Custo da água em Alqueva faz do olival a cultura mais acessível
Pequenos e médios agricultores são os mais afectados pelos custos da rega. Uns regressam ao sequeiro, outros optam pelo olival, arrendam ou vendem as suas terras.
A alternativa passa pelo regresso ao sequeiro, pela venda ou arrendamento das terras, fenómeno que está a concentrar a propriedade nas mãos de empresas espanholas e portuguesas que investem, sobretudo, no olival superintensivo e intensivo.
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A alternativa passa pelo regresso ao sequeiro, pela venda ou arrendamento das terras, fenómeno que está a concentrar a propriedade nas mãos de empresas espanholas e portuguesas que investem, sobretudo, no olival superintensivo e intensivo.
Assiste-se ainda à redução e até ao abandono de culturas que exigem um grande débito de água entre os 10 e 12 mil metros cúbicos por hectare/ano, como as do milho, arroz, melão, pastagens, beterraba, para optar pelo novo olival que consome muito menos água, entre 2,5 e 3 mil metros cúbicos por hectare/ano.
“O olival aumenta porque gasta menos água” explicou ao PÚBLICO, Luís Mira Coroa, que faz regadio no perímetro de rega da Margem Esquerda do Guadiana. O agricultor salienta que para as culturas de milho, pastagens, arroz e beterraba “o preço da água é proibitivo”. Para além do custo da água, os agricultores em Alqueva ainda têm de pagar uma taxa de conservação de 50 euros por hectare regado. Alguns persistem no regadio “mas regam menos”, por causa do nível incomportável do tarifário, ou então fogem das culturas de ciclo longo (mais tempo na terra) para gastar menos água, salienta Mira Coroa.
Para superar o cepticismo inicial dos agricultores em aderir ao regadio do Alqueva, receosos pelo custo da água, o antigo ministro da Agricultura António Serrano anunciou em Abril de 2010 que o seu preço ia ser controlado por um período de seis anos. O tarifário previsto no despacho 9000/2010, estabelecia que os agricultores pagariam no primeiro ano apenas 30% do custo da água, o qual seria aumentado progressivamente.
O custo final varia entre os 0,42 cêntimos para rega em baixa pressão e os 0,58 cêntimos por metro cúbico, para alta pressão. Assim, e à medida que o preço se aproxima do valor máximo, “torna-se incomportável” sobretudo para os pequenos e médios agricultores refere Mira Coroa.
No perímetro de rega de Monte Novo, em Évora, Gonçalo Macedo, presidente da respectiva Associação de Beneficiários de Rega confirma que a área regada está a reduzir-se por causa do tarifário. “Já estamos a pagar a água a 60 cêntimos o metro cúbico” assinala. As plantações que consomem grandes quantidades de água registam “uma quebra” com a subida do preço da água, observa o dirigente associativo.
O relatório e contas da EDIA de 2014 acentua esta “redução”, neste caso de 365 hectares, com a saída de dois beneficiários “com peso nas culturas do milho e do melão.”
Gonçalo Macedo destaca a cultura do milho como a que regista a quebra mais acentuada. “O preço do cereal baixou e a água sobe” argumenta. A alternativa vai para a “produção de papoila (para extracção de ópio medicinal), olival, tomate e girassol” ou então os pequenos agricultores “arrendam por 300/400 euros/hectare” a terra aos espanhóis, garantindo assim um “baixo risco para o proprietário”, esclarece.
Noutra zona de Alqueva, próximo de Beja, onde as propriedade têm geralmente menor dimensão, Carlos Rosa, 46 anos, proprietário de uma centena de hectares, regressou ao sequeiro alegando não ter “capacidade para fazer regadio”. A maioria dos pequenos agricultores tem mais de 60 anos, explica, “e quem se safa nesta situação são os grupos espanhóis e portugueses”.
O agricultor diz que “é quase tudo olival entre Ferreira do Alentejo e Beja”, com base nas aquisições de pequenas propriedades. De acordo com a EDIA, na zona de Alqueva há mais de 20 mil hectares de pequenas explorações, com áreas médias na ordem dos 10 a 20 hectares.
A cultura da oliveira sofreu um novo incremento desde que o acesso ao crédito bancário se tornou mais fácil e se registou, em 2014, uma subida no preço do azeite que está a ter continuidade em 2015, realça Álvaro Labella, presidente da Olivum - Associação de Olivicultores do Sul. A opção preferencial dos agricultores vai para o olival superintensivo por garantir um retorno mais rápido do investimento realizado e oferecer melhores condições para a colheita mecânica.
Neste momento mais de metade da área de regadio em Alqueva está preenchida de olival, revela José Guerreiro dos Santos director e coordenador técnico da EDIA. Segue-se-lhe o milho com cerca de 7 mil hectares e as culturas hortícolas com apenas 250 hectares.
Segundo o Ministério da Agricultura o investimento feito no Alqueva no âmbito do Programa de Desenvolvimento Rural do Continente (ProDeR), no período 2007-2013, foi dominado pelo olival, com 164 milhões de euros (62% do total). Em seguida aparecem os cereais, com 26 milhões de euros (10% do total) e a vinha com 20 milhões de euros (7% do total).