessa altura, as câmaras não investiam na Cultura, mas o Manuel Dias da Fonseca conseguir desbravar esse terreno inexplorado, facilitando o trabalho a quem veio a seguir”, nota Fernando Rocha, referindo-se a si próprio mas também a muitos outros vereadores que passaram a assumir cargos idênticos por todo o país.
António Jorge Pacheco, director artístico da Casa da Música, classifica-o como “um dos grandes melómanos do país, um homem único e, principalmente, um espírito radicalmente livre”. Lembra o seu papel de consultor para a música na Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura, e diz que sempre o ouviu muito no seu trabalho na Casa da Música, que Manuel Dias da Fonseca frequentou regularmente enquanto a sua saúde o permitiu.
Nascido em Matosinhos a 6 de Dezembro de 1923, Manuel Dias da Fonseca formou-se em Ciências Físico-Químicas na Universidade do Porto. Foi professor desta disciplina em Braga, Póvoa de Varzim, Porto e Matosinhos. Mas foi como homem de cultura, e especialmente interessado pela música – e mais ainda pela música contemporânea –, que deixou o seu nome inscrito na vida cultural da sua cidade natal, do Porto e do país.
Fez crítica de música, publicou poesia – os livros A Solidão Povoada (1953), A Noite, um Dia, um Rio (1956) e Talvez Origem (1976), recentemente reeditados pela Modo de Ler em conjunto com uma longa entrevista feita por Manuela Espírito Santo –, e ocupou-se durante cerca de duas décadas da programação musical da Câmara de Matosinhos, onde, em 1993, lançou o Panorama da Música Portuguesa para Piano do Século XX.
“Para além da sua actividade musical, Manuel Dias da Fonseca era um homem de cultura que sempre viveu no tempo em que se encontrava; nunca o ouvi dizer nada do género ‘dantes é que era bom’”, realça Fernando Rocha.
O funeral – uma cerimónia laica, por desejo expresso de Manuel Dias da Fonseca – realiza-se esta sexta-feira, às 14h, no tanatório de Matosinhos, onde o seu corpo será cremado. Na ocasião actuarão o Quarteto de Cordas de Matosinhos e o clarinetista Carlos Alves, músico da Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música.