Donald Trump é o rei das sondagens, mas há quem preveja a sua desistência

Vários analistas acreditam que o magnata já atingiu o máximo de apoio e que começará a perder à medida que o número de candidatos for diminuindo.

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O magnata ultrapassa os 20% de apoio, mas dez pontos do que candidatos como Jeb Bush Brian Snyder/Reuters

O episódio "Bart to the Future" foi para o ar nos EUA há 15 anos, em Setembro de 2000, mas foi desenterrado nas últimas semanas por causa da actual corrida peculiar à Casa Branca no lado do Partido Republicano – se as sondagens fossem o único indicador do que poderá acontecer, então o magnata Donald Trump estaria bem posicionado para bater aos pontos os guionistas dos Simpsons e chegar à Casa Branca muitos anos antes do previsto.

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O episódio "Bart to the Future" foi para o ar nos EUA há 15 anos, em Setembro de 2000, mas foi desenterrado nas últimas semanas por causa da actual corrida peculiar à Casa Branca no lado do Partido Republicano – se as sondagens fossem o único indicador do que poderá acontecer, então o magnata Donald Trump estaria bem posicionado para bater aos pontos os guionistas dos Simpsons e chegar à Casa Branca muitos anos antes do previsto.

As primeiras eleições primárias do longo processo que vai terminar com a escolha dos candidatos oficiais do Partido Republicano e do Partido Democrata só vão realizar-se em Fevereiro do próximo ano, e a eleição decisiva está a um ano e três meses de distância. Mas uma coisa é certa – muitos analistas norte-americanos já sabem o que vai acontecer à candidatura de Donald Trump; o problema é que cada um tem uma certeza diferente da dos restantes.

Até à primeira vez em que os 17 candidatos à nomeação pelo Partido Republicano estiveram na mesma sala, há duas semanas, Trump era tratado pelos jornais e pela generalidade dos analistas políticos norte-americanos como uma piada que não ia durar muito tempo. Afinal, o magnata já tinha ameaçado concorrer à Casa Branca em várias ocasiões, e já em 1988, aos 42 anos (mais ou menos a idade de Bart Simpson no episódio sobre o futuro), dizia à apresentadora Oprah Winfrey que não punha de lado essa possibilidade.

Mas nas últimas duas semanas tem acontecido de tudo nas análises ao futuro político de Donald Trump, por causa de um fenómeno que apanhou muitos de surpresa: o candidato que antes não passava de uma piada continua a olhar para baixo em todas as sondagens, e em muitas delas até tem alargado o fosso que o separa de nomes como Jeb Bush, Marco Rubio ou Ted Cruz para margens superiores a dez pontos percentuais.

Numa primeira leitura, é tentador perguntar como pode o multimilionário continuar a liderar as sondagens depois de ter dito que todos os mexicanos que tentam passar a fronteira são violadores, e de ter defendido o fim do direito à nacionalidade a quem nasce nos EUA – em confronto com a 14.ª emenda da Constituição, ratificada há 147 anos, que garante a cidadania "a todas as pessoas nascidas ou naturalizadas nos Estados Unidos".

Mas, por estranho que pareça, a resposta a essa pergunta pode não ser uma boa notícia para Donald Trump.

Para Philip Klein, director-adjunto da revista conservadora The Washington Examiner, "apesar de Donald Trump manter uma liderança saudável nas sondagens para a nomeação republicana, há cada vez mais indícios de que ele já atingiu o seu máximo".

"Neste momento, entre 75% e 80% do eleitorado do Partido Republicano não está a apoiar Trump – e há dez candidatos muito próximos uns dos outros, dos 3,3% de Chris Christie aos 10,7% de Jeb Bush. À medida que o número de candidatos for diminuindo, outro candidato pode ultrapassar Trump", escreve Klein no site da Washington Examiner.

Uma ideia partilhada no Huffington Post pelo jornalista Mark Blumenthal, especialista em análise de sondagens e antigo consultor do Partido Democrata, para quem basta "uma combinação de aritmética básica e de introdução à Política" para se perceber que Donald Trump está "muito longe do apoio necessário para garantir a nomeação republicana em 2016".

"Neste caso, o estatuto de favorito de Trump é uma barreira: para ser o nomeado, um candidato tem de garantir o apoio da maioria dos delegados à convenção do seu partido. Vinte e cinco por cento não chega", considera Blumenthal.

Os exemplos são muitos: entre 1992 e 2012, um resultado a rondar aquele que Donald Trump apresenta nunca chegou para se ser nomeado candidato do partido, mas apenas para ficar em 2.º lugar. "Todos esses segundos classificados registaram algum sucesso, ou até mesmo vitórias, em pelo menos uma das eleições primárias, mas o apoio que tinham acabou por se revelar desadequado à medida que o número de candidatos foi diminuindo nas primárias seguintes, e os votos dos eleitores transitaram rapidamente para os candidatos que acabaram por triunfar", explica o jornalista do Huffington Post.

Talvez por isso – por Trump estar à frente nas sondagens mas não disparar acima dos 25% –, há quem continue a apostar que o magnata já nem será candidato em Fevereiro do próximo ano, quando arrancar o longo processo de escolha no Partido Republicano e no Partido Democrata.

"Até agora, Donald Trump tem beneficiado do facto de não ser levado a sério. Ainda ninguém se deu ao trabalho de investigar o passado de Trump, e por uma boa razão. Os democratas esperam que ele ganhe, e nenhum candidato republicano tem ainda interesse em fazer esse trabalho. Mas se Trump for mesmo a votos, isso vai mudar. E aí iremos descobrir coisas que não foram discutidas até agora", argumenta no site The Daily Beast Stuart Stevens, responsável pela campanha do republicano Mitt Romney nas presidenciais de 2012.

Para este analista, Trump está a "divertir-se", ao "pôr na ordem do dia os assuntos que lhe são mais caros, e a contribuir para uma discussão nacional".

"Não é necessariamente diferente do papel que um candidato muito distinto, Bernie Sanders, está a desempenhar no Partido Democrata. Mas o Bernie perdeu muitas batalhas públicas e acredita que há honra na derrota. Donald Trump acredita que ser derrotado é ser um perdedor. E fará tudo para afastar de si esse rótulo."