Estado Islâmico acusado de destruir templo com 2000 anos em Palmira

Responsável pelas antiguidades da Síria diz que o templo de Baal-Shamin foi destruído no domingo. "Infelizmente, as nossas previsões mais negras estão a tornar-se realidade", disse Maamoun Abdulkarim.

Foto
Imagem do Templo de Baal-Shamin captada em Março de 2014 JOSEPH EID/AFP

"Temos dito vezes sem conta que eles iriam primeiro aterrorizar as pessoas, e depois, quando tivessem tempo, começariam a destruir os templos", disse à agência Reuters Maamoun Abdulkarim. "Palmira está a ser destruída perante os meus olhos. Que Deus nos ajude", lamentou o mesmo responsável.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

"Temos dito vezes sem conta que eles iriam primeiro aterrorizar as pessoas, e depois, quando tivessem tempo, começariam a destruir os templos", disse à agência Reuters Maamoun Abdulkarim. "Palmira está a ser destruída perante os meus olhos. Que Deus nos ajude", lamentou o mesmo responsável.

O Observatório Sírio dos Direitos Humanos confirmou a destruição do importante templo (situado muito perto do Templo de Bel, o mais bem conservado entre as ruínas), mas há uma confusão sobre datas. Maamoun Abdulkarim diz que os jihadistas colocaram os explosivos no domingo; a organização síria diz que tudo terá acontecido há um mês; e um activista sírio nascido em Palmira, que está na Turquia, confirmou à Al-Jazira que as explosões ocorreram no domingo.

Segundo o responsável pelas antiguidades da Síria, o interior do templo ficou destruído e as colunas colapsaram. "Infelizmente, as nossas previsões mais negras estão a tornar-se realidade", disse Maamoun Abdulkarim à agência AFP.

Os arqueólogos estimam que os segmentos mais antigos do templo de Baal-Shamin foram construídos por volta do ano 17, tendo sido expandido no ano 130, sob as ordens do imperador Adriano.

É um dos monumentos mais importantes de Palmira, a cidade conhecida como "Pérola do Deserto", considerada Património da Humanidade pela UNESCO desde 1980.

Apesar de já terem destruído várias estátuas – como a do leão de al-Lat, com três metros e altura e 15 toneladas, datada do século II e descoberta em 1975 –, esta será a primeira vez que o autoproclamado Estado Islâmico destrói um dos mais importantes templos do sítio desde a conquista da cidade, em Maio.

Na semana passada, os jihadistas decapitaram Khaled al-Assad, de 81 anos, responsável pelas antiguidades e pelos museus da cidade entre 1963 e 2003, e que continuava a ter um papel fundamental na sua preservação como consultor. Segundo os responsáveis do regime sírio e a Organização Síria dos Direitos Humanos, Khaled al-Assad foi executado porque se recusou a dizer onde estavam as centenas de estátuas que foram escondidas antes da chegada do Estado Islâmico a Palmira.

Poucos dias depois da invasão, os jihadistas divulgaram imagens do sítio arqueológico, aparentemente intacto, e garantiram que iriam preservar a maioria dos monumentos, como as imponentes colunas e o Templo de Bel – de fora dessa lista, e marcadas para serem destruídas, ficaram as estátuas dos "ídolos que os infiéis adoraram".

No mês passado, a directora-geral da UNESCO, Irina Bokova, acusou o autoproclamado Estado Islâmico de pilhar e destruir sítios arqueológicos e museus "numa escala industrial" – não só para promover uma "limpeza cultural", mas também para alimentar a sua máquina de guerra.

"Eles sabem que podem ganhar financeiramente com esta actividade, e estão a tentar fazê-lo. Sabemos que as partes em conflito vendem a determinados negociadores de arte e a coleccionadores privados", afirmou a directora-geral da UNESCO.